Metade do país ignora o cinto no banco de trás, diz levantamento do IBGE

A morte do cantor sertanejo Cristiano Araújo fez Iraci Siqueira, 57, voltar no tempo. Numa madrugada de janeiro de 2004, seu filho Bruno, então com 17 anos, ia para casa no Fusca de um amigo, depois de uma balada, quando sofreu um grave acidente.

Assim como se suspeita que tenha ocorrido com o músico, o adolescente estava no banco traseiro, sem o cinto, quando o Fusca bateu contra um ônibus na av. Guarapiranga, zona sul de São Paulo.

"O motorista morreu na hora, e ele foi arremessado para fora. A pancada foi tão forte que arrancou uma parte da calota craniana e fez ele perder um quarto da massa encefálica", conta Iraci. Após meses no hospital, Bruno teve alta. Mas ficou com sequelas como dificuldades no raciocínio, na fala e para andar.

"Ele tinha acabado o colegial, queria estudar e ser bombeiro. Agora não consegue nem ler mais." Quase 18 anos após o novo código de trânsito, usar o cinto de segurança no banco da frente é hábito para a maioria dos brasileiros. Mas no banco traseiro a história é outra.

Pesquisa do IBGE aponta que 79% dos brasileiros adultos dizem usar o cinto quando estão na frente de carros, vans ou táxis. No banco traseiro, o índice cai para 50%. O número não varia muito com o nível educacional dos entrevistados: vai de 51% entre os que não têm nem o ensino fundamental a 56% entre os com nível superior.

Um mês atrás, o matemático laureado com o Nobel John Nash, 86, morreu junto com a mulher quando andava em um táxi, nos Estados Unidos, sem usar o cinto. Para José Aurélio Ramalho, do Observatório Nacional de Segurança Viária, é preciso outra forma de educar os condutores brasileiros.

"Aprendemos que temos que usar o cinto para não levar multa, e não porque é mais seguro. Mas é difícil fiscalizar o uso no banco traseiro, então não se entende o risco que se está correndo."

Estudos apontam que o cinto reduz em cerca de 25% a chance de morte para passageiros no banco de trás. O levantamento do IBGE, concluído neste ano, ouviu responsáveis de 80 mil domicílios de todo o país em 2013.

Pesquisa mais recente, feita pela Artesp (agência de transportes de São Paulo) entre janeiro e fevereiro deste ano nas rodovias privatizadas, observou que só 52% dos passageiros estavam usando o cinto no banco de atrás. E isso depois de uma campanha de conscientização que teve anúncios em rádios, TV e jornais e distribuição de folhetos nos pedágios.

Segundo a agência, dados dos acidentes fatais em rodovias do Estado, de 2012 a 2014, apontam que 69% dos ocupantes que estavam no banco traseiro não usavam cinto. "Se aquele cantor estivesse com cinto, talvez ainda estivesse aqui.

No caso do Bruno, com certeza ele não teria quebrado a cabeça. As pessoas têm que se conscientizar para não ter que passar pelo que passei. Agora meu sonho é que ele consiga andar sozinho", afirma Iraci, enquanto espera o filho sair da piscina da AACD, entidade onde faz reabilitação há um ano.

Fonte: Observatório Nacional de Segurança Viária