Poupança, Previdência e Capitalização

Por Álvaro Modernell, especialista em Educação Financeira.

Cada macaco no seu galho! Ditado que cada vez faz mais sentido nas finanças pessoais. Com frequência me dirigem a “simples e tradicional” pergunta: “Qual o melhor investimento?”. Como se existisse um melhor investimento para todas as pessoas, para toda situação, adequado para qualquer objetivo e prazo, e recomendável para todos os perfis e cenários. Claro que não existe! Mas se eu responder que “é preciso analisar seu caso para responder”, logo vem a desconfiança de má vontade e que como consultor só quero cobrar honorários... Vida dura!

Aproveitando a deixa, vamos abordar três dos mais populares e tradicionais produtos de poupança e investimento: as contas de poupança, os planos de previdência e os títulos de capitalização. Cada um tem seus encantos, sua aplicação, suas vantagens e desvantagens. Se vistos e usados em conjunto, de maneira complementar, podem atender a maioria dos perfis, desejos e necessidades. Se analisados isoladamente, podem receber mais críticas do que incentivos. Se usados como única alternativa, seja qual for, podemos considerar inadequada na maioria dos casos.

Prefiro falar do conjunto, da complementaridade: são produtos populares, bem regulamentados, relativamente simples, de fácil acesso e, ao serem utilizados em conjunto, atendem uma das principais recomendações e servem como boa prática para a maioria das pessoas, a diversificação. Vistos isoladamente, cada produto possui características próprias que os distinguem e os caracterizam para situação e objetivos específicos:

Contas de poupança – Sem dúvidas o produto mais popular, tradicional, simples e barato do mercado brasileiro. A alta liquidez é ao mesmo tempo um de seus pontos fortes e fracos. Ideal para manutenção de reservas para emergências, oferece acesso imediato aos recursos e serve de instrumento de apoio e tranquilidade. Porém, aos pouco disciplinados financeiramente, essa alta liquidez em nada contribui para que os recursos permaneçam aplicados por médio ou longo prazo, e nem sempre resistem até mesmo às mais fracas tentações de consumo. E, por ironia, quando os recursos ficam aplicados por longos anos, perdem o poder aquisitivo, pela baixa rentabilidade, geralmente aquém da inflação. Mas para quem tem apenas poucos reais aplicados, sem poder de negociação, obterá as mesmas taxas de quem aplique milhões nessa modalidade. Vê-se facilmente quem se beneficia mais.

Títulos de capitalização – Inegável o apelo popular, especialmente nas classes C e D, entre a população recentemente bancarizada, incluindo donas de casa e pessoas que assistem bastante televisão e entre aplicadores com perfil arrojado. Ainda que tenha por característica a ausência de rentabilidade, atinge dois princípios importantes: o de contribuir para a criação de reservas, mesmo que involuntariamente, e o de alimentar a esperança de premiações que podem superar a rentabilidade de outros produtos, quando contemplados com prêmios simbólicos, ou até mudar a vida de pessoas, nas situações de contemplação com grandes prêmios. Na prática, a baixa liquidez ou a penalização pelos resgates antecipados induzem à permanência dos recursos até o vencimento, e a esperança dos sorteios estimula o aporte de mais recursos que viram reservas de poupança, aspectos positivos. Uma característica acessória serve como benefício e valor agregado: a possibilidade de uso em substituição de avalista, evitando situações desagradáveis entre amigos e parentes a cada contrato de aluguel que precisa ser firmado.

Planos de previdência complementar – Custam caro porque vendem pouco ou vendem pouco porque custam caro? Cada vez mais evidente a necessidade de os trabalhadores contratarem planos de previdência complementar para evitar um futuro financeiro pouco digno. Mas os altos custos das taxas de administração, das taxas de carregamento e às vezes de performance são inibidores do crescimento do produto em um mercado ávido e com poucos produtos concorrentes à altura. O ruim é que custa mais caro para quem mais precisa. Com menos recursos para investir os cidadãos das classes menos privilegiadas não conseguem negociar boas taxas e pagam mais caro. Ou deixam de contratar. Quanto mais evolui a medicina e cresce a expectativa de longevidade do ser humano, maior a necessidade de previdência complementar. Ainda mais ao considerarmos a situação da previdência oficial - INSS, cada vez mais abrangente em termos de categorias e benefícios, e mais restrita em capacidade de oferecer boa remuneração nas aposentadorias e pensões. Um dos aspectos positivos é o de induzir a regularidade dos aportes. Outro é o de estimular a visão de longo prazo, quando a tendência dos resultados é maior e os benefícios mais evidentes. Os aspectos tributários podem ser melhor aproveitados com a escolha da tabela regressiva. Os benefícios de quem tem acesso a planos de previdência privada são imperdíveis, a meu ver.

Vistos e usados no conjunto esses produtos podem atender a maioria da população em suas necessidades financeiras básicas: boa liquidez, no caso da poupança. Disciplina e prazos mais longos, na previdência e capitalização, simplicidade e diversificação no conjunto, boas expectativas e esperança nos planos de previdência e na capitalização. Depósitos constantes na previdência. Resgates programados na capitalização. Facilidade de acompanhamento em todos. Aportes de qualquer valor na poupança e na capitalização.

Sobre o aspecto negativo dos três, a baixa rentabilidade, mas, dependendo do período supera até o da renda variável, tida como uma das boas alternativas de rendimento no longo prazo que, pela alta volatilidade e relativa complexidade, tem gerado nos últimos tempos, pelo menos para amadores, mais perdas do que ganhos. Na prática, respaldado pela teoria, todos podem ser usados, com diferentes objetivos.Para a poupança e capitalização seria bom estabelecer tetos de valores ou percentuais das reservas. Na previdência complementar um piso mínimo.

Iniciei com um ditado popular, concluo com outros dois: “a união faz a força” e “não se deve colocar todos os ovos na mesma cesta”. Usando com estratégia esses e outros produtos cabem perfeitamente na carteira de reservas e investimentos de todos e podem ser aproveitados os melhores benefícios de cada um. 

Fonte: CNseg