Projeto pretende produzir 25 milhões de biodiesel a partir de óleo de cozinha até 2014

Eles competem com o ralo. Querem aquele óleo de fritura usado que se joga na pia. Aliás, você sabia que cada litro despejado contamina água suficiente para consumo de uma pessoa ao longo de 14 anos? Pensando nisso, a empresa Biotechnos fez um projeto em Santa Rosa que transforma óleo usado em biodiesel. Para 2014, o objetivo é estender a ação para 40 municípios, incluindo as cidades-sedes da Copa — o que pode gerar até 25 milhões de litros de combustível.

A iniciativa, chamada Bioplanet, é ambiciosa. Quer incluir no processo de captação de material cerca de 10 mil catadores de lixo e 3 milhões de estudantes.

Funciona assim: a empresa qualifica profissionais para ensino ambiental dentro das escolas. Os alunos servem como difusores de informação, coletando óleo usado em casa e espalhando o conhecimento. Os colégios podem ser pontos de coleta e, a cada litro recolhido, recebem bônus que podem ser trocados, mais tarde, por material pedagógico. A associação de catadores de lixo entra recolhendo o óleo usado e o transportando até uma usina, onde será transformado em biodiesel.

A tecnologia é disponibilizada pela empresa, e o combustível final é usado nos automóveis da associação de catadores ou dos parceiros do projeto. Desta parceria, vem o dinheiro para recompensar as escolas ou outros locais de arrecadação.

Para pagar a instalação da usina e o suporte da empresa, há dois caminhos: o privado e o governamental. Até o momento, embora o projeto tenha sido selecionado pelo governo federal para Promoção do Brasil para Copa de 2014, não está certo se haverá financiamento pela União.

— No edital, diz apenas que haverá uma "chancela" do governo brasileiro, podendo — ou não — ter recursos. Por isso, estamos nos mobilizando para fazer parcerias com empresas privadas — explica a presidente do conselho de administração da Biotechnos, Márcia Werle.

E é justamente neste ponto que se encontra a maior dificuldade, afirma. Em Porto Alegre, por exemplo, não houve adiantamento de negociação.

— Fizemos mais de 50 reuniões com diversas companhias, mas, de modo geral, não houve muito entusiasmo e, infelizmente, não conseguimos recursos — lamenta o coordenador do Bioplanet, Vinícius Puhl.

No Rio de Janeiro, a situação é outra. Para outubro deste ano está prevista a inauguração da fábrica. A meta até a Copa das Confederações, em março de 2013, é que as seis cidades-sedes já tenham implantado o sistema. E que em 2014, na Copa do Mundo, sejam incluídas as demais, totalizando os 40 municípios beneficiados (veja ao lado a lista das cidades previstas no Estado). Quando os eventos terminarem, a perspectiva é de que o trabalho continue.

A ideia do Bioplanet começou em Santa Rosa, sede da companhia idealizadora do projeto. Em 2008, houve uma iniciativa parecida com os moldes do projeto atual. Desde então, outras cidades gaúchas aderiram, como Santa Cruz do Sul (leia ao lado) e Rio Pardo. No Rio, o processo funciona em Seropédica e em Arraial do Cabo. Estes locais são responsáveis pela produção de 400 mil litros de biodiesel por ano.

O exemplo de Santa Cruz do Sul

Em 2009, a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) de Santa Cruz do Sul instalou uma fábrica que transforma óleo de cozinha usado em biodiesel. A entidade já fazia educação ambiental nas escolas, e o trabalho foi reforçado. Desde então, mais de 400 escolas do Sul do país recolhem óleo de fritura, que é trazido para a cidade. Em troca, os colégios recebem bolas, redes, cadernos e todo material didático que precisarem.

— O biodiesel que produzimos fica para os caminhões e máquinas agrícolas da Afubra. Como gastamos com o material para as escolas, nosso gasto financeiro é similar ao que teríamos se comprássemos o combustível. No entanto, estamos ajudando a cidade de uma maneira ecológica e social — avalia o responsável técnico do projeto da Bioenergia da Afubra, Nataniél Sampaio.

Os projetos de sustentabilidade para Copa de 2014

O Brasil trabalha com cinco grandes projetos de sustentabilidade para a Copa de 2014, segundo o assessor e consultor da Câmara Temática de Meio Ambiente e Sustentabilidade para Copa 2014, Fabrício Barreto. São eles:

1 — Copa Orgânica e Sustentável

Criar uma associação de produtores que iria coordenar a produção de alimentos orgânicos no país. A meta é expandir a produção e consumo destes alimentos, oferecendo-os em eventos da Fifa e em hotéis que receberão as delegações.

2 — Parques da Copa

Fazer um melhor uso dos parques já existentes nas cidades-sedes, criando trilhas e espaços de educação ambiental.

3 — Certificação de Construção Sustentável

Incentivar a construção de obras sustentáveis, não apenas nos estádios.

4 — Resíduos de Reciclagem

Fazer com que todas as cidades-sedes tenham, até 2014, gestão de resíduos implementada, com coleta seletiva e maior cuidado com aterros e locais de descarte de lixo.

5 — Mudança Climática

Elaboração de um inventário dos gases geradores de efeito estufa decorrentes de atividades da Copa. Com o levantamento em mãos, estudar possibilidades para reduzir a emissão e planejar ações para compensá-las. A ideia é fazer com que a iniciativa seja incorporada como política pública para grandes eventos.

Óleo de cozinha em números

Um litro de óleo de cozinha polui cerca de 25 mil litros de água
Isso equivale ao consumo de uma pessoa ao longo de 14 anos
50 milhões de litros de óleo de fritura são descartados no meio ambiente no Brasil, por ano, em valores aproximados.
Se esse material fosse transformado em biodiesel, seria possível abastecer toda a frota nacional de veículos a óleo diesel com 2% de biodiesel

Fonte: Jornal Zero Hora