Entrevista: Mucio Novaes, reeleito no Sindseg N/NE

Reeleito para o triênio 2016/2019 e com posse programada para abril, Mucio Novaes assume o Sindicato das Seguradoras do Norte e Nordeste (Sindseg N/NE), ciente de que haverá uma forte desaceleração nas vendas de seguros este ano, após um ciclo de crescimento exponencial do setor por quase 10 anos. A crise não deve poupar sequer duas das principais modalidades, Auto e VGBL, responsáveis por puxar a produção regional. Além da paralisação de projetos de infraestrutura, governos locais em dificuldades financeiras, as seguradoras associadasao Sindiseg N/NE devem ficar atentas aos impactos das mudanças climáticas e aos riscos de avanço das fraudes. Nesse entrevista concedida ao portal da Cnseg, Mucio Novaes destaca os principais problemas e soluções do mercado regional.

- Qual o quadro mais provável do mercado segurador em seu estado neste ano, levando-se em conta que, mais uma vez, a economia permanecerá em recessão?

Mucio Novaes – Em Pernambuco, depois de um crescimento exponencial do mercado de seguros por 10 anos aproximadamente, o setor deverá apresentar os primeiros sinais de impacto da crise econômica nacional neste ano. Isso, para um segmento que, só em 2015, cresceu 10% aproximadamente, significa que deveremos ter, em 2016, uma redução real da atividade para alguma coisa entre zero e 1%.

- Como foi o comportamento das vendas no ano passado?

MN – 2015 ainda foi um ano em que a indústria de seguros em Pernambuco ofereceu uma alta resistência aos efeitos da crise econômica, ou seja, continuou com crescimento e, sem contabilizar a área de saúde, teve uma arrecadação de prêmios de quase R$ 5 bilhões.

- Os estados também enfrentam graves problemas, envolvendo atrasos no pagamento dos servidores estaduais e revisão nos valores dos contratos em vigência. No seu estado, há sérios problemas enfrentados pelos governos locais e quais as repercussões na atividade de seguros?

MN – Os problemas enfrentados pelo Estado e pelos municípios são graves. Há um desequilíbrio fiscal enorme e é evidente que isso afeta o setor de seguros. À medida que compromete a arrecadação tributária e afeta a renda dos servidores, tudo isso causa impacto negativo sobre a atividade econômica.

- Curiosamente, a crise também gera aumento das fraudes em algumas carteiras, como automóvel e incêndio, e aumento das doenças. Existem carteiras que começam a sentir pressão na sinistralidade puxada, indiretamente, por tais fatores em seu estado?

MN – Não temos dados hoje que possam comprovar quais são esses números, de influência da fraude na sinistralidade das seguradoras, mas acreditamos que, numa crise dessa proporção, isso seja absolutamente possível. No que diz respeito a doenças, o momento é de grave apreensão em relação aos efeitos do zika vírus e da chicungunya.

- Quais são as principais carteiras em volume de prêmios em seu estado e qual o provável cenário esperado neste ano para cada uma dessa modalidade?

MN – As principais carteiras continuam sendo automóvel e, na área de previdência, o VGBL. A expectativa é que, em virtude da situação que a economia nacional vive, haja queda de receita nos dois segmentos.

-De que forma variáveis importantes, como inflação alta, taxas de juros elevadas, com efeitos no encarecimento dos financiamentos, além do aumento do desemprego, podem afetar o seguro em sua região. Quais as modalidades mais vulneráveis e quais as mais resistentes?

MN – Esses componentes todos afetam a atividade de seguros e as mais atingidas, evidentemente, são aquelas modalidades mais vinculadas à renda da população, e aí entendemos que diz respeito às áreas de automóveis e saúde. As mais resilientes são carteiras de pequena monta e as superespecializadas de setores que podem oferecer algum tipo de resistência à crise, como alguns seguros de Responsabilidade Civil, Seguro Ambiental, enfim, carteiras superespecializadas.

- Faça um breve perfil da economia de seu estado, listando as principais atividades. No caso de estado exportador, o atual cenário mundial é mais ou menos favorável para a atividade, tendo em vista a desaceleração chinesa e os efeitos disso para a América Latina?

MN – Pernambuco não tem uma característica de ser um estado exportador. A base econômica do estado está concentrada no setor de serviços e, mais recentemente, na atividade industrial, a partir de um conjunto de grandes investimentos que hoje sofrem os efeitos da crise econômica nacional.

- A maioria dos estados constata endividamento crescente das empresas e das famílias, com impactos no consumo e na arrecadação de impostos. Este viés se confirma em seu estado? Quais as apólices de massificados que devem ser mais afetadas com a retração de consumo?

MN – O viés se confirma totalmente. Os massificados mais afetados são aqueles ligados à queda de renda da população, caso específico do seguro de automóveis.

- Qual o comportamento da sinistralidade a partir de 2015, ano de forte retração da economia? Especialistas afirmam haver uma correlação entre aumento do crime e crise econômica. Quais as carteiras mais afetadas?

MN – A questão da insegurança, evidentemente, tem forte crescimento em virtude da crise econômica; então os segmentos mais afetados devem ser aqueles que, tradicionalmente, são objetos de ação criminosa, principalmente o roubo e furto de veículos.

- Sobre os extremos climáticos, grande parte do País convive com problemas gerados por chuvas, alagamentos, desmoronamentos. Quais os problemas mais comuns em sua região e o que começa a bater à porta das seguradoras?

MN – O problema mais comum na região, como um todo, é a falta de chuva, a seca nas regiões agreste e sertão. Mas em janeiro, por exemplo, na Zona da Mata e no Sertão, tivemos o efeito de fortes chuvas. Tivemos, inclusive, no inicio de fevereiro, um fenômeno que produziu alagamentos e ventos de 80km/h, o que é absolutamente atípico nessa época do ano.

- Em sua região, existem as vendas de seguros piratas e quais as razões de o consumidor escolher uma cooperativa em lugar de seguradora, apesar das incertezas maiores?

MN – As razões são as mesmas que estão espalhadas por todo o País. Oferecem um tipo de cobertura com um preço extremamente atrativo, mas sem nenhuma condição legal do ponto de vista das normas que regem a atividade de seguros.

- Teme-se em sua região que avance a concorrência predatória em virtude do quadro recessivo? Quais as apólices mais propensas a registrar uma disputa acirrada?

MN – A apólice mais propensa a esse tipo de concorrência será a de automóveis.

- No seu estado, há grandes obras de infraestrutura previstas ou suspensas e quais os efeitos para os seguros de grandes riscos.

MN – Existe um conjunto grande de investimentos estruturadores que estão com complicações na sua execução, na sua complementação e até alguns deles no inicio das obras e tudo isso afeta grave e principalmente os seguros empresariais, vinculados a esse conjunto de investimentos.

- As pequenas e médias empresas, em contraponto aos problemas enfrentados por setores estratégicos como petróleo, construção civil e indústrias, podem ser uma alternativa para as seguradoras minar os riscos de desaceleração?

MN – As PMEs representam um nicho especifico ao qual muitas seguradoras dirigem suas ações comerciais, sua venda de apólices. Porém, na condição atual, entendemos que todos os setores serão atingidos.

Fonte: CNseg