Entrevista: Fernando Cheade - Pacote puxa venda de seguros

O novo pacote lançado pelo governo, que beneficiará as montadoras, deverá ter reflexos positivos para a venda de seguros de automóveis, garantindo uma expansão de 10% pelo menos. Até o primeiro quadrimestre do ano, as vendas subiram 12%, informa o novo presidente da Comissão de Automóvel da FenSeg, Fernando Cheade.

Sobre o pacote lançado pelo governo, qual sua avaliação inicial para as vendas de seguros?

Este acordo firmado entre governo, montadoras e bancos, definindo redução de IPI sobre veículos, de IOF sobre financiamentos e a liberação de compulsórios para financiamentos, deve reaquecer a procura por veículos, que terão seus preços ao consumidor reduzidos. Isto deverá se refletir no segmento de seguro de automóveis, com a manutenção do ritmo de crescimento previsto para o mercado, no exercício 2012.

Antes do lançamento, como estava se comportando a demanda no acumulado do ano?

O segmento vinha apresentando margem de 12% de crescimento em suas receitas de prêmio neste primeiro quadrimestre, comparado ao igual período de 2011. É um setor altamente concorrido, no qual se torna um desafio a busca do equilíbrio entre a oferta de preços competitivos e os custos em constante elevação, tais como o de peças de reposição e mão-de-obra nas oficinas.

Em razão do pacote, o mercado vai revisar a projeção de desempenho da carteira de auto? Inicialmente, qual era a estimativa para o ano e quanto se esperava arrecadar?

É esperado um crescimento da ordem de 10% para segmento neste ano de 2012, o que acreditamos deva se realizar. A arrecadação de prêmios em 2011 atingiu a marca de R$ 21,4 bilhões, refletindo um crescimento de 6,5% sobre o ano anterior, já que o cenário de acirrada concorrência (em 2011), com relevante queda de preços, influenciou neste menor índice de expansão.

Os bancos estão constatando avanço da inadimplência nos carros financiados, hoje na faixa de 5,5%. Isso também ocorre na venda de seguros?

Observamos, sim, um discreto aumento da inadimplência nas apólices de seguro de automóvel, mas há uma expectativa de que esta taxa se estabilize e retorne rapidamente aos patamares anteriores.

O que se comenta é que o nível de endividamento das famílias está muito elevado, na faixa de 45% de seu salário. Considerando-se este dado relevante, pode-se dizer que não haverá uma explosão nas vendas de carros?

Devemos levar em consideração o fenômeno da mobilidade social que vem ocorrendo no país, com a elevação da renda e do poder de compra dos brasileiros. O aumento da oferta de crédito, e em melhores condições, deve manter aquecida a demanda por veículos novos.

Nas vendas financiadas na semana do pacote do governo, os preços dos veículos acabaram diferindo entre si para quem comprou antes ou depois de sua vigência. No caso do seguro, isso ocorreu? Caso sim, o consumidor cujo carro ficou mais barato após o pacote poderá solicitar a revisão no contrato do seguro para adequá-lo aos preços de mercado?

No caso do seguro de automóveis denominado “valor de mercado”, é levado em consideração o valor médio daquele modelo, apontado em tabela de referência (FIPE), na data do início da vigência do contrato (apólice). São comuns e previstas as variações de valor, desde a contratação até a ocorrência de um eventual sinistro, sendo que as seguradoras já as consideram em seus modelos de precificação.

No plano macroeconômico, que variáveis poderão favorecer o desempenho do seguro de automóvel e quais poderão minar seu viés de alta. Juros mais baixos, por exemplo, favorecem as vendas, mas afetam resultado financeiro das seguradoras. O comportamento dos juros pode provocar alta dos preços, como ocorreu no último trimestre do ano passado?

A queda dos juros afeta diretamente as margens das seguradoras, pressionando para baixo o resultado financeiro auferido com a aplicação das reservas das empresas. Isto vai exigir das seguradoras uma atenção ainda maior na maximização dos resultados operacionais, com revisão de processos e redução de custos. Poderá ainda ser necessária eventual recomposição de tarifas que se encontrem defasadas.

Este ano, algumas praças de negócios convivem com aumento da sinistralidade, outro ponto importante para a fixação de preços. Houve de fato avanço expressivo na sinistralidade e quais as razões disso?


Algumas regiões têm registrado aumento na frequência de roubo e furto de veículos. Um exemplo disso é a região metropolitana de São Paulo. Outras variáveis importantes a serem analisadas são o aumento do preço de peças de reposição e o custo de mão-de-obra, que impactam diretamente nos sinistros de colisão. Como os prêmios encontram-se achatados pela disputada concorrência entre seguradoras, tem-se observado constante elevação no índice de sinistralidade da carteira de automóvel. Exemplificando, o ano de 2010 fechou com 63,9%, 2011 com 65,9% e neste primeiro quadrimestre de 2012 já atingiu o patamar de 67,0%.

Fonte: Viver Seguro OnLine