Em 1 ano, resseguro aberto gira R$ 3,5 bi

O mercado brasileiro de resseguros completa hoje seu primeiro ano aberto à concorrência da iniciativa privada. Estima-se que, após quase 70 anos de monopólio estatal, o volume de negócios no novo ambiente atingiu R$ 3,5 bilhões em prêmios no ano passado. Outro dado comemorado pelo setor é a entrada de 84 empresas - um universo de 28 corretoras e 56 resseguradores, sendo cinco da categoria local, 18 admitidas e 33 eventuais. Mas não foi só a chegada de novos operadores que caracterizou a abertura do resseguro no País. Mesmo antes da sanção da lei complementar 126, em janeiro de 2007, marco desse processo, seguradoras locais já começavam a se movimentar e se preparar para o cenário atual, criando áreas específicas e treinando profissionais. Outras tantas correm para não ficar para trás, pois a certeza do fechamento de um contrato com o IRB-Brasil Re não existe mais. E para tornar a atividade ainda mais complexa, os sinistros causados pelos furacões Ike e Gustav praticamente coincidiram com a explosão da crise financeira internacional, em setembro do ano passado, levando o mercado ressegurador no mundo todo a uma forte retração, sem falar na disparada das taxas do serviço. Para Eduardo Nakao, presidente do IRB-Brasil Re, esses fatores deixaram os segurados mais exigentes para coberturas superiores a US$ 10 milhões. "O segurador está participando mais do processo de contratação do resseguro. Antes da crise, ele escolhia a seguradora basicamente pelo relacionamento e pela confiança. Hoje em dia, ele pergunta expressamente para a companhia que vai emitir a apólice quais os resseguradores vão garantir o excedente", avalia. Marcelo Homburger, vice-presidente da área técnica da AON, uma das principais corretoras de seguro e resseguro do mundo, diz que o atual cenário demanda qualidade elevada. "Trabalhamos com grande sinergia em seguro e resseguro. Para cada solução de seguro que levamos para o nosso cliente já pensamos também na colocação de resseguro." Quanto às dificuldades do setor, Homburger acrescenta que as perdas com os furacões podem chegar a US$ 50 bilhões. "Só o Lloyd?R™s deve ter tido US$ 2,3 bi de prejuízo com sinistro. E, obviamente, a crise financeira mexe diretamente com as reservas dos resseguradores, mas o endurecimento das taxas não é tão grave como foi em 2001. O encarecimento ocorre de acordo com cada cliente e regiões geográficas", diz. Apesar do revés no ano passado, o Lloyd?R™s está de olho no novo formato do mercado brasileiro. Em função do marco do primeiro ano da abertura do setor no País, vieram ao Brasil vários executivos da entidade que é considerada o maior mercado de seguros e resseguros do mundo, com a presença de mais de 50 agentes e 80 sindicatos. Além de visitas a seguradoras, ontem eles inauguraram seu escritório de ressegurador admitido no Rio de Janeiro e hoje organizam seminário no Palácio das Laranjeiras, sede do governo fluminense. "Com uma nova gestão, o Lloyd?R™s tem procurado aumentar sua presença em países com potencial. Eles estão com 17 sindicatos em Cingapura, 9 na China e 2 no Brasil", comenta Carlos Eduardo Almeida, vice-presidente de riscos industriais e comerciais da SulAmérica. O executivo destaca que o IRB-Brasil Re deve perder mercado nos próximos meses. "A partir de agora a concorrência será feroz. Houve concentração de negócios porque as empresas estavam se estruturando. A vantagem do IRB é conhecer os riscos do Brasil melhor que os outros, saber bem o que aceitar e recusar", diz Almeida, acrescentando que no novo ambiente a SulAmérica realizou cessão de resseguro da ordem de R$ 300 milhões e que pretende manter o IRB como principal parceiro.Fundado em 1939, numa medida de Getulio Vargas para dar maior proteção ao mercado segurador do País, o IRB-Brasil Re dominou mais de 90% do volume negociado no novo ambiente - dos R$ 3,5 bilhões negociados em 2008, a resseguradora com controle majoritário do governo federal faturou R$ 3,2 bilhões. Nakao justifica: "Essa preferência mostra duas coisas: respeito do mercado e confiança no futuro do IRB. Só se conquista isso com pagamento de indenização tão logo termina a regulação, ou seja, pagar sinistro no mais curto prazo." O executivo também diz que a empresa está endurecendo no fechamento de contratos. No caso de resseguro para o ramo garantia, a companhia exige do segurado rating elevado, evolução dos últimos três anos do patrimônio líquido (PL) e bom histórico. "Se observarmos o nível de prêmio ganho sobre o PL dos resseguradores vamos achar um número próximo de 3. Essa relação está próxima de 0,9 no IRB. Ou seja, o somos uma empresa conservadora e altamente capitalizada", complementa Nakao. Desafios Marcelo Homburger, da AON, afirma que a desvinculação das seguradoras em relação ao IRB é um desafio a ser superado no mercado aberto. Tributação e capital humano são outros problemas para serem resolvidos. Fonte: Gazeta Mercantil