Tornar Brasil um gigante no microsseguro é uma prioridade

Tornar o Brasil um gigante em microsseguros está nas prioridades da iniciativa pública e privada do Pais. Regina Simões, diretora da Superintendência de Seguros Privados (Susep), disse que a regulamentação do segmento vem sendo amplamente discutida desde 2004 e que deve estar aprovada no primeiro semestre de 2012. “Em 2010, o processo foi atropelado por uma série de razões, mas agora em 2011 o tema microsseguros voltou a constar na pauta de prioridades da Susep, e devemos entregar até final do mês um proposta de regulamentação para ser avaliada no âmbito do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP)”, informou.

Segundo ela, a nova proposta de regulamentação foi construída com base nas normas vigentes. Mais de 90 normas foram analisadas, e a conclusão foi de que a legislação brasileira é flexível para ser regulamentada por resoluções do CNSP. “A restrição se dá na forma jurídica, em razão de apenas companhias abertas poderem atuar como seguradoras”, informa.

Assim, o grupo partiu para escrever normas focadas no estabelecimento de canais de distribuição, padrões mínimos de produtos, com valores mínimos de preço e indenizações, tempo máximo para o cliente ser atendido e também de corretores especializados. Incentivo fiscal, um tema importante nesse segmento, está fora da esfera da Susep. A Índia, país onde há forte subsídio governamental, concentra 50% dos 500 milhões de pessoas no mundo que compram microsseguro.“A ideia é dar padrões estabelecidos, como tipos de produtos e coberturas que poderão ser segurados, limite máximos de capital, prazo de pagamento de indenização, formas de comercialização simplificadas, capital mínimo diferenciado para abertura de seguradora especializada e exigências de documentos necessários para validar o contrato”, enumerou Regina Simões. Na minuta, a exigência é de 20% do valor mínimo das seguradoras tradicionais.

Mesmo sem ainda ter oficialmente um mercado de microsseguros, do ponto de vista regulatório, algumas seguradoras já montaram laboratórios para testar produtos e a viabilidade da operação. A Bradesco, uma das apoiadoras da 7ª Conferencia Internacional de Microsseguros, realizada no Rio de Janeiro entre 8 e 10 de novembro, informa que será a primeira seguradora a vender seguro por celular no Brasil. “Também estamos desenvolvendo a venda porta a porta com as vendedoras Avon, treinando corretores especializados e capacitando agentes dos correspondentes bancários”, disse Eugênio Velasques, diretor da Bradesco e um dos principais entusiastas do microsseguro no Brasil.
Segundo Velasques, esse nicho da população não será receptivo com marketing tradicional. “Vamos ter de priorizar a educação financeira, que traz retorno a longo prazo. Não estamos preocupados em vender hoje. Estamos preocupados que as pessoas comprem bem um seguro de US$ 2 hoje para que elas comprem US$ 20 em proteção amanhã como consequência de ter construído um patrimônio por ter tido orientação. Essa é a nossa prioridade”, ressalta Velasques em sua palestra.

A aposta do grupo em microsseguros, segundo ele, é uma consequência da natural dedicação do grupo ao menor renda. “Temos 40 mil pontos de vendas no Brasil, que atendem a 66 milhões de clientes. Pesquisa e tecnologia também são o nosso forte”, acrescenta. Em tecnologia, o Bradesco tem estrutura parruda, com o processamento de 212 milhões de transações por dia. “Isso mostra como estamos preparados para trabalhar em um ambiente de grande demanda, como o microsseguro, um produto de baixo tíquete e enorme volume”, destaca Velasques.

Ele conta que este ano o Bradesco já fez mais de 80 pesquisas para saber o que a população quer. “Só ofertando o produto certo teremos sucesso na nossa abordagem”, afirma. Segundo ele, as pesquisas ajudam muito na condução do negócio. “A necessidade de um futuro cliente no Nordeste é muito diferente daquele que mora no Sul do Pais”.

Segundo ele, nessas pesquisas, o primeiro paradigma foi parar de falar em seguro e começar a falar em proteção. O segundo paradigma quebrado revelado na pesquisa para saber que tipo de risco aflige a pessoa de menor renda. “Não é saúde que o aflige. Esse risco é o último da lista”. Os riscos mais temidos pela população de menor renda entrevistada são de morte acidental, desemprego e funeral. “E não adianta vender barato. Se vender barato, ele pode descartar e não recomendar. Se o produto é desenhado de acordo com as características levantadas, o atendimento poderá ser absorvido pela estrutura da empresas, que comporta o cliente de alta renda e o de menor renda”, entende Velásquez, para quem a classe E tem de ser uma prioridade do governo federal.

A conclusão de Maria Victoria Saenz, especialista em processos e presente na mesa de debates, foi de que o Brasil teve um longo processo de discussões até que o setor descobrisse a melhor forma de caminhar. “Os estudos privados e públicos têm a mesma conclusão. Mostram as tendências necessárias para o desenvolvimento do mercado, fornecem exemplos de incentivos fiscais que podem ser adotados, criam regulamentação específica para suportar esse novo mundo que começa a surgir no Brasil. O resultado estão nos produtos mais adequados que já começam a ser lançados, na regulmentação que esta por vir nos próximos meses e assim tornar o sistema mais sólido com pessoas mais educadas financeiramente.”

Fonte: Viver Seguro