Michael McGavick: mercado pode chegar a US$ 160 bilhões em 2030

Líderes da indústria de seguros elegeram Michael McGavick como presidente do conselho da Geneva Association em junho deste ano.

Seu desafio é dar sequência a tantas discussões criadas na gestão de Nikolaus von Bomhard, presidente da Munich Re, que esteve à frente da Geneva Association nos últimos quatro anos.

McGravick é CEO do grupo XL desde 2008 e também presidente da Association of Bermuda Insurers and Reinsurers e do Global Reinsurance Forum.

“A internacionalização da indústria de seguros e a rápida mudança no cenário de riscos tornam a associação e o fórum think tank mais importante do que nunca”, destaca McGavick em entrevista exclusiva ao portal da CNseg.

Quais os principais desafios que o senhor tem à frente da Geneva Association?
O setor de (re) seguros desempenha um papel importante em quase todos os setores da economia em todo o mundo. Como resultado, os problemas que enfrentamos são muitos diante da crise mundial. Uma questão importante é como vamos ofertar capacidade mantendo a solvência do setor e ao mesmo tempo contribuir para a recuperação da economia global? Nós temos que atender as necessidades de nossos clientes em relação aos novos riscos e inovar para manter o ritmo de crescimento das vendas e do número de clientes. E como é que vamos ficar à frente da multidão de novos riscos que surgem a cada dia? A Associação tem sido um fórum de discussão da indústria em várias questões-chave. E para o setor de (re) seguros em particular, questões como as várias propostas de novos regimes regulatórios em todo o mundo estão no topo da nossa agenda.

Na sua opinião, quais são os desafios e oportunidades que a crise traz para a indústria?
A crise financeira global de 2008 lançou uma luz ao redor do mundo e tem havido uma variedade de resultados que ainda precisamos compreender. Para a indústria, um problema tem sido os órgãos reguladores colocar na mesma regra e também punição seguradoras e bancos, sendo que ambos têm uma atuação diferente. A realidade é que os provedores de seguros gerais e de acidentes sobreviveram à crise com grande sucesso e, em seguida, contribuíram para a recuperação de parte das perdas provocadas. A clara interseção de seguro com a crise foi a AIG, que se envolveu na crise inteiramente por causa das operações de derivativos e não de seguros em si. A missão do núcleo da companhia seguros gerais é completamente diferente do que a dos bancos, e a experiência vivida durante a crise reflete esta diferença. A oportunidade para o setor de (re)seguros de é mostrar essa diferença de forma transparente e divulgar com clareza o nosso papel vital na economia global, tanto como investidores como pagadores de indenizações.

Seguradoras e resseguradoras estão muito preocupados com o excesso de regulamentação que está acontecendo na esteira da crise. Qual é a posição da Associação sobre este assunto? Quais são os avanços e desafios já superados?
Mais do que uma preocupação do excesso de regulamentação, eu diria que a indústria está preocupada com o potencial real de muitos padrões diferentes e conflitantes de regulação que estão a ser promulgados. Regulamentação é absolutamente uma peça essencial de um vibrante setor de (re)seguros. E a sobrevivência do setor, através da crise de 2008, mostra a boa relação de funcionamento das empresas e seus reguladores em todo o mundo. Agora, os reguladores, em um esforço para resolver a última crise, estão examinando uma variedade de novos regimes e padrões, muitos dos quais têm o objetivo de criar harmonia regulamentar. A realidade é que, em vez de menos padrões iguais , que pode muito bem acabar com vários níveis conflitantes de regulação, uma vez que cada entidade reguladora afirma seus próprios controles. Para atender a esses padrões de conformidade pesada, a indústria seria afetada de forma negativa, provavelmente forçando que provedores menores deixassem o mercado ou retardando investimentos em inovação. Empresas, juntamente com Associação e outras entidades que representam o setor, têm difundido esse argumento sempre que possível e nossa esperança é de continuar nos disponibilizando para ajudar as autoridades a preservarem a solvência das instituições, sem sacrificar o sucesso empresarial das mesmas.

