Polícia investiga o paradeiro de 100 veículos

FLORIANÓPOLIS - Um dia depois do indiciamento de seis pessoas pelo desvio de peças e motores do complexo administrativo da Secretaria da Segurança Pública (SSP), em São José, uma nova suspeita agora gira em torno do destino desconhecido até mesmo das autoridades de mais de 100 veículos apreendidos que saíram do mesmo local.

Eles fazem parte de um lote de cerca de 380 carros, a maioria sucateada, que saiu do então abarrotado complexo de São José no ano passado. O destino deles foi um pátio da SSP numa área rural na localidade de Tijuquinhas, em Biguaçu.

O motivo da transferência teria sido o processo de destinação de sucata para trituração feito pela SSP, a iniciativa em que os policiais da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) acabaram descobrindo o suposto desvio de peças e motores.

O delegado Alexandre Carvalho, da Deic, afirma que, na mesma investigação, recebeu denúncia sobre uma conta que ainda não fecha. De acordo com o policial, existe uma divergência sobre a destinação do lote de 380 carros mandados para Tijuquinhas.

Isso porque a relação dos que foram para a trituração ou que retornaram para o complexo de São José não fecha com a quantidade original. O delegado diz que recebeu denúncia a respeito da divergência e instaurou uma investigação preliminar. Segundo Carvalho, a denúncia foi uma das razões do atraso na conclusão do inquérito do desvio das peças.

– Vamos pedir informações à empresa responsável pela trituração. Se isso não ficar claro e houver indício de irregularidade, a medida será a abertura de um outro inquérito policial para apurar o que aconteceu.

A polícia tem a lista de veículos que saíram do complexo de São José, dos que retornaram de Tijuquinhas e fotos dos que foram para a trituração.

O secretário-adjunto da SSP, coronel Fernando Rodrigues de Menezes, indiciado no caso do desvio de peças, por peculato e fraude, disse desconhecer a nova denúncia que, para ele, é assunto da Comissão de Leilões do Detran. A comissão foi destituída em abril pela SSP por irregularidades.

Área rural e alagamentos


O pátio de Tijuquinhas, em Biguaçu, ficava numa imensa área rural a céu aberto ao lado de um riacho e a dois quilômetros da BR-101.

No ano passado, o local foi inundado pelo excesso de chuvas, e os carros apreendidos – que já estavam em condições precárias – tornavam-se ainda mais deteriorados.

O depósito não existe mais. A reportagem encontrou, ontem, no lugar, apenas dois cavalos e nenhum carro apreendido. O local continua cercado. Moradores afirmam que, enquanto a área serviu como pátio, a segurança era feita por policiais militares que ficavam num ônibus estacionado em frente ao terreno.

Os policiais civis afirmam que uma das dificuldades da investigação agora é checar a quantidade de carros que foram para a trituração e o peso do material deslocado, pois eles eram prensados por máquina antes de serem removidos para a empresa que ganhou a licitação.

O inquérito que apura o desvio de peças, que gerou o indiciamento de seis pessoas, entre elas o coronel Fernando Rodrigues de Menezes, será agora analisado pela promotora Márcia Aguiar Arend, da promotoria da moralidade administrativa. Márcia – que é ex-secretária-adjunta da Secretaria de Justiça e Cidadania do atual governo – tem prazo de 30 dias para fazer uma primeira manifestação ao juiz a respeito do conteúdo da apuração da Deic.

“Eles não sabem identificar onde está esse erro”

O gerente do complexo administrativo da SSP em São José, Jorge Klöppel, afirma que não sabe o que ocorreu com os mais de 100 veículos apreendidos. Ele falou com a reportagem, por telefone, ontem à tarde.

Existe essa divergência de números envolvendo a saída e retorno dos veículos nos pátios?

Jorge Klöppel – Segundo a comissão de recebimentos de veículos, existe essa divergência. Eles não sabem identificar onde está esse erro.

Quantos veículos seriam?

Klöppel – Exatamente eu não tenho certeza, mas é uma quantidade razoável, mais de 100 veículos.

Por que eles foram levados para o depósito em Tijuquinhas?

Klöppel – Para poder ajeitar o terreno (do complexo de São José), trabalhar com os veículos, ter mais espaços. Foram levados para lá (Tijuquinhas) 383 veículos. Destes, apenas 63 retornaram. E, pelo que pude identificar pelas fotos que tenho de Tijuquinhas, nas sete pilhas de carros que foram prensados eu consegui identificar 120 que teriam ido para a Gerdau.

E o restante?

Klöppel – Nem imagino o que ocorreu. De repente tenha voltado e está perdido lá no meio dos outros.

Mas isso não revela uma falta de controle?

Klöppel – Exatamente, um descontrole. Inclusive na relação que a Deic pediu informação das peças, ali já mostra um descontrole que nem a própria comissão de leilão sabe quais foram os carros prensados.

Fonte: Jornal de Santa Catarina