Estrangeiros mantêm investimentos apesar da crise
Apesar da erosão dos pilares da economia brasileira, a exortação em prol da manutenção dos investimentos foi a principal mensagem deixada pelo jornalista e economista Dony de Nuccio, âncora e editor de Economia do Jornal das Dez, da Globonews, autor da palestra “Panorama econômico e perspectivas”, apresentada no segundo dia do 5º Encontro de Resseguro do Rio de Janeiro. “Como vocês querem estar quando essa crise passar? Você, sozinho, não pode determinar o ambiente econômico que planeja atuar. Mas sua reação diante de cada cenário é o que pode fazer a diferença. Sua atitude agora vai definir se sua empresa vai estar do lado do sucesso ou do fracasso nos próximos anos”, lembrou ele, enumerando diversos exemplos de grupos bem-sucedidos na economia global, justamente por pensar fora da caixinha e apostar na ousadia. Estudos e cases mostram que empresas que, em momentos de crise, efetuaram demissões abaixo dos concorrentes, executaram mudanças de processos e tiveram ganhos de eficiência saíram na frente quando da retomada da economia.
O painel contou com a participação do economista Claudio Contador, Ph.D em Economia e atual dirigente do Centro de Pesquisa e Economia do Seguro (CPES), da Escola Nacional de Seguros. Na condição de coordenador de mesa, Contador solicitou a Nuccio os cenários prováveis da economia a curto e médio prazos e a Fernando Passos, vice-presidente do IRB Brasil RE, os caminhos a seguir por seguradoras e resseguradoras em um cenário tão perverso.
Ele reconheceu, contudo, que as incertezas do cenário econômico fizeram as empresas represar ou cancelar investimentos no País, seguindo o receituário de ajustes indicado para um quadro macroeconômico menos benigno ao capital. Mas esta estratégia é realmente acertada? Olhando a atitude dos investidores estrangeiros, com a manutenção de recursos anuais acima de US$ 60 bilhões desde 2011, mesmo diante da perspectiva de o País repetir dois anos seguidos de PIB negativo, fato ocorrido apenas há 85 anos, quando da grande depressão de 1929, pode-se dizer que há um erro de avaliação dos empreendedores nacionais, algo que, na retomada do crescimento, poderá custar market share ou inviabilizar os negócios para quem, neste momento, reduz drasticamente os investimentos.
Nuccio, que possui curso de extensão em Economia na Brown University, dos Estados Unidos, disse que o ingresso de capitais internacionais é um sinal de que o Brasil ainda figura como uma praça prodigiosa de negócios, sobretudo para quem tem um olhar de médio e longo prazos. O país é um dos quatro com PIB de mais de US$ 1 trilhão, população de mais de 100 milhões e dimensões continentais (EUA, China, Rússia e Brasil).
Ele destaca que o PIB brasileiro, apesar da forte retração de 2015, gerou movimentação de R$ 5,9 trilhões, 78% maior do que o do México; 500% acima do PIB da África do Sul. “Do ponto de vista estratégico, é melhor estar presente no Brasil do que na maioria dos países do planeta”, declarou ele.
Mas existem problemas. A perda do selo de bom pagador por três agências de risco, a baixa taxa de poupança, de menos de 20%, a relação dívida em proporção ao PIB em avanço são fatores que minam a confiança dos mercados. “Os países que perderam o grau de investimento após 2009, em média, levaram de seis a sete anos para recuperá-lo. E os fatores em comum para isso foram a relação dívida/PIB com viés de baixa- a brasileira segue em sentido contrário; taxa de poupança média de 25%- a nossa está abaixo de 20%; e inflação perto do piso da meta- a nossa permanece mais próxima do teto há anos. Isso significa que o Brasil poderá levar mais tempo para recuperar o grau de investimento”, afirma ele.
Em consequência disso, quer dizer, do rebaixamento dos títulos soberanos do País, as empresas que precisem captar recursos no exterior vão pagar prêmios de riscos maiores. Este encarecimento do crédito é uma consequência direta da falta de credibilidade na política econômica do País.
A crise política é outro fator a tornar mais turbulento o cenário econômico, a ponto de haver quem diga que a recuperação econômica não ocorre em virtude do impasse causado pela análise do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Exemplo disso é que as consultorias já trabalham com cenário binário, calculando a variação de indicadores, como PIB, dólar, com a saída ou continuidade do atual governo. Os piores resultados aparecem com a manutenção do governo Dilma, segundo ele.
O debatedor Fernando Passos assinalou que o mercado de seguros/resseguros sente os efeitos do aprofundamento da crise econômica em dose dupla. Seja pela desaceleração dos negócios em áreas mais afetadas pela recessão - como os ramos de transportes e de energia, por exemplo- seja pelo aumento da tributação. O aumento da alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSSL), de 15% para 20%, implicará no repasse adicional de mais de R$ 1 bilhão; significa que os ganhos financeiros líquidos vão ser menores no CDI, ao repassar R$ 660 milhões ao Leão. Os corretores também devem enviar mais R$ 270 milhões ao governo.
Na sua avaliação, o mercado deve se preparar para enfrentar uma temporada de alta dos tributos, para compensar a queda de arrecadação enfrentada pelo governo em áreas de elevada contribuição, como os setores de petróleo e gás e mineração, afetados pela operação Lava-Jato e crise econômica.
A volatilidade dos ativos é outra consequência do caos político e econômico. A seu ver, sobretudo nas duas próximas semanas, a variação de preços acompanhará o humor do noticiário envolvendo o pedido de impeachment. Apesar do quadro macroeconômico adverso, ele acredita que o mercado de seguros/resseguros continuará a ter um crescimento real de faturamento neste ano, mantendo sua resiliência diante da crise. A conferir.
Fonte: CNseg