A Associação já conseguiu explicar aos reguladores que as seguradoras são diferentes dos bancos?
Até certo ponto, a indústria tem conseguido afirmar a diferença essencial entre o nosso setor e os bancos. Eu acredito que os esforços da indústria foram inicialmente bem-sucedido em impedir a designação em larga escala de grandes seguradoras como instituições financeiras sistemicamente importantes que necessitam de um maior marco regulatório. Ao mesmo tempo, a recente decisão de aplicar o rótulo SIFI a AIG, quando eles estão fora das linhas de produtos financeiros que levaram à sua necessidade de assistência do governo, corrige um problema que já está superado. Há ainda mais a fazer para que a nossa diferença fundamental fique o mais claro possível.

Acredita que a mudança climática terá um impacto sério sobre a solvência das seguradoras e resseguradoras? O que a Associação fez para ajudar as empresas a este respeito?
Os efeitos persistentes da mudança climática teráo um impacto sobre a indústria de (re)seguros. Por exemplo, as concentrações geográficas tradicionais de riscos devem ser reexaminados, a frequência e a gravidade dos desastres provavelmente vão aumentar ou continuar a ser difíceis de modelar, bem como os impactos aos negócios de nossos clientes de cadeias de fornecimento para o transporte marítimo e para a construção, continuará a ser sentida. No entanto, a solvência não deve ser posta em jogo. O setor já foi recentemente testado através de alguns dos maiores anos da perda do seguro, sem ameaçar a solvência e nós esperamos que continue assim. Vários analistas da indú stria mostram que o setor está adequadamente capitalizado para os riscos que assume.

A Associação Nacional dos Comissários de Seguros (NAIC), entidade representativa dos reguladores nos Estados Unidos, propôs às companhias de seguros informar os riscos financeiros a que estão expostos em face da mudança climática. Você acha que esta atitude pode ser seguido por outros países?

As (re)seguradoras estão avaliando continuamente os seus próprios riscos e fornecem essas avaliações para seus reguladores. Como as empresas continuam a avaliar os riscos associados com a mudança climática, seria naturalmente de se esperar que essas avaliações sejam refletidas no cálculo global da exposição ao risco de uma empresa. A chave é ter uma visão cada vez mais abrangente de risco da empresa. Segregação dessas avaliações em categorias, tais como aqueles associados com a mudança climática, pode vir a ter algum valor intermediário para a análise, mas, em última análise, é ter um quadro geral de exposição.

O que o senhor acha que mudou no mercado de seguros com a crise financeira e a recessão das economias?
O setor de (re)seguros tem se mostrado notavelmente resistentes tanto através da recente crise como durante a recessão que se seguiu. Na verdade, em quase todos os mercados, temos visto um aumento ano-a-ano dos prêmios brutos emitidos de seguro - em especial no setor da vida e nos mercados emergentes. A precificação de seguros continua a ser inferior ao que sentimos que deve ser em relação aos riscos que corremos, mas que também está aumentando em níveis adequados.

Que cenário o senhor prevê para o setor de seguros e resseguros nos próximos anos, com 2013, 2014, e, a longo prazo?
As perspectivas para o setor de (re) seguros ao longo dos próximos anos são de forte crescimento. Esperamos que os preços e os volumes de prêmios sigam em ritmo crescente, embora moderado, em linha com o PIB global. E como nós nos concentramos mais e mais o nosso foco em inovação em nossas ofertas de cobertura – particularmente em áreas de nova tecnologia, acreditamos que continuaremos a ser jogadores vibrantes na economia mundial por muitos anos.

Em quais áreas o senhor acredita que o Brasil pode contribuir para os estudos da Associação?
O Brasil está na linha de desenvolvimento global, tanto em conectividade como em crescimento. Ele tem uma economia forte e bem desenvolvida, que representa mais de 40% dos prêmios de seguros gerais da América do Sul e com previsões que mostram que o mercado pode chegar a US$ 160 bilhões em 2030. Há uma infinidade de programas de investimentos locais, atenção global e uma propagação diversificada de parceiros comerciais e produtos manufaturados que posicionam o país como um local de oportunidades. Tudo isso significa que para o setor de (re)seguros, o Brasil também é um local essencial para fazer avançar a nossa dedicação por meio de soluções de risco complexas, para ajudar as economias a se expandirem trazendo assim o progresso para toda a sociedade. Em todo o setor, todos buscam novas oportunidades de estar envolvido na economia local. 

Fonte: CNseg