A motocicleta é um meio de transporte que deixa muita gente sem condições de andar

Há dez anos fizemos um alerta de que os acidentes com motocicletas, por suas sérias consequências, seriam o problema mais grave de segurança no trânsito brasileiro em poucos anos. Essa previsão já se confirmou há pelos menos cinco anos e os números são cada vez mais dramáticos, mas continuamos sem nenhuma política que ao menos reduza o número de vítimas.

Quando o Código de Trânsito Brasileiro estava para ser promulgado, em 1997, retiraram a proibição de circulação das motocicletas pelo chamado corredor, espaço que fica entre os veículos, que acabou se tornando o corredor da morte. Com isso abrimos a brecha para os fabricantes de motocicletas enfatizarem as vantagens das motos no trânsito caótico dos grandes centros. Pelo preço das motocicletas de baixa cilindrada, ficou fácil massificar seu uso e depois invadir o interior do Brasil, tão carente de transporte. Hoje os veículos de duas rodas são usados até na roça e transportam, muitas vezes, famílias e não apenas indivíduos.

Nesse sentido, os números do DPVAT oferecem uma sucessão de alertas inestimáveis. No ano passado 76% das indenizações pagas pela Seguradora Líder, que administra o DPVAT, foram para acidentes envolvendo motocicletas, apesar deste veículos representarem apenas 27% da frota nacional. Foram mais de 580 mil vitimas em acidentes com motocicleta, o equivalente a população de cidades como Cuiabá, Porto Velho, Londrina, Niterói, Joinville. Sendo que mais de 350 mil vítimas ficaram com invalidez permanente. É como se todos os habitantes de Vitória, capital do Espírito Santo, ficassem inválidos. E a cada ano temos uma nova cidade desse porte na mesma condição.

A equipe técnica do DPVAT tem levado essas informações às autoridades, em todas as esferas, federal, estadual e municipal. A imprensa tem divulgado inúmeras matérias sobre a dimensão do problema, mas a sociedade continua atônita e passiva assistindo essa sucessão de tragédias com impacto humano colossal, sem falar os custos para a economia do país de manter tanta gente inválida.

Não adianta mais soluções paliativas, é preciso radicalizar para tentar literalmente estancar o sangue dos acidentes com motocicletas. Na nossa avaliação, é fundamental mudar a legislação do trânsito para que não tenhamos mais circulação de motocicletas no chamado corredor. Lógico que isso vai gerar uma grande revolta dos proprietários desses veículos, mas para salvar vidas, às vezes precisamos radicalizar.

As fiscalizações quanto ao uso de capacete, condições da motocicleta, documentação, habilitação, pagamento do IPVA, DPVAT, tudo isso tem que ser controlado com um rigor literalmente radical. Da mesma forma, não pode haver nenhum incentivo a fabricação de motocicletas, principalmente de baixa cilindrada. Não é possível que tenhamos incentivo fiscal para a produção e venda de veículos que provocam tantas mortes e principalmente deixam todos os anos centenas de milhares de inválidos.

Fonte: Rodolfo Alberto Rizzotto | Equipe DPVAT