CONSEGURO 2019: Inclusão e diversidade são fundamentais para a sobrevivência das empresas


Vinicius Mercado_Alice Merry_Gabriela Ortiz_Maria Helena Monteiro_Patricia Coimbra_Ana Paula de Almeida Santos

É preciso acelerar as políticas de inclusão por gênero, raça ou orientação sexual, sob o risco de o processo de representatividade nas corporações colocar o próprio negócio em risco. Caso contrário, os programas de inovação, tradicionalmente a cargo de profissionais mais jovens, podem sofrer apagões e comprometer a sobrevivência das empresas nos próximos anos ou décadas. Esse foi o alerta feito no painel “Como (e por que) integrar a diversidade nos negócios” que ocorreu na 1ª Conferência de Sustentabilidade e Diversidade, na CONSEGURO, o congresso bianual do mercado de seguros, realizado pela Confederação Nacional das Seguradores (CNseg), em Brasília, que foi até essa quinta-feira (5).  

A consultora de inclusão financeira e apresentadora do podcast Finance Feminist, Alice Merry pediu engajamento das seguradoras no combate ao abuso econômico cometido contra mulheres por seus parceiros e assinalou que podem se inspirar nas ações já realizadas por bancos britânicos para reduzir vulnerabilidades das mulheres assediadas.

“Treinamento de pessoal, mudanças na forma de comunicação de sinistros e documentação alternativa para comprovar a identidade de vítimas de abusos, por exemplo, podem constar das cartilhas de seguradoras. No mercado londrino, bancos já aceitam o fechamento de contas conjuntas sem aprovação de parceiros agressores e cancelam apólices solicitadas pelas vítimas de relacionamentos abusivos”, disse a especialista.

Vinicius Mercado, subscritor (avaliador de riscos) sênior da AIG, relatou ações da seguradora multinacional para proteger minorias mais expostas a riscos de ódio, como LGBT. Em parceria com a associação internacional LGBT, a seguradora criou uma cartilha para indicar locais nos quais mais correm riscos em viagens internacionais, mantendo um call center para atendê-los em casos de incidente. A seguradora, que também oferece uma cobertura adicional por práticas de ações indevidas nas empresas no âmbito do D&O, avalia as políticas de diversidades desses clientes e afere taxas diferenciadas, o que é um claro indicativo de que discriminação pode custar cada vez mais caro ao negócio.

“As empresas não podem ficar de fora e precisam ter um ambiente inclusivo. Isso é essencial. Não é só mais uma questão social, mas sobretudo econômica”, advertiu Ana Paula de Almeida Santos, moderadora do painel. A vice-presidente da Comissão de Capital Humano, Administrativo e Sustentabilidade da SulAmerica Seguros, Patrícia Coimbra, defendeu que “quanto mais diverso é um grupo, mais soluções inovadoras são encontradas, algo que é comprovado cientificamente”.

Estudo sobre desigualdades

No evento foi lançado o 3º estudo “Mulheres no Mercado de Seguros no Brasil”,  que mostrou ações positivas do setor na redução das desigualdades. As mulheres são a maioria do quadro funcional no mercado segurador (55% no ano de 2018), ocupam cada vez mais cargos de chefia, mas a remuneração ainda é menor, na faixa de 71% e 72% do que recebem colegas homens.

O equilíbrio vem aumentando nos cargos gerenciais: no ano passado, 53,5% dos postos eram ocupados por homens e 46,5% por mulheres, enquanto no levantamento anterior, de 2012, elas ocupavam 41% das vagas de gerentes.

“Podemos comemorar a redução das desigualdades no período de seis anos, mas há um longo caminho a percorrer para mudar esse quadro. Principalmente nos cargos de executivos, onde a presença feminina ainda é mais rara”, apontou a diretora de Ensino Técnico da Escola Nacional de Seguros (ENS), Maria Helena Monteiro.

Das empresas participantes da pesquisa da ENS, 44% informaram que mantêm programas de igualdade de gênero. O estudo envolveu 23 grupos seguradores, responsáveis por 80% de receita do mercado e está disponível no portal da instituição de ensino.

Ana Paula de Almeida Santos, diretora jurídica da Care Plus, lembrou que a inovação assume um caráter cada mais estratégico no mercado, assinalando que o comando desses projetos tradicionalmente envolve jovens. Ainda que a taxa de retenção no mercado tenha avançado entre o grupo de jovens talentos - de 2% para 8%, o compromisso com a diversidade é um gatilho e para mantê-la crescente nas empresas. “Estamos disputando cientistas de dados com Google, Uber e, se não se apostar seriamente em sustentabilidade, vamos perder esses talentos e colocar em risco nossos programas de inovação”, afirmou.

A diretora-presidente da Caixa Seguradora, Gabriela Ortiz, contou um pouco de sua trajetória de ascensão na empresa. Ela trabalha em seguros há 22 anos - há três no comando da seguradora-, e diz não pensar na sua condição de mulher enquanto trabalha, mas a presença de grande um número de mulheres em algumas modalidades de seguros, como previdência, reforça os sinais de que a percepção feminina pode fazer a diferença.  

Fonte: CDN Comunicação