Prêmios bilionários estimulam seguradoras

A classificação das seguradoras para disputar a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 começa bem antes do pontapé inicial do futebol ou da festa de abertura que acende a pira olímpica. Elas precisam surfar a onda de investimentos em obras de infraestrutura dos complexos esportivos que o Brasil vai oferecer ao mundo nos dois megaeventos. Serão gastos pelo menos R$ 50 bilhões em reformas e construções de estádios, ginásios e demais arenas. Isso sem contar o aporte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para aeroportos, estradas, transporte público e demais melhorias nas cidades. É um dinheirão que precisará estar a salvo em caso de imprevistos. É nesse ponto que entra o seguro de grandes riscos. A modalidade, formada pela união de três apólices - risco de engenharia, responsabilidade civil e garantia -, deve movimentar cerca de R$ 3 bilhões em prêmios. Com esse troféu em vista, a corrida para chegar ao lugar mais alto do pódio já está mexendo com as companhias de seguros. A maior fatia desse prêmio ficará com os riscos de engenharia, para a construção da infraestrutura, e com a responsabilidade civil, que protege contra danos aos torcedores, atletas e toda a equipe envolvida nos torneios. Só os comitês internacional e local das Olimpíada devem assinar contratos de R$ 1,6 bilhão de responsabilidade civil. "Tudo vai ter que estar segurado, inclusive as pessoas que fazem parte desse espetáculo", diz Acácio Queiroz, presidente da Chubb do Brasil. Antes das pessoas entrarem em campo, porém, nenhuma obra sairá do papel sem que uma companhia seguradora garanta a execução, o cumprimento do prazo e um eventual ressarcimento de falhas ou atrasos. A primeira apólice desse pacote é uma espécie de dedo-duro, que aponta problemas na construção. "O seguro garantia pode trocar uma construtora para a obra ser finalizada no prazo e dentro do orçamento", afirma Alexandre Malucelli, presidente da J.Malucelli Seguradora e Resseguradora. Os paranaenses da J.Malucelli devem ser os primeiros a se beneficiar desses dois torneios internacionais. Maior companhia de seguro garantia da América Latina, com R$ 240 milhões em prêmios (veja quadro), ela lidera a transformação desse tipo de seguro no País, que ganhou impulso no primeiro semestre com as construções das usinas Jirau e Santo Antônio no rio Madeira, na Região Norte. O crescimento do seguro garantia no período foi de 29%, o que fez os prêmios totais chegarem a R$ 590 milhões. "As grandes obras já estão mexendo com o seguro garantia", diz Marcelo Homburger, vice-presidente da Aon RiskServices. O esperado grande salto, porém, virá com a Copa do Mundo de Futebol e a Olimpíada. A calculadora de Malucelli mostra que de 30% a 50% do total previsto de R$ 50 bilhões em investimentos terão que estar com a apólice dedo-duro assinada. Se a contratação do seguro garantia preencher a exigência mínima dos 30%, as companhias seguradoras precisarão estar aptas a cobrir R$ 15 bilhões em eventuais prejuízos. Desse total, sairão prêmios anuais de R$ 150 milhões para os cofres delas (1% do total da apólice). "Os reflexos serão sentidos em pouco tempo", diz o presidente da seguradora paranaense. Neste momento, a fase de treinamento está em alta velocidade. A Marsh Corretora prepara uma apresentação para o Comitê da Copa do Mundo com estratégias de contratação dos seguros. "Temos um grupo de 20 pessoas, especializado nesses grandes eventos, dedicando-se aos torneios no Brasil", afirma o diretor de infraestrutura Marcelo Elias. Entre dezembro deste ano e janeiro de 2010, todas as licitações para a Copa do Mundo estarão concluídas e os seguros contratados, principalmente pela necessidade de os estádios ficarem prontos em três anos para a Copa das Confederações. O relógio já está correndo e a preocupação com os bilhões de reais que serão investidos em cada área agita as seguradoras. "Os seguros de grandes riscos não são feitos às vésperas dos torneios", diz Ângelo Colombo, diretor de grandes riscos da Allianz. A pressa está ligada ao risco financeiro de projetos colossais como esses. E também ao medo de repetir o fiasco do Pan- Americano no Rio de Janeiro, em 2007, quando o orçamento estourou e as obras ficaram prontas a poucos dias da abertura do torneio. Fonte: Revista IstoÉ Dinheiro