Presidente da CNseg é homenageado em almoço do CVG no Rio

“O setor segurador é intrinsecamente vinculado ao desenvolvimento da economia e da sociedade. E nós soubemos aproveitar esses últimos 15 anos em que o País, independentemente de preferências políticas, ideológicas, sociais ou de qualquer outra natureza, teve, efetivamente, um desenvolvimento formidável dos agregados macroecon?micos, seja o produto interno, seja a renda, seja o emprego,”. Assim começou a apresentação do presidente da CNseg, Marcio Coriolano, durante almoço em sua homenagem oferecido pelo Clube Vida em Grupo do Rio de Janeiro – CVG-RJ, ocorrido nesta terça. “Mas, por outro lado, à medida que esses fundamentos se enfraquecem, nosso mercado também é atingido”, prosseguiu.

Tendo como título “O atual cenário e as perspectivas do mercado de seguros”, a palestra do presidente da CNseg abordou também outros elementos que contribuíram para a evolução do setor no período citado, como o aprimoramento de suas regras de constituição de provisões, o elevado nível de solvência que possui, a substancial melhoria dos mecanismos de controle e o elevado nível de profissionalização do mercado.

A partir de 2015, entretanto, a conjuntura brasileira já não era a mesma. O IPCA fechou o ano em 10,67%, o dólar a R$3,84, depois de ter chegado a R$4,10, e o PIB decresceu 3,8%. A taxa de desemprego, que já estava ruim, tendo sido de 4,8% em 2014, pulou para 6,9% em 2015 e, segundo os índices divulgados nesse final de semana, atingiu agora a marca de 10,2%, podendo chegar a 11,5% até o fim do ano.

Mas, segundo Marcio Coriolano, apesar desses números, o mercado segurador, com sua resiliência, ainda demorou mais que outros segmentos da economia para sentir mais fortemente os impactos da crise. Em 2014, o setor fechou com R$327 bilhões em prêmios emitidos e, em 2015, esse valor cresceu em 37 bilhões, atingindo a marca de R$374 bilhões. Enquanto a produção industrial encolheu 8,3%, a produção de bens de consumo duráveis caiu 18,7% e a produção de veículos novos caiu 22,8%, o setor segurador fechou 2015 com crescimento de 11,2%. A saúde suplementar cresceu 11,12% em número de beneficiários em 2015, à medida que a população brasileira cresceu menos de 1%. Os planos de acumulação, mais especificamente o PGBL e o VGBL, foram o outro segmento do setor segurador com bom desempenho no ano passado. Mas esse dois foram os únicos. “A capitalização teve um desempenho negativo, assim como o seguro nos ramos elementares e os planos de risco de vida”, disse Coriolano. “A mensagem é: estamos com um problema”.

E para superarmos essa crise, que também é conhecida como mãe das oportunidades, segundo ele, um dos pontos considerados prioritários é o da educação para o consumo de seguros. “Mais que educar os consumidores, nosso papel é educar os gestores de políticas públicas, que não conhecem nosso setor e não enxergam a contribuição que podemos dar. Precisamos fazer um trabalho duradouro e profundo sobre o que são os fundamentos do nosso negócio, sobre os direitos e deveres dos consumidores e como a sociedade se beneficia do setor”, afirmou Coriolano. “Temos que levar nossa mensagem para o Executivo, Judiciário, Legislativo, MP, ou seja, para os setores que decidem sobre nossos destinos e que, muitas vezes, não entendem precisamente que destino é esse”, completou.

Marcio Coriolano anunciou que a CNseg prepara um novo planejamento estratégico, que contará com algumas propostas para o governo, “necessárias nesse período de dificuldades, em que não temos os fundamentos da economia a nosso favor”.

A primeira proposta é a de uma estabilidade regulatória, com o estabelecimento de normas que ajudem o setor a ser mais criativo, oferecendo mais possibilidades de aproximação com os consumidores. Como exemplo positivo, citou o Seguro Auto Popular, recentemente aprovado pela Susep, “apesar de ainda não ter chegado ao ponto que queríamos”. Nessa linha, ele cobrou do órgão regulador a liberação do PreviSaúde.

A ampliação dos canais de acesso também é fundamental para a superação da crise e, nesse aspecto, a necessidade, de permissão, por parte do órgão regulador, da comercialização do seguro pelos meios digitais. “O mundo virou de cabeça pra baixo e a gente não pode manter esses padrões conservadores”.

A redução dos custos de observância, que são os custos para o cumprimento das normas, também foi outro ponto citado. “Precisamos exigir da autoridade reguladora o estabelecimento de exigências regulatórias por meio de análise de custo/benefício. Na ANS, conseguimos ter um avanço significativo nessa matéria e esperamos o mesmo na Susep.”

Outro item da proposta da CNseg é o da comunicação e educação em seguros, já citada. “Nosso segurado não precisa aprender a fazer conta, não precisa aprender como abrir conta bancária, o que precisa é entender exatamente o que é mutualismo e outros importantes fundamentos de setor”. Além disso, ainda há pouco entendimento por parte da população, por exemplo, sobre o grande impacto que o aumento da longevidade terá nos sistemas públicos de previdência e saúde.

Coriolano também considera fundamental o estabelecimento de uma regulação contra-ciclica , que leve em consideração o comportamento dos ciclos econômicos, sendo mais parcimoniosa nos ajustes em momentos de retração, privilegiando medidas que fomentem o crescimento e a inovação.

Já encerrando sua apresentação, o presidente da CNseg falou sobre a importância dos corretores de seguros que, cada vez mais, têm papel fundamental no desenvolvimento e penetração do mercado de seguros no Brasil. “O consumidor está em um momento de alta fragilidade. Ele já perdeu renda, pode perder emprego e tem um nível de confiança mais baixo. É exatamente nesse momento que ele mais precisa de alguém para lhe aconselhar e indicar o melhor caminho”. Mas a aproximação com os consumidores, segundo Coriolano, não pode mais ser como era até então, quando bastava chegar, olhar, perguntar a renda, as preferências e apresentar o projeto. “Agora, vai ser preciso entender quem é esse consumidor, qual sua preferência, qual produto pode caber no seu bolso e o que lhe falta”.

“Assim, quando novas políticas econômicas e sociais recolocarem o Brasil nos trilhos, não tenho dúvidas que o mercado segurador voltará a crescer, mas até lá, só depende de nós!”, conclui.

Fonte: CNseg