Estelionatários roubam dinheiro do DPVAT de pacientes em hospital

Uma mulher caiu da moto e quebrou o tornozelo. Sem vaga no centro cirúrgico, ela foi transferida de um hospital público, em Mauá, para outro hospital em São Bernardo do Campo. Logo depois da cirurgia, recebeu a primeira visita. “Eles me encaminharam para o quarto e, em seguida, uma moça do RH do hospital foi até mim pedindo que eu assinasse uma documentação. Acabei assinando, porque eles colocaram certa pressão, porque eu não teria tratamento nenhum”, relata a mulher.Um homem que está há mais de dez dias em uma cama foi atropelado na esquina de casa, em Mauá, na Grande São Paulo. Quando o paciente chegou ao pronto-socorro, a família foi informada pelo hospital que não tinha como fazer a cirurgia. Ele foi transferido para o Hospital Marques Campos, na cidade vizinha de São Bernardo do Campo. Lá, os parentes descobriram que o atendimento que seria público e gratuito tinha se tornado um serviço particular.A cobrança pela cirurgia de fêmur, segundo a filha do paciente, partiu de um homem que se apresentou como corretor. “Ele queria que a gente assinasse uma procuração para ele receber tudo e pediu 25% para ele. Só que a gente foi se informar, viu que o DPVAT não tem intermediação de ninguém, que realmente era um golpe”, conta. DPVAT é um seguro de danos pessoais causados por veículos automotores. Todo dono de veículo paga a taxa, que serve para indenizar vítimas de acidentes de trânsito. O reembolso de despesas médicas é de até R$ 2.700.Ao negar a transferência do DPVAT, a família recebeu uma nota fiscal em nome de outra empresa: Hospital da Reabilitação do ABC Ltda. O valor é de quase R$ 2.700.Sem saber que a conversa estava sendo gravada, uma funcionária do hospital falou sobre o atendimento. “Nós trabalhamos aqui, fazemos cirurgia pelo DPVAT neste hospital, porque o seguro DPVAT é um convênio. Então, ele vai ser internado aqui como um conveniado. A gente recebe o paciente, faz a cirurgia e manda para o DPVAT. O DPVAT é que vai ressarcir as custas médicas”, disse a funcionária.Este é um ato ilegal, segundo Leôncio de Arruda, representante da seguradora que representa o DPVAT. “Isso é proibido fazer, isso é um dolo à população. A seguradora paga diretamente ao beneficiário. Isso tudo é truque, é mentira”.Ao todo, 200 pessoas já procuraram a polícia para denunciar. Em uma busca e apreensão autorizada pela Justiça, a promotoria recolheu documentos de transferência assinados em branco por um paciente.O dono do hospital, que não quis falar sobre a fraude, e três homens que agiam como corretores respondem a processo por formação de quadrilha, estelionato e crime contra o consumidor.“As provas são contundentes no sentido do engodo aplicado nas vitimas e doentes. Ele precisa ser fechado, para que as fraudes terminem. As pessoas são levadas lá. Elas não escolhem o hospital e, ao serem levadas e estarem em uma situação de extrema dor, elas acabam anuindo com tudo”, explica a promotora de justiça Eliana Vendramini.O advogado do Hospital Marques Campos negou todas as acusações. O Tribunal de Justiça informou que o pedido de fechamento definitivo do hospital só poderá ser feito depois do julgamento do processo contra o dono do estabelecimento. De acordo com o Sistema Único de Saúde (SUS), o Marques Campos já mudou de nome duas vezes e ainda mantém 15 leitos para atendimento gratuito.Fonte:  Monitor das fraudes