Falta de infraestrutura para inovar torna Brasil o país da inovação zero

Na primeira reportagem da série Startups, o Jornal da Globo mostrou que a vida de uma startup começa com a venda da ideia e a conquista de investimento.

A empresa da Cristina Cho, a Hello Universe, conseguiu e recebeu R$ 100 mil para começar um negócio. Com dinheiro na mão e uma ideia promissora, o que poderia dar errado?

Em 2013, visitamos a Cristina. Ela tem muitos amigos e familiares que não falam nem entendem português. É comum Cristina receber ligações de “desespero”. Incontáveis vezes ela serviu de tradutora por telefone.

Foi dessa prática que nasceu a ideia de negócio: um serviço telefônico com tradutores de várias línguas à disposição, uma central para qual basta ligar e pedir a ajuda de alguém para traduzir qualquer coisa. E a startup começou na garagem da casa da Cristina mesmo.

Ideia boa, potencial melhor ainda. Em maio de 2013, a equipe estava de olho nos turistas da Copa do Mundo. Gente que poderia precisar de muita ajuda para se virar no Brasil.

Faltava pouco mais de um ano e a Copa chegou, trouxe 1 milhão de estrangeiros. Enquanto eles passeavam pelas ruas brasileiras, a equipe ainda corria para lançar o serviço.

Reencontramos a Cristina em junho de 2014. Era o dia de estreia do aplicativo HelloUniverse, como foi batizado. Quase duas semanas depois de o Mundial começar, o que causou tanto atraso?

“Problemas com infraestrutura primeiro e, segundo, a velocidade do desenvolvimento. Não que não tenhamos profissionais competentes aqui no Brasil. Nós temos, mas o problema era velocidade”, conta Cristina Cho, sócia da Hello Universe.

“Nós não temos no Brasil uma formação em escala de profissionais para fazer tecnologia de ponta. A gente tem alguns setores, mas nós não temos em escala como tem, por exemplo, na Coreia, no Vale do Silício ou em Israel. Então, infelizmente a gente está um pouquinho atrás desses países”, diz Geraldo Carbone, investidor de startups.

Mas esse é só um dos problemas brasileiros. Investidores costumam dizer que as startups estão no Vale da Morte. Nove em cada dez morrem antes de crescer e virar uma empresa adulta. E isso é porque não basta conseguir o dinheiro e identificar uma oportunidade. Para que o esforço não seja em vão, é preciso criar um produto que faça a diferença para os consumidores.

Na Alemanha, 14,7% das novas empresas estão lançando um produto ou serviço completamente inovador, que ninguém conhece. Na China, são 16,7%. Nos EUA, 18,3%. Agora atenção para o número brasileiro: de tudo o que criamos aqui, 0% é completamente novo. Somos o país da inovação zero.

“Sem inovação você não consegue estabelecer uma competitividade, principalmente na competitividade global. O Brasil hoje muitas vezes se sustenta nos seus negócios, nas suas empresas, através das famosas barreiras alfandegárias e barreiras tributárias. A gente não pode mais pensar em sobreviver dessa forma. A gente tem que pensar que a gente está em um mundo globalizado e as empresas têm que ser aptas a competir em qualquer lugar do mundo”, afirma Cassio Spina, fundador da Anjos do Brasil.

A mesma pesquisa aponta alguns fatores que limitam a inovação no Brasil. Em um grupo de mais de 80 especialistas consultados no país, 80,2% apontam as atuais políticas governamentais (burocracia e sistema tributário, por exemplo) como uma restrição ao empreendedorismo.

44% por cento indicam a falta de apoio financeiro e quase 41% citam a falta de educação e capacitação dos próprios empreendedores.
“A gente acaba inovando pouco, quando a gente fala de inovação em escala global, e sendo mais copiadores do que inovadores”, afirma Geraldo Carbone, investidor de startups.

Para sobreviver, a equipe da Cristina teve de dar um jeito. Viajou até a Coreia do Sul, um país onde se respira tecnologia e que tem a maior velocidade de internet do mundo, oito vezes mais rápida do que a do Brasil. Coube a uma equipe de jovens coreanos desenvolver o aplicativo da startup.

“O que demoraria aqui no Brasil dois anos no mínimo, porque é uma solução complexa, lá a gente conseguiu terminar em duas semanas”, conta Cristina Cho.
Pelo aplicativo, o cliente se cadastra e escolhe a língua para qual precisa de tradução. O programa faz uma ligação para o tradutor e o cliente paga por minuto de serviço usado. A próxima etapa é começar a vender. Será que dá para ganhar dinheiro com isso? “Tenho medo que vai explodir muito, até arrepiei”, diz Bruno Koo, sócio da Hello Universe.

Na terceira reportagem da série: Onde estão as oportunidades brasileiras? O pessoal de uma startup encontrou um tesouro debaixo d’água e quer criar uma Amazon do agronegócio.

Fonte: SeguroGarantia.net  Jornal da Globo