Varejo opta por seguro para prevenir calote

  No momento em que o índice de desemprego continua em ascensão e o risco de inadimplência dos consumidores ainda mostra sinais de crescimento, os principais varejistas do País, como Ponto Frio, Magazine Luiza, Leader e Grupo Pão de Açúcar, passaram a intensificar a oferta do seguro de crédito durante a compra de seus clientes. Em geral, essas redes já contabilizam a presença deste serviço em 40% de suas vendas, e em alguns casos a procura espontânea representa quase 10% dessas adesões. No Ponto Frio, segunda maior do segmento de eletroeletrônicos e móveis do País, no braço de serviços financeiros PontoCred, resultado da joint venture com Unibanco Seguros & Previdência, a comercialização do seguro nas vendas a prazo foi iniciada em dezembro do ano passado. Neste mês, para alavancar as vendas no momento em que o consumidor está bastante cauteloso para gastar, principalmente em relação aos bens duráveis, a rede carioca decidiu lançar a campanha "Quitação Garantida", grátis nas compras acima de R$ 70. "Passamos a incentivar as compras com este produto há algumas semanas para trazer o cliente à loja e que ele consuma sem medo de crise ou do desemprego. A crise é dos outros", ressalta Elcio Gomes, superintendente de Negócios do PontoCred. Considerado também um reflexo dessa turbulência econômica, o seguro já faz parte de 40% das compras a prazo. Ele conta que para bancar este seguro aos clientes, a rede negociou bastante com a seguradora para conseguir um preço diferenciado. "Para nós [Ponto Frio] o serviço é interessante, pois se o cliente não quitar suas prestações, não ficamos no prejuízo e o cliente não tem seu cadastro negativado para efetuar novas compras." O serviço custa R$ 32, valor que pode ser diluído em até dez parcelas de R$ 3,20. Em conversa com as gerências regionais, Gomes avalia que a estratégia sensibilizou os consumidores, que até ficam contentes quando são informados do seguro gratuito em umas das 445 lojas da cadeia. Hoje, o Ponto Frio possui uma base formada por 1,2 milhão de cartões emitidos com a MasterCard. Em abril de 2010, quando a ferramenta completará dois anos de operação, a meta é estar com o dobro de plásticos emitidos. Na avaliação de Fábio Pina, assessor econômico da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio), a garantia de renda atual e futura é fator preponderante na confiança do consumidor. "Quando este índice cai, significa que não há segurança de liquidez do dinheiro. Como a probabilidade de ficar desempregado aumentou, a venda deste serviço está mais fácil." Pina acrescenta que, conforme a crise passa e o mundo não acaba, o nível de segurança das pessoas fica um pouco mais estável. Crescimento A Luizaseg, por sua vez, acredita que a crise será um argumento mais forte para conseguir aumentar o volume de seguros comercializados, que já perfazem 40% do total de vendas a prazo. A companhia - joint venture entre o Magazine Luiza e a seguradora Cardif - alcançou faturamento de R$ 97 milhões ano passado, valor 41% superior ao de 2007. "O público está mais sensível e tende a aceitar mais facilmente a oferta de um produto financeiro como este. Entretanto, o maior interesse do cliente pelo seguro ainda não foi traduzido em números maiores, mas a equipe de vendas está orientada para a nova realidade", almeja Luis Felipe Lebert Cozac, diretor-geral da joint venture Luizaseg. Na rede da família Trajano, o valor do seguro de crédito corresponde a 5% do valor da compra. "Nosso planejamento prevê crescimento de 20% neste ano em relação a 2008. É um número importante neste contexto de crise, que será alcançado com o lançamento de produtos como o terceiro ano de garantia estendida e o seguro contra furto e perda de celular", explica Cozac. Vestuário Outra carioca, a Leader, especializada em vestuário e utilidades domésticas, teve alta de 20% na venda do serviço nas 44 filiais de novembro de 2008 para cá. "A receptividade na oferta aumentou muito nos últimos meses", diz o gerente de Produtos e Novos Negócios, Frederico Tostes. De acordo com o gerente da empresa, esta média de crescimento deverá ser mantida este ano, visto que foi criada uma ação promocional com inserção na TV interna explicando o funcionamento do seguro. "Nossa equipe aumentou o esforço de captação neste período, em que a instabilidade econômica gera uma oportunidade de venda e rentabiliza o negócio", analisa o executivo da Leader. Conhecido como "Proteção Premiada", o seguro é vendido desde 2002 junto com o Bradesco e, além deste, existe outra modalidade voltada para trabalhadores informais. A rede afirma que 40% dos clientes com o cartão próprio da rede têm algum tipo de seguro. "O produto assegura nosso fluxo de caixa em ocasiões como desemprego ou roubo", diz Tostes. A gigante do setor, Casas Bahia, também é parceira do Bradesco, assim como o Pão de Açúcar com o Itaú, por meio da Financeira Itaú CBD (FIC), que concedeu seguros gratuitos aos clientes nos meses de dezembro e janeiro. O Carrefour possui banco próprio. Procuradas, as empresas não detalharam suas ações. Fonte: DCI