Acidentes não acontecem

Há muitos anos, aprendi com meu pai que acidentes de trânsito não existem. Um acidente é como um meteoro cair em cima do seu veículo. No dramático episódio recente, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em que um motorista epiléptico desmaiou ao volante, invadiu o calçadão, matando um bebê de 8 meses e ferindo 17 pessoas, a primeira avaliação da imprensa foi chamar o que aconteceu de “acidente”.

Entretanto, na medida em que as informações chegavam ao conhecimento público, ficou claro que não era bem assim. É importante entender os fatos por trás do que aconteceu: o motorista tinha renovado a carteira em 2015, mesmo estando com ela suspensa por infrações cometidas que, nos últimos anos, somavam mais de 60 pontos. Habilitação que ele não devolveu conforme determina a legislação.

Ao mesmo tempo, ele omitiu no exame médico que sofria de epilepsia, inclusive, rasurou sua declaração para o médico de tráfego, quando descrevia os remédios que tomava. Por outro lado, a rasura não chamou atenção do médico que simplesmente aprovou a CNH.

Vale citar que este mesmo motorista já tinha sofrido um acidente pilotando uma moto para a qual não estava habilitado. Portanto, foi uma sucessão de irregularidades, culminada com a precária fiscalização, que permitiu ao infrator continuar dirigindo com a carteira vencida.

As consequências aparecem na família das vítimas. Em primeiro lugar, no coração dos pais do bebê de 8 meses, cuja dor não pode ser compensada com dinheiro. É uma ferida que nunca cicatriza. O pai não estava no local na hora da tragédia e, apesar de não fazer parte das estatísticas de acidentes, é eternamente vítima.

Portanto, neste caso, como em praticamente todos os demais, podemos garantir que acidentes de trânsito não são uma fatalidade, mas sim fruto de um somatório de imperícia, imprudência, negligência, omissões, falta de fiscalização ou simplesmente, de responsabilidade. Por isso, quando alguém disser que aconteceu um acidente grave pode corrigir e dizer: “acidentes não acontecem”.

Por Rodolfo Rizzotto, Coordenador do SOS Estradas

Fonte: Blog Viver Seguro no Trânsito