Encontro da FenaPrevi: previdência pode contribuir mais para financiamento privado de longo prazo

O modelo de financiamento às empresas, hoje liderado pelo BNDES, tende a dar sinais de exaustão nos próximos anos, propiciando caminho para a captação de recursos via mercado de capitais. O entendimento é de que o banco de fomento terá cada vez menos funding para atender a demanda crescente das empresas, tendo em vista que tais operações são onerosas para o Tesouro Nacional, encarregado de capitalizar o BNDES. 

Até agora, a predominância dos repasses via BNDES é incontestável. No ano passado, o BNDES repassou R$ 168,4 bilhões, enquanto a capitalização das empresas por meio de emissões de ações, 75,2 78 bilhões (excluindo-se aí o aporte do governo na Petrobras no valor de R$ R$ 74.8 bilhões). Além da desaceleração do crescimento dos financiamentos do BNDES, haverá também esgotamento do funding do Sistema Financeiro Habitacional e limites na capacidade de autofinanciamento das empresas, abrindo as portas para o mercado de capitais. 

As observações são do economista Bernard Appy, atual diretor de Pesquisa e Projetos de Negócios da BM&F Bovespa e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, ao apresentar palestra durante o IV Encontro Nacional da Fenaprevi, reunião anual de presidentes e executivos de seguradoras de vida e previdência, ocorrida na semana passada (de 3 a 6) na Bahia, para discutir e avaliar o cenário de curto, médio e longo prazos do mercado.

O economista acredita que o mercado de capitais (doméstico e externo) deverá ter crescente participação no financiamento do investimento privado, equivalente a 18,1% do PIB entre 2010/2014. Representando 3,3% em 2009, o mercado de capitais poderá responder por uma media de 3,9% dos financiamentos privados entre 2010/2014 e de 5,7% de 2015/2019. A presença do investimento estrangeiro direto (IED) tende a oscilar entre 1,9% (2010/2014) e 2% (2015/2019). Já o BNDES, que financiou 3,4% dos investimentos privados em 2009, deverá ver sua participação declinar para 2,4% do total entre 2010/2014, arrastando-se para 1,8%, na média, de 2015 a 2019. 

Nesse cenário, aproveitando-se da condição de investidor institucional do mercado segurador, o especialista exorta os representantes das seguradoras a investir mais na bolsa de valores. Ele está convencido de que as entidades de previdência privada e vida, que hoje ostentam mais de R$ 200 bilhões em reservas técnicas, podem e terão de alocar mais no mercado de capitais. Isso porque, embora os juros ainda elevados criem uma situação de conforto na aplicação dos recursos em títulos públicos e renda fixa, a perspectiva é de que haja uma provável queda nos juros nos próximos anos, exigindo a realocação dos portfólios das seguradoras para ativos de maior retorno e risco. “A consolidação da estabilidade e a queda dos juros induzem os investidores institucionais a diversificar o portfólio”,  disse ele.

Além do conservadorismo do mercado segurador ser uma conseqüência direta de restrições regulatórias válidas para as reservas técnicas - o teto é de 49% em ações- Appy observa que mesmo nos recursos livres das seguradoras há uma tendência a cautela, evitando-se uma grande exposição no mercado acionário. Confiante de que, no futuro, a regulamentação do  mercado deverá ser flexibilizada, Appy acredita que o mercado de seguros e de previdência privada aberta poderá contribuir de forma relevante para o desenvolvimento do financiamento privado de longo prazo no Brasil.