Cidade recomposta

Não era o movimento de uma segunda-feira qualquer: cada um acelerado na própria rotina. Era uma Blumenau em suspenso. Sem aulas e sem o trabalho em ritmo de dia útil. Mais uma vez a cidade direcionou a mão de obra – independente de estar acostumada ao trabalho braçal – para limpar os vestígios que o Rio Itajaí-Açu e seus ribeirões deixaram sobre a cidade. As ruas começaram a ficar livres da lama pelo Centro, enquanto o trânsito estava interrompido. Muitas casas tomadas pelas águas já estavam limpas menos de oito horas depois de o rio ter subido ao nível máximo de 10m51cm, às 2h de ontem.

Às 11h, o piso da casa nº 327 da Rua 1º de Janeiro, Bairro Itoupava Norte, estava úmido da faxina recém terminada. A casa, completamente vazia. E, não fossem as sombras leves deixadas pelos móveis na cozinha, sala, banheiro e quartos, qualquer um diria que o imóvel nunca foi habitada. Mas é. Há cinco anos. Ali, o dono da casa, o supervisor de manutenção Fabiano Nestor Amaral Montibeller, 33 anos, já passou pela enchente de 2011.

E hoje, quando o piso e as paredes pararem de verter água e a enchente sair da frente do portão de casa, ele deve voltar trazendo todos os móveis guardados em 79 metros cúbicos de um baú de caminhão. Mas fazer uma mudança – mais o recolhimento dos móveis da casa da mãe que mora aos fundos – cansa. Foram 48 horas de trabalho seguido para salvar tudo que tinha, com a ajuda da irmã e de um vizinho.

– Os moradores daqui já sabem como funciona: quando a água chega no campinho ali da frente, temos que tirar tudo. Se esse não fosse um lugar privilegiado, já teria sumido.

Mais de 12 mil foram afetadas

Rapidamente, a comerciante Mayara Lira, 20 anos, se recuperou da enchente de domingo e ontem já carregava tudo de volta para a loja invadida por meio metro de rio. Ela foi uma das 12.621 pessoas afetadas com a cheia do Itajaí-Açu. Ontem de manhã, relocou as mercadorias e móveis na sala da Rua Vereador Romário da Conceição Badia, também na Itoupava Norte. Em 2011, Mayara já havia se antecipado à cheia e colocou a mercadoria de volta no andar de cima. Ainda assim, perdeu alguns itens. Desta vez, resolveu se antecipar mais: sexta feira, esvaziou a loja e levou tudo para casa, em Indaial.

– Quando comprei aqui, já sabia que poderia pegar água. Então, sempre fico atenta, prestando atenção nas notícias – conta Mayara.

O comerciante Francisco Carlos Tlach, 56 anos, tem degraus na porta do pet shop que fica na Rua Antônio da Veiga para amenizar as enxurradas. Esta rua foi uma das 149 afetadas com a cheia em Blumenau. Com um lava-jato, removia a sujeira antes que a lama secasse na calçada. Tlach conta as enchentes: foram seis, em 25 anos de comércio no mesmo lugar. Desta vez, ele não perdeu nada.

– Não adianta, quem é blumenauense tem que se acostumar com enchente e enxurrada. E anota aí: na hora da enchente, o blumenauense ajuda, porque um monte de gente veio aqui me ajudar a tirar as coisas da loja. E, depois que passa, todo mundo volta para a sua vida – relatou

Fonte: ClicRBS