Artigo: Um olhar diferente para o crescimento

Nada de pessimismo nem previsões alarmistas. O setor de seguros desafia a maré recessiva e resiste às turbulências no cenário econômico. Em 2016, o mercado registrou crescimento nominal de 9,2% em volume de prêmios.

O resultado foi muito além da variação do PIB, cuja expressão real (descontada a inflação) fechará em queda pelo segundo ano consecutivo. Esse desempenho é ainda mais significativo em um período marcado pelo aprofundamento da crise política e econômica, que resultou no encolhimento de importantes áreas da economia, como comércio e indústria.

Mesmo que altamente dependente dos níveis de emprego e renda, o setor de seguros mostrou resiliência e manteve índices encorajadores que, somados ao crescimento de exercícios anteriores, configuram uma década de alto desempenho. Mas o bom é inimigo do ótimo. Por conta dos entraves à penetração dos seguros na economia, perdeu-se a chance de uma expansão mais robusta e a possibilidade de ofertar produtos mais em linha com as necessidades do consumidor.

A morosidade legislativa e a insensibilidade do Governo quanto a esses aspectos mostram que o Poder Público ignora a contribuição socioeconômica do setor, propiciada por reservas técnicas de quase R$ 1 trilhão em poupança interna de longo prazo, aplicada em títulos do Tesouro. Esse quadro é agravado pelo excesso regulatório e pela burocracia, que oneram as operações e encarecem o produto final para o segurado.

No agregado, portanto, a indústria de seguros vai bem. Mas como fica a intermediação com o consumidor? E o que dizer do corretor de seguros, o principal canal de distribuição do mercado? A luz amarela acendeu. Isso porque a expansão setorial foi encorpada pelo desempenho dos produtos de acumulação com distribuição bancarizada, em que os corretores pouco atuam. É o caso dos planos de previdência, cuja arrecadação aumentou 18,7% em 2016 na comparação com o ano anterior.

Outros segmentos não tiveram o mesmo desempenho. Em volume de prêmios, o ramo automóvel caiu 2,4% em termos nominais no acumulado de 2016. Descontando-se a inflação média de 8,7% no período, isso significou perda de 10,2% em relação a 2015. Já os produtos de risco dos seguros de pessoas cresceram somente 4,6%, enquanto os de seguros de danos apenas 1,2%. Ou seja, o resultado global do setor é motivo de comemoração, mas há muito o que progredir quando se trata de seguro de riscos – e não de acumulação.

A força de trabalho tem três motivos de preocupação: a perda da produtividade em razão do decréscimo de prêmios, a elevação constante dos custos operacionais e a pulverização da massa de clientes no ambiente de maior concorrência. Existem, hoje, cerca de 100 mil corretores no Brasil, dos quais quase 30 mil são pessoas jurídicas que estariam com a sobrevivência econômica ameaçada, se não fosse pela adesão ao Supersimples.

Em meio ao cenário de incertezas, o horizonte começa a se abrir, uma vez que o Governo parece compromissado com a redução do déficit fiscal e a liberação dos investimentos, essenciais para a recuperação da economia. Ao longo das últimas décadas, o setor de seguros foi capaz de reconhecer e remover os entraves que barravam seu desenvolvimento. A crise é o momento certo para a reorientação do mercado, que tem muito espaço para se desenvolver. Ou seja, há boas razões para manter o otimismo.

Artigo de Robert Bittar, presidente da Escola Nacional de Seguros, publicado no jornal DCI, no dia 15 de fevereiro de 2017.

Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social | Escola Nacional de Seguros