Frota de veículos deve chegar a 5 milhões até o fim do ano em SC


Foto: Marco Favero / Diário Catarinense

Santa Catarina terá mais de 5 milhões de veículos em circulação nas ruas até o final do ano. A frota do Estado já é de 4,9 milhões e ganha entre 12 mil e 17 mil novos emplacamentos a cada mês, conforme o Detran/SC. Nesse ritmo de crescimento, a marca dos 5 milhões deverá ser alcançada entre outubro e dezembro. 

Como SC tem 7 milhões de pessoas, de acordo com o IBGE, a proporção atual chega a dois veículos licenciados para cada grupo de três habitantes. É como se toda casa com três moradores tivesse dois carros na garagem. 

Em 2003, havia apenas um veículo em circulação para cada três catarinenses. Mas o crescimento percentual da frota em Santa Catarina foi seis vezes maior do que o aumento populacional na última década e meia. Caso essa taxa se mantenha, o Estado pode chegar em 2030 com 7 milhões de veículos circulando. A projeção do IBGE é que sejam 8 milhões de pessoas.

Sem investimento em infraestrutura na mesma proporção, as condições de mobilidade a longo prazo são um ponto de interrogação. Especialistas ouvidos pela reportagem entendem que o cenário é preocupante e que as soluções devem priorizar os transportes de massa.

— A falta de mobilidade é em decorrência do incentivo ao transporte individual em detrimento do coletivo. Não se investe em transporte coletivo — avalia a educadora de trânsito e especialista em planejamento e gestão do trânsito em Santa Catarina, Márcia Pontes.

A cultura do carro próprio e os planos econômicos voltados a facilitar o poder de compra impulsionaram a expansão da frota de veículos, aponta Márcia, em especial nas regiões desenvolvidas como Santa Catarina. Por outro lado, ela observa que não houve planejamento adequado na maioria das cidades para dar vazão ao fluxo de veículos. 

O entendimento é de que as grandes obras viárias costumam ser demoradas e têm efeito apenas momentâneo, o que reforça o papel do transporte coletivo como alternativa.

— A engenharia de tráfego não está acompanhando. As ruas não têm para onde crescer. Quando uma grande obra de mobilidade sai, já não resolve. São obras grandes, caras, que esbarram na burocracia. É preciso repensar a engenharia viária a favor do transporte coletivo — destaca.

Mas apenas a oferta de transporte público não basta. O usuário vai preferir o carro ou a motocicleta se for mais cômodo ao deslocamento, observa a especialista. Opções confortáveis, com tarifas amigáveis e variedade de linhas, são requisitos necessários para tornar os modais coletivos mais atrativos.

— As pessoas querem deslocamentos rápidos, seguros e confortáveis dentro do horário — conclui. 

Malha viária no limite

Porta-voz da Polícia Militar Rodoviária (PRMv) no Estado, o tenente-coronel Fábio Martins observa que parte da malha viária catarinense já está no limite e ainda recebe aumento expressivo de veículos de fora em determinadas épocas do ano. Enquanto o Vale do Itajaí atrai turistas nas festas de outubro, cidades do litoral concentram mais visitantes na alta temporada.

Como exemplo, ele observa que a rodovia SC-401, em Florianópolis, teve fluxo de 85 mil veículos em um único dia no último Réveillon. Mesmo na baixa temporada, o patrulhamento diário observa horários de pico mais recorrentes em algumas rodovias devido à expansão da frota, evento que não se resume ao movimento do início da manhã, final da tarde ou do meio-dia.

Acidentes leves também são observados com maior frequência nos últimos anos, o que também é atribuído ao aumento da frota. Na avaliação do oficial da PMRv, é possível que o rodízio de veículos e outras medidas restritivas tenham de ser aplicadas em cidades como Florianópolis se a demanda não for minimizada por outros meios.

— A gente não quer, mas São Paulo chegou a isso. Florianópolis é uma ilha. Se não for trabalhada a questão da infraestrutura, pode ser que em um futuro bem próximo tenha que se tomar medidas drásticas — reforça. 

Grande Florianópolis concentra maior frota 

Entre as 10 maiores frotas de veículos de Santa Catarina estão três cidades vizinhas da Região Metropolitana da Grande Florianópolis. Capital, São José e Palhoça somam 612,7 mil veículos juntas. É a maior concentração automotiva do Estado. 

Além da demanda natural imposta ao tráfego, o fato de existirem apenas duas pontes na ligação Ilha-Continente compromete a mobilidade na região. Dados do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Grande Florianópolis (Plamus), de 2014, indicam que a Ilha concentra 60% dos postos de trabalho da região e que 138 mil pessoas atravessam as pontes diariamente para trabalhar. 

A mesma pequisa aponta que a maioria dos deslocamentos (48,71%) ocorre de carro ou moto, enquanto apenas 25,9% ocorrem de ônibus. Outro dado revela que o tempo das viagens por transporte público é o dobro dos trajetos feitos com automóvel. Uma das conclusões do estudo é que há baixa frequência e irregularidade nos serviços de transporte coletivo. 

— É um círculo vicioso. Quanto pior o transporte público, maior o número de veículos, mais congestionamento, mais tempo perdido no deslocamento — analisa o responsável pela Superintendência de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Grande Florianópolis (Suderf), Cássio Taniguchi. 

Segundo o superintendente, com exceção da Capital todas as demais concessões do transporte público na área da Suderf estão vencidas ou não existem. Assim, há linhas municipais e intermunicipais que concorrem entre si e se sobrepõem. 

A intenção da Superintendência é promover uma única proposta de concessão para a região, o que integraria o transporte entre as cidades por meio do BRT (sigla em inglês para Transporte Rápido por Ônibus), mas é preciso haver entendimento entre os prefeitos. 

— O plano está pronto, a infraestrutura depende de recursos. Tem uma série de fatores sendo praticamente modelados, mas depende da vontade política dos governos de colocar R$ 300 milhões porque outros R$ 300 milhões nós estamos captando na iniciativa privada — sinaliza. 

Ônibus têm prioridade em Joinville e Blumenau 

Tornar o transporte público mais atrativo é um desafio compartilhado por Joinville e Blumenau. Enquanto em Joinville a estimativa atual é de que apenas 25% da população faça deslocamentos diários de ônibus, em Blumenau a proporção é de somente 21%. 

Os planos de mobilidade dos dois municípios têm metas ousadas para atingir nos próximos anos: o objetivo é que 40% dos joinvilenses tenham preferência pelo transporte coletivo até 2030, e que 31% dos blumenauenses façam uso do transporte público até 2035. No ano passado, a cidade do Norte catarinense passou a ter 16 novos ônibus equipados com ar-condicionado. 

A prefeitura também reservou mais vias com corredores exclusivos para o transporte coletivo. Hoje, são 25 quilômetros de corredores e há intenção de duplicar o número nos próximos anos. O secretário de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável (Sepud), Danilo Conti, destaca que a aposta do município é promover integração entre os meios de transporte. 

— É possível, sim, fazer as pessoas se deslocarem com um transporte mais sustentável desde que se consiga uma integração dos modais — aponta. 

Em Blumenau, a meta é ampliar os atuais 12 quilômetros de corredores de ônibus para 36,5 quilômetros até 2035. Há dois novos terminais de ônibus em construção, com previsão de espaço para que usuários deixem carros e bicicletas no local antes do embarque. 

— A integração de modais também é um objetivo para que os carros fiquem cada vez mais na área periférica, distantes do anel central da cidade — diz o diretor de Planejamento Viário da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur), Julian Plautz. 

Fonte: Diário Catarinense