Lucro a qualquer custo não torna empresas sustentáveis, diz especialista

Embora a rentabilidade seja o foco dos investidores, já está provado que o lucro a qualquer custo não torna as empresas sustentáveis. Assim Maria Eugênia Buosi, da Quintessa, começou sua palestra, afirmando que as discussões sobre práticas sustentáveis no Brasil crescem a cada dia. “Fico muito feliz de ver a participacão das seguradoras nesse tema. Afinal, as seguradoras são parte integrante da sustentabilidade do mundo”, afirmou a jovem executiva, que trabalha desde 2006 com o tema sustentabilidade.

No workshop promovido pela CNseg sobre sustentabilidade na manhã desta terça-feira, Maria Eugênia citou a forte queda do valor das ações da BP, em razão do vazamento de petróleo e da Newscorp, controladora de diversos meios de comunicação do Reino Unido, entre eles "Sun", o "Times", o "Sunday Times em razão do escândalo de grampos. “Isso mostra que a sustentabilidade chegou ao mundo financeiro. Os investidores levam em consideração os riscos que podem tirar a rentabilidade dos ativos. Ninguém pode perder dinheiro hoje em dia e por isso a gestão de risco é prioritária”, disse a palestrante.

Segundo ela, até mesmo o lançamento da nova linha da calçadista Arezzo, na qual havia meia dúzia de peças com pele de raposa, gerou perda para as ações. Um pequeno grupo iniciou no Facebook um manifesto contra, e, rapidamente, as ações da empresa recuaram, numa clara percepção dos investidores de que aquilo não iria agradar os consumidores e consequentemente reduziria as vendas. “Foi a primeira vez que trabalhei o dia todo no Facebook para acompanhar o episódio”, afirmou.

Segundo ela, o grande desafio das seguradoras, como investidoras institucionais, é incorporar os princípios da sustentabilidade na gestão de investimento. Seja pela seleção dos ativos, seja engajamento em contribuir para o bem social. Uma empresa pode optar por não comprar uma ação por ela ter problemas e riscos significativos, ou pode optar por comprar a ação e atuar de forma proativa na gestão das empresas para que elas mudem aquilo que pode gerar uma perda aos investidores. “Muitos de vocês que escolhem um portfólio de investimentos podem ter uma atuação pro ativa e ajudar a construir um mundo mais sustentável”, afirma Maria Eugênia, que participou da criação do Fundo Ethical, administrado hoje pelo Santander.

O fundo, que só aplica em empresas consideradas sustentáveis, acaba de completar 10 anos e acumula, no período, uma rentabilidade bem superior a do Ibovespa.
Trata-se ainda de um tema iniciante dentro do mercado financeiro, mas a cada dia ganha mais adeptos. “Em cinco anos ficou mais fácil dialogar com o mercado financeiro sobre esse assunto”, comemora. Uma das provas disso é a adesão das instituições financeiras no PRI, Principles for Responsible Investment, da Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo ela, o PRI foi desenvolvido em 2005 por um grupo de representantes de 20 investidores institucionais de 12 países em conjunto com o ex-secretário geral das Nações Unidas, Kofi Annan. O processo é coordenado pelo Programa de Iniciativa Financeira para o Meio-Ambiente das Nações Unidas (UNEP FI) e o Pacto Global das Nações Unidas e conta hoje com mais de mil signatários no mundo.

A iniciativa também apoia os investidores a trabalharem juntos a fim de se voltarem para os problemas sistêmicos que, corrigidos, podem levar a condições de mercado mais estáveis, responsáveis e lucrativas, de modo geral. Os fundos socioambientais já têm forte apelo entre os investidores institucionais. Apenas considerando-se as signatárias do PRI, o volume total de ativos chega a US$ 30 trilhões. Desses, 50% são de assets, 28% de proprietários de ações e 25% empresas de serviços financeiros, onde se incluem as seguradoras.

A tendência mundial é de que os fundos responsáveis vão se tornar o principal investimento até 2014 na Europa e nos Estados Unidos. O Brasil com certeza seguirá essa tendência. Muito menos a indústria de seguros, que vai aderir aos Princípios para o Desenvolvimento Sustentável de Seguros, uma iniciativa do Programa das Nações Unidades para o Meio Ambiente.
A adesão será celebrada na Rio+20, conferência que será realizada de 20 a 22 de junho no Rio de Janeiro, e representará um compromisso público de longo prazo do setor de seguros com o desenvolvimento sustentável. “A iniciativa das Nações Unidas de estabelecer princípios para o Desenvolvimento Sustentável de Seguros está alinhada com o que o mercado segurador brasileiro tem defendido ao longo dos anos e, por isso, fortalecerá a cultura e a disseminação deste conceito no mercado nacional”, diz Solange Beatriz Palheiro Mendes, diretora-executiva da CNseg, organizadora do evento.


Fonte: Viver Seguro OnLine