Entrevista: Paulo Lückmann - Catástrofe, lições de Santa Catarina

O seguro pode ser um aliado de primeira hora para minimizar as perdas ou o desconforto em momentos em que a natureza cobra “elevados  dividendos”, via devastação,  pelos excessos cometidos por um progresso mundial desenfreado. A atuação das seguradoras em Santa Catarina, vítima de uma das maiores tragédias naturais no País em 2008,  antes da que acomete a região Serrana neste momento, é um bom exemplo disso. Confira a contribuição do seguro nesta entrevista do presidente do Sindicato das Seguradoras de Santa Catarina, Paulo Luckmann.


Não é possível neste momento quantificar as perdas decorrentes das chuvas fortes em vários estados. Mas, tomando a experiência da tragédia ocorrida em Santa Catarina há alguns anos, é possível indicar quais os ramos de seguros que poderão ter um forte aumento de sinistros?

As mudanças climáticas vieram para ficar, e as enxurradas são constantes em todas as regiões do Brasil e os últimos fatos ocorridos em Santa Catarina, Teresópolis, Nova Friburgo e outras regiões são a confirmação de que o Brasil não está preparado para desafios da natureza. É necessário investimento em prevenção com seriedade, pois, independente do estado, temos moradias em áreas de risco, urbanização cada vez mais intensa, cidades despreparadas. Como exemplo, com base no ocorrido em Santa Catarina, podemos indicar que os ramos que poderão ter um aumento de sinistros estão ligados ao seguro de vida, veículos, alagamentos e desmoronamentos. 

Na região Serrana do Rio, há casas destruídas, carros sob águas e pessoas mortas. Em Santa Catarina, quantas indenizações foram pagam naquele episódio de 2008?

Em 2008, a soma das indenizações nos ramos empresariais e residenciais foi significativa, mas a maior parte das indenizações pagas estava ligada a veículos, seja por perda parcial ou perda total. Os sinistros ocorreram simultaneamente em várias cidades, distribuídas em todo o Vale do Itajaí e Joinville. Somente na carteira de automóvel, foram 4 mil veículos, dos quais 1.050 perdas totais, indenizadas pelas seguradoras.

O que as seguradoras costumam fazer para minimizar as perdas e oferecer menos desconforto aos segurados que perdem carros ou casas?

Os números e os fatos evidenciaram, acima de tudo, o compromisso que o mercado segurador assumiu e vem assumindo, e isto se justificou pelos próprios fundamentos do seguro, que tem seus alicerces plantados em duas virtudes humanas, a solidariedade e a boa-fé – incorporadas ao conceito de mutualismo, e que visa assegurar famílias, da proteção à vida, ao patrimônio e à renda, e proteger as organizações dos diversos riscos envolvidos em suas operações. Em 2008, as seguradoras associadas montaram esquemas especiais para atender seus clientes, foi adotada uma série de medidas para amparar o segurado e agilizar a liquidação de sinistros, e conseqüentemente, o pagamento das indenizações. É importante ressaltar que na época, com Responsabilidade Social, os profissionais de seguros tiveram pronta reação e se mobilizaram para contribuir à sociedade.

Na questão de tarifação, como essa freqüência de sinistros causados por catástrofes naturais impacta os preços?

Por se tratar de mutualismo, naturalmente o aumento/volume de sinistros impactará na precificação do seguro.

Tradicionalmente, fala-se que o mercado segurador fica com uma parte ínfima das perdas totais ocorridas nessas tragédias, porque o brasileiro não é previdente ou desconhece as coberturas oferecidas pelas seguradoras. De que forma, a última tragédia ocorrida em Santa Catarina despertou o consumidor para importância de compras de coberturas que visam a reduzir as perdas, como por exemplo contra alagamento?

Dentro do Estado de Santa Catarina, e acredito ser o cenário do Brasil, o consumidor está cada vez mais exigente, em todos os segmentos. Na compra do seguro, isso não é diferente. Após os eventos ocorridos em 2008 em Santa Catarina, a procura por seguros cresceu imediatamente, principalmente por essas coberturas: alagamentos e desmoronamentos. Desta forma, vimos a necessidade de aperfeiçoar e melhorar estas coberturas, bem como ter profissionais habilitados e capacitados para assessorar o consumidor na proteção do seu bem.

Fonte: CNseg