Hortas públicas reúnem moradores em prol da natureza

Onde menos se espera pode surgir uma horta urbana. Pode ser um terreno abandonado, uma praça esquecida, um canto de calçada e até um telhado.
Em pequenos espaços de terra, às vezes espremidos entre prédios ou ruas, as hortas comunitárias têm sido desenvolvidas por moradores do entorno e até por quem nem mora por perto. As primeiras notícias que se tem da transformação de terrenos públicos em pequenas plantações de frutas, legumes, verduras e temperos são recentes.
Em 2011, as incipientes ideias de grupos interessados em revitalizar áreas verdes e criar um contato maior entre comunidade e meio ambiente começaram a ser passadas para o papel. Um ano depois, essas ideias foram pouco a pouco se tornando realidade e, da iniciativa do grupo Hortelões Urbanos, nasceram as hortas das Corujas e do Centro Cultural São Paulo.
Claudia Vizoni, uma das fundadoras do Hortelões, acredita que a cidade só tem a ganhar com a criação de novas hortas urbanas. “É uma alternativa gratuita de lazer, aumenta a permeabilidade do solo, reduz as emissões de gases do efeito estufa, porque evita o transporte motorizado de alimentos, e inaugura espaços práticos de educação ambiental.”
Nos últimos dois anos, São Paulo recebeu hortas na praça do Ciclista, já no finzinho da Paulista, próximo à Consolação, no parque Villa-Lobos e no bairro da Pompeia. Com os exemplos bem-sucedidos, iniciativas parecidas estão surgindo em outros bairros. Uma horta na Vila Indiana, diversas pelo campus da USP e outras tantas pelo bairro do Butantã estão em andamento.Neste link, é possível encontrar a localização exata de cada horta comunitária seguindo a indicação dos balões vermelhos.
Todas essas iniciativas, no entanto, tiveram de seguir alguns passos para que, enfim, a horta comunitária passasse a existir. Em primeiro lugar, é preciso encontrar um espaço. Pode ser uma praça, um quintal, a lateral de uma calçada, um telhado ou um lugar da cidade tenha acesso a água limpa.
Depois disso, encontrar outras pessoas que queiram dividir o entusiasmo e se envolvam no trabalho é fundamental. Afinal, como diria o poeta, “é impossível ser feliz sozinho”. Visitar hortas que já existem e procurar se informar sobre temas de agricultura é um bom caminho. Aí é pôr a mão na massa: marcar um dia de mutirão para limpeza e plantio e acompanhar o crescimento desse novo espaço de natureza. Não há uma regra, mas, em geral, a autorização da subprefeitura que administra o bairro e o apoio da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, caso pense em expandir as atividades da horta com encontros, cafés da manhã, almoços, etc., são buscados depois de o espaço estar pronto.
Para Luiz de Campo Jr., geógrafo e consultor em meio ambiente, “as hortas comunitárias agregam muitos benefícios e de diversas ordens, como a diminuição dos custos alimentares e a melhoria do clima da cidade, atenuando ilhas de calor”. Ele, que está constantemente envolvido na criação e na manutenção das hortas, garante que há hortas sendo criadas todos os dias. “Tem gente se mobilizando e fazendo coisas pela natureza por toda a cidade.”
Num sábado de bastante sol, um senhor regava a horta da Pompeia. Heitor Fernandes, 67 anos, mora no bairro desde que nasceu e até o começo deste ano, quando surgiu aquele espaço, não tinha visto os vizinhos interessados em outra atividade. “A gente sempre vem aqui pra conversar, papear, regar as plantas, colher alguma coisinha. É claro que não dá pra deixar de fazer a feira, mas quando falta um tempero no meio do preparo de uma comida, a gente vem buscar aqui”, conta ele, que visita a horta quase que diariamente.
Em duas horas, a horta foi visitada por dez pessoas que entravam, sentiam cheiros, verificavam o crescimento das plantas, colhiam e experimentavam por ali mesmo o sabor das frutas. “Precisamos dar um jeito de melhorar esses morangos”, disse uma mulher que andava por ali com a filha pequena.
Fernandes conta que o espaço foi esquecido por muito tempo. “Só tinha entulho, ninguém podia imaginar que o terreno era fértil.” Um belo dia, viu um rapaz jovem tirando lixo e pedras da praça, deixando o terreno livre para o dia seguinte, quando iniciou o plantio.
“A vizinhança toda ficou curiosa, foi se aproximando, e estamos há poucos meses tentando fazer dar certo. Trago minha técnicas, né, porque eu já tenho sítio, sei mais ou menos como funciona, o que dá pé e o que não dá, mas tem gente que não sabe e ajuda como pode, vai aprendendo.” O dia seguinte era de café da manhã comunitário. Fernandes tirava folhas caídas e pedras que poderiam machucar as crianças.
As hortas, que nasceram como alternativa de contato com a natureza, para melhorar o clima do bairro, ensinam na prática que a convivência entre as pessoas e com os espaços públicos pode ser mudada e transformar uma cidade como a nossa.
Fonte: Sustentabilidade Allianz