Delfim e Maílson avaliam positivamente perspectivas do País

Além de enfrentarem severas crises quando estiveram à frente do Ministério da Fazenda, os economistas Delfim Netto e Maílson da Nóbrega têm algo a mais em comum: compartilham a opinião de que o Brasil criou musculatura suficiente para reagir razoavelmente bem a novos tremores do mercado internacional. Com isso, seu novo e inédito dilema para os próximos anos será decidir se terá um baixo crescimento ou algo mais elevado, na faixa de 4% ou 5%, anuais. O certo é que o País não precisa mais crescer 7%, como na época de Delfim Netto, mas precisa de ajustes para buscar uma expansão do PIB mais vistosa. Ambos dividiram o púlpito do VI Fórum Nacional de Seguros de Vida e Previdência Privada, para apresentar o último painel do encontro- “Desafios econômicos para a próxima década”.

Delfim diz não concordar com o que chama de ideia falsa e equivocada da realidade do País, referindo-se aos que preveem futuras e graves dificuldades, sobretudo com a construção de um estado forte, regulador dos mercados, mas amigável à iniciativa privada. Para ele, o Brasil de hoje é uma idealização da Constituição de 1988, que, entre seus objetivos, busca a justiça social, igualdade de oportunidades, economia de mercado e “algumas utopias”, como a saúde universal. “O estado pode ajudar muito nos inconvenientes dos mercados”, afirma ele.

Após conviver com taxas médias móveis de crescimento em torno de 7,5% até os anos 60, submergir com crises de energia ou choques cambiais nas décadas seguintes, o País recuperou o trilho do crescimento a partir da Constituição, obtendo altas médias anuais de 2,6%. Ele lembra ainda que alguns indicadores importantes para a estabilidade foram recuperados mais recentemente, como juros nominais, déficit público e inflação menores. “Não há hoje desequilíbrios muito importantes na economia brasileira”, assinala o ministro.

Ainda que a inflação do País continue mais elevada do que a dos países desenvolvidos, (e parte seja importada) hoje está domada, garantindo um certo equilíbrio social, algo importante para tornar o País mais igualitário e deixar a sociedade mais satisfeita. A estabilidade de preços, entre outros méritos, favoreceu a mobilidade social. Em 2005, lembrou o economista, o Brasil tinha mais de 50% da população nas classes D e E; 34% na classe C; e 15% nas classes A e B. Em 2011, o novo retrato mostra uma renda mais bem distribuída e razão da força do mercado doméstico. Afinal, 22% da população atingiram as classes A e B; 54% transformaram-se em classe C; e 24% permanecem entre as classes D e E.

O processo de mobilidade social tende a continuar, mas há desafios à frente, sobretudo para garantir empregos de boa qualidade para 150 milhões de pessoas que, em 2030, farão parte da população economicamente ativa. Desde já, é preciso estabelecer condições isonômicas para um crescimento mais acentuado. Para tanto, será preciso um rígido controle dos gastos de custeio e ampliação dos investimentos para a casa de 25% do PIB; carga tributária menor que os atuais patamares, entre 35% a 36% do PIB; melhorar a infraestrutura, com Parceria Público Privada (PPP) e concessões para rodovias, aeroportos, portos, saneamento e comunicação; oferecer taxa de juros interna igual à mundial, para que a taxa de câmbio volte a ser relativa, permitindo o equilíbrio entre fluxo de importações e exportações. Por fim, ele está certo de que a taxa de juros reais caminha para 3%, o que acabará com o conforto dos investidores de comprar papéis e sentar sobre eles. “Os investidores terão de investir na economia real”, assegura ele.

O ex-ministro Maílson da Nóbrega está de acordo que, para o País, o pior ficou para trás. Ainda que haja algumas incertezas no quadro externo, ele concorda que o “Brasil cruzou o Rubicão” e convive com uma nova realidade. Para ele, é pouco provável, por exemplo, que haja o fim da zona do euro, ainda que a perspectiva seja de um longo ciclo de baixo crescimento. Em contrapartida, os Estados Unidos começaram a recuperar o ritmo e devem voltar a ter alta entre 2% e 3% do PIB nos próximos. A China, que é estratégica no xadrez mundial e dá sinais de desaceleração- há quem preveja um crescimento do gigante asiático de apenas 4% em 2013- deve, na opinião de Maílson, manter uma trajetória de expansão ainda acentuada pelos próximos 10 anos. Enfim, o quadro pintado pelos dois economistas continua muito favorável também para o mercado de seguros.

Fonte: Viver Seguro OnLine