Entrevista com João Francisco Borges da Costa, Presidente da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg)

1) O pior da crise já ficou para trás no mercado de seguros? Qual a avaliação da FenSeg?

Certamente. Todos os prognósticos nos levam a um cenário de recuperação econômica e crescimento do PIB, que inexoravelmente impactará na atividade de seguros gerais. Seja pelo aumento do volume de mercadorias produzidas e que circulam no país – o que impacta na contratação dos seguros de transportes – seja pelo crescimento das vendas na indústria automobilística, que será maior no próximo ano, puxado pelo consumo das famílias. O consumidor poderá trocar de carro, pois os juros ficarão mais baixos e o crédito estará acessível, o que impulsiona o seguro dos automóveis, de todos os tipos.

Teremos efeito positivo também no segmento patrimonial, porque os estoques das empresas aumentam, impactando o volume de apólices e as importâncias seguradas. Observemos ainda o crédito habitacional, com lançamentos de empreendimentos residenciais, que já estão voltando. E não esqueçamos o seguro rural. Para se ter uma ideia, com todos os problemas da economia, em 2017, a carteira de automóveis cresceu 7%, a rural, 15%, e a habitacional, 10%.

Os cronogramas de obras de infraestrutura também pesarão positivamente. O pacote de aceleração de desenvolvimento, ao deslanchar, reflete nas garantias das obrigações contratuais. O crescimento do seguro garantia, aliás, não foi sustentado por obras do governo, mas por substituir depósitos judiciais, o que se expandiu bastante. Estimamos que essa carteira deve registrar uma demanda extra na área judicial, por ocasião da substituição dos depósitos nas disputas trabalhistas dentro da nova legislação.

2) Qual o papel do mercado de seguros como pilar da retomada da economia brasileira?

O seguro se expande, na verdade, sempre a reboque do crescimento econômico. O lado que você tem o seguro fomentando é o das seguradoras com o papel de investidoras institucionais. Aí você tem essas companhias na gestão dos recursos financeiros, e o que elas fazem para alavancar o crescimento. Temos as seguradoras gerando portfólios de reservas técnicas de maneira muita ativa, absorvendo os debêntures emitidos por empresas, IPOs de empresas que vão abrindo capital, novas emissões de capital. Tudo isso gerando reservas técnicas.

3) Como a agenda de reformas em andamento pode contribuir para o crescimento do mercado de seguros?

A reforma da Previdência tem vários impactos positivos. Em primeiro lugar, cria um mercado maior para a previdência privada no Brasil, que já cresceu muito neste ano, mas tem potencial para se expandir bem mais. Os efeitos disso são fantásticos, porque essa arrecadação no âmbito privado aumenta a poupança país e estimula a cultura de ser previdente. E para todos nós traz também a garantia de que situação fiscal do país está sob controle. Dessa forma, a disposição de todos para investir aumenta, e na perspectiva de longo prazo. Eu diria que o benefício é não somente grande, mas muito positivo.

4) O seguro auto popular vai deslanchar? Quais condições levam a crer que se tornará uma realidade para o brasileiro por conta de algumas questões ainda não resolvidas, como o uso de peças usadas?

Nós acreditamos que sim. Inclusive, com as novas resoluções que estão para ser instauradas pela Susep e pelo Conselho Nacional de Seguros Privados, teremos um aperfeiçoamento dessa modalidade de seguro. E isso vai não só atrair mais seguradoras para atuarem no segmento, como também estimular as que já estão a investir em maior escala. Você aumenta o volume da frota segurada e traz mais consumidores para a carteira, para os quais o modelo atual é inviável. A ideia aumentar essa base segurada em todo o país, incluir veículos mais antigos desatendidos.

5) Este ano, houve um aumento na expectativa de crescimento dos seguros de automóveis de 3,7% para 7,4%. A FenSeg acredita que esse indicador se mantém no próximo ano?

Isso se deu em razão de dois fatores. Primeiro, houve um ajuste de preços por parte das empresas seguradoras, naturalmente em virtude do aumento da violência e da criminalidade, dos furtos e roubos de veículos no Brasil inteiro. Não temos o dado exato, mas estimamos que aproximadamente 50% desse crescimento estão associados ao aumento de preços de apólices e a outra metade tem relação com expansão da frota de veículos, o que vai pesar muito mais em 2018. Até porque, quando entramos em momentos mais pujantes da economia, a criminalidade cai. Há um componente de recessão e aumento de criminalidade que caminham juntos. Esperamos que, no ano que vem, com o crescimento da economia, o número de veículos novos venha a puxar o seguro de automóveis.

6) Ramos como seguro garantia (com expansão de 40%), habitacional e de crédito rural tiveram expansão da ordem de dois dígitos. Quais fatores contribuíram para isso?

Assim como ocorre com o seguro de Automóveis, haverá um impacto positivo da retomada do crescimento nesses segmentos. O mercado de seguros é muito dinâmico. Quando se expande e cria novas demandas, as companhias seguradoras respondem de maneira muito rápida, se ajustam. Certamente teremos novos produtos, novas ofertas, sempre de maneira positiva.

7) De que forma a FenSeg trabalhará por mais visibilidade, ampliando os canais de comunicação entre os mercados de seguros e resseguros e a população? Tivemos a criação de uma subcomissão de projetos de lei, qual o papel da iniciativa? Quais os principais desafios para 2018?

A FenSeg está colocando como prioridade três desafios para 2018. O primeiro deles é o combate ao seguro pirata, que é a proteção veicular. E nesse sentido, a Federação trabalha para representar e tomar todas as ações institucionais cabíveis para atacar esse problema. O segundo é a implementação e difusão de seguro auto popular. Achamos importante dar contribuição para aumentar sua penetração no brasil. E o terceiro é acompanhar a nova legislação de licitações de obras públicas, projeto que está em Brasília para ser votado e dispõe sobre cláusulas específicas da contratação do seguro garantia. Também aqui a ideia é ampliar essa base no país.

8) Quais foram as principais conquistas e realizações neste ano?

Tivemos a criação da comissão de grandes riscos e a questão da regulamentação do seguro D&O, com atuação importante das comissões técnicas junto à Susep para solidificar e ampliar a contratação desse produto no país, expandir o mercado. E podemos citar também as contribuições dentro do segmento de seguros de automóveis.

9) Em todo país, há proliferação de cooperativas e associações ligadas a chamada proteção veicular. Como a FenSeg analisa esse cenário e as formas de combate?

Para nós, a forma mais efetiva de atacar esse problema é regulamentar como é feito com a atividade de seguros – ou seja, no sentido de proteger o consumidor. Não estamos perdendo mercado, nem noites de sono. O problema é a quebra de confiança que a atividade ilegal traz para o mercado como um todo. O consumidor não distingue. Se quiser vender seguros, é preciso seguir as regras de mercado e ser supervisionado. No mundo todo é assim. Há regras de solvência, reservas técnicas a serem seguidas. É necessário oferecer as mesmas garantias que as seguradoras dão. A atividade desregulamentada impacta nas reclamações aos órgãos de defesa do consumidor, o que para nós é prejudicial.

Fonte: Revista Cobertura Mercado de Seguros