Catástrofes brasileiras

De maneira geral, o segurado enxerga os reflexos dos danos causados por catástrofes naturais no momento de um sinistro que envolve o automóvel, como observa o diretor executivo da FenSeg, Neival Freitas. “Talvez seja o impacto mais sentido, o que há mais pessoas prejudicadas. Porém, hoje o seguro de automóvel compreensivo já cobre esses sinistros com alagamentos, de queda de árvores”.

Com a percepção maior da necessidade de um seguro, poderá haver um aumento no número de sinistralidades, o que pode acarretar no aumento do valor do seguro. “Porém, as seguradoras estão preparadas, pois já está tudo precificado. Esses acontecimentos podem aumentar ou diminuir o valor do prêmio, dependendo da intensidade. É o que acontece quando há aumento de roubo e furto de carro, o preço do seguro também aumenta”.

Não é somente a pessoa física que poderá sofrer as consequências das catástrofes naturais. As empresas também serão alvo de ameaças de um novo cenário desfavorável com interrupções de negócios e falhas na cadeia de suprimentos. É o que afirma o relatório Barômetro de Risco da Allianz Global Corporate & Specialty (AGCS).

De acordo com o levantamento realizado com mais de 500 analistas de risco e especialistas em seguro corporativo da Allianz e de outras companhias globais em 47 países, interrupções bruscas nos negócios e falhas na cadeia de suprimentos (46%), catástrofes naturais (30%) e incêndios e explosões (27%) serão os maiores riscos para as empresas em 2015. “A crescente interdependência de indústrias e processos significa que os negócios estão cada vez mais sujeitos a um número crescente de cenários desfavoráveis. Assim, os efeitos negativos podem se multiplicar rapidamente, com um risco criando diversos outros. Catástrofes naturais ou ataques cibernéticos podem interromper os negócios não só de uma empresa, mas de setores inteiros ou de infraestrutura crítica”, afirma Chris Fischer Hirs, CEO da AGCS.

Gerenciamento de riscos

Essa avalanche de grandes riscos mostra que as empresas deverão contar ainda mais com as seguradoras e elas, por sua vez, com as resseguradoras. “O Brasil sempre teve exposição à seca, alagamentos, desmoronamentos, porém o país não está exposto a catástrofes chamadas tectônicas, como os terremotos, vulcões, tsunamis. O problema maior é que o país está se desenvolvendo em regiões mais suscetíveis a esse tipo de fenômeno, então o impacto econômico na sociedade está sendo maior. Por exemplo, temos a urbanização de regiões, onde antes não havia, sujeitas a desmoronamentos, vendavais, alagamentos”, explica Rodrigo Botti, diretor de finanças e operações da Terra Brasis Resseguros.

Saber qual a região que há maior risco e entender como gerenciá-lo da melhor forma tornou-se um diferencial para as seguradoras e resseguradoras, que usam a tecnologia para se tornarem ainda mais competitivas no mercado. “O outro fator é que o mercado de seguros está se tornando mais técnico, com maior competição as companhias estão procurando como se diferenciarem e ter a melhor tecnologia sobre exposição à catástrofe é a forma encontrada. Isso também é pertinente ao ressegurado, pois com a abertura desse mercado à iniciativa privada em 2008, mais companhias começaram a atuar no Brasil”, enfatiza Botti.

Porém essa exposição ao risco é preocupante ao mercado de seguros e resseguros. “É um risco que o mercado segurador ainda precisa conhecer muito mais do que conhece hoje. Há várias iniciativas para entender melhor a exposição brasileira a catástrofes naturais para gerenciar melhor esse risco. Somente conhecendo o risco é possível precificá-lo”.

Conhecer melhor os riscos e precificá-los é o caminho das pedras para o mercado de seguros não sentir o impacto das catástrofes brasileiras. Porém, para Botti, o efeito não será tão forte para o segmento. “A maioria continuará precisando de seguros, renovando os seguros do carro, os estabelecimentos comerciais renovarão a apólices comerciais. Teremos sim um impacto dessas catástrofes no mercado de seguros, assim como em outros mercados da economia, porém, se a economia brasileira diminuir de ritmo, o mercado de seguros sentirá menos do que outros segmentos”.

Botti, entretanto ressalta que esse efeito demorará décadas para impactar o mercado segurador. “Hoje o brasileiro consome mais seguro do que há 20 anos. Portanto, esse reflexo maior de busca por mais seguros não será imediato. Com o padrão de vida mais elevado, o consumo de seguros tende a aumentar; outra maneira de dizer a mesma coisa é que penetração de seguros no Brasil ainda é muito fraca”.

Estímulo à proteção

Claudia Melo, Senior Client Manager - Global Partnerships da Swiss RE, concorda que é preciso disseminar a cultura do seguro no país, para que todo o esforço de mensuração de riscos e de criação de novos produtos sejam valorizados. “Há novos nichos e produtos que podem ser desenvolvidos, mas é preciso que a demanda por esses produtos também cresça. Falta mais do que seguradora e resseguradora desenvolver novos produtos, falta a conscientização da sociedade, pois pode passar anos desenvolvendo novos produtos com todo o recurso financeiro, mas se ninguém ver a importância de comprá-lo não adianta nada, por isso o papel da seguradora e do corretor é de suma importância”.

Entretanto, o caminho inverso também ocorre, ou seja, para que a penetração do seguro seja maior, alguns produtos estão em desenvolvimento. Como é o caso do seguro popular de automóvel, que já está em discussão pela Susep. Carlos Almeida, Analista Técnico da Susep, afirma que o mercado já oferece a cobertura por alagamento e que no âmbito popular a sinistralidade pode aumentar.

“Só o tempo dirá se terá mais sinistro, porém o mercado de seguros está maduro o suficiente para mensurar esse risco e talvez vir a contratar uma cobertura de resseguro e já sabe como agir, pois já tem mapeado os riscos”.

Fonte: Tany Souza | Revista Cobertura Mercado de Seguros