Entrevista - Odair Tramontin, promotor da 15ª Procuradoria de Justiça: “A sociedade precisa se preparar para cuidar dos idosos”

Promotor das áreas de Cidadania e do Terceiro Setor, Odair Tramontin diz que cuidar dos idosos é o grande desafio que a sociedade tem para os próximos anos. Ele comenta que antigamente cabia à mulher o papel de ficar com os pais e sogros na velhice. Porém, as famílias mudaram e a expectativa de vida também. Confira na entrevista quais as preocupações o promotor tem em relação à longevidade em Blumenau.

Jornal de Santa Catarina - Que desafio a cidade tem em relação ao alto índice de longevidade?

Odair Tramontin - Em 1990, Blumenau tinha 13 mil idosos e atualmente temos pouco mais de 30 mil, o que significa cerca de 10% da população. Antigamente, cabia às mulheres cuidar dos idosos da família, mas atualmente é impossível, pois elas também precisam trabalhar. A longevidade fez com que surgissem doenças que incapacitam a pessoa de se cuidar sozinha, como Alzheimer e similares, obrigando a família a deixar esse idosos em uma casa de longa permanência. O grande desafio é exatamente esse. A coisa que mais atenta contra a qualidade de vida do idoso é a solidão.

Santa - A que a família que tem um idoso precisa estar atento?

Odair - Em 20 anos, vamos ter um universo muito grande de pessoas idosas. A regra é que ele fique com sua família, mas como muitos não têm condições de cuidar, porque têm que trabalhar, será preciso deixar nas casas de permanência. No entanto, é preciso pensar também na questão econômica, pois a média de hospedagem num lugar desses gira em torno de R$ 1,8 mil a R$ 2 mil. Como boa parte dos idosos recebem apenas um salário, podemos chegar num problema muito sério de solução para isso.

Santa - Quais as condições das casas de longa permanência na cidade?

Odair - Uma coisa que percebi na promotoria é que as casas de idosos não tiveram um projeto voltado para este tipo de atividade desde o início. É um setor que vai se transformar num ambiente econômico de certa repercussão. Minha preocupação é como você vai fazer isso com pessoas sem preparo. É mais que um negócio. Eles não têm que ter vergonha de ter lucro, mas precisam ter vocação. O que percebo é que os donos desses lugares chegaram a conclusão que não dá mais de trabalhar no amadorismo. Entendo isso como evolução.

Fonte: Click RBS