O jovem que multiplica ouro na pista

Por Nathan Neumann

Na pista de atletismo do Campus 1 da Furb, a cor predominante é o amarelo. Luz essa que vem do sol e é refletida por medalhas de ouro. O dono delas é o jovem José Alexandre Martins da Costa, que atende pelo apelido de Petrucinho. A luz só fica ofuscada pelo sorriso largo do garoto de 15 anos com ar de quem ficou surpreso após sair do Brasil com a pretensão de melhorar o próprio tempo e voltou do Mundial de Jovens com três medalhas de ouro no peito: nos 200 metros rasos, nos 100 metros rasos e no salto a distância.

A primeira conquista foi nos 200 metros rasos, com direito a fortes emoções. Após ficar em segundo lugar, a comissão da prova revisou os tempos e garantiu o primeiro lugar para o atleta de Blumenau com a marca de 22’99”. A segunda prova arrematada foi a dos 100 metros rasos. Petrucinho fez o tempo de 11’62”. No salto a distância, conseguiu a marca de 5,74m.

Para quem saiu do Brasil em direção à Suíça com a pretensão de apenas melhorar os tempos e reavaliar as performances, ganhar um ouro já saiu melhor do que a encomenda, ainda mais multiplicado por três, como lembra Petrucinho:

- É realmente incrível. Fui para melhorar meu tempo, para disputar sem a pretensão de chegar na frente e conseguir três assim. Nem nos maiores sonhos. Quando ganhei a primeira já fiquei assim “caraca, ganhei um mundial”. Aí, depois ganhei mais duas e foi muito bom. Inesquecível.

Um trabalho de preparação feito com carinho e dedicação também da treinadora, orgulhosa por ver o menino chegar até o topo do pódio.

- É muito gratificante. Muito bom ver o nosso trabalho ganhando força, sendo reconhecido. E pensar que o atleta que treino é o melhor do mundo na categoria. Falta palavras para descrever a sensação – relata Gabriela Maas Vieira, a Gabi.

Motivação Especial para o garoto

José Alexandre não ganhou o apelido de “Petrucinho” à toa. Ele é fã Petrúcio Ferreira, medalha de ouro nos Jogos Paralímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, na categoria 100 metros T47 masculino. É a mesma categoria que atualmente o paratleta de Blumenau disputa.

- Ele é meu grande ídolo, me inspiro muito nele. Já vi todos os vídeos dele na internet e toda vez me emociono, pois a história de vida dele é incrível. Eu me identifico demais. Até as pessoas brincam que sou o novo Petrúcio, daí veio o apelido – lembra Petrucionho.

Fora das pistas de atletismo, o blumenauense gosta de jogar bola, jogar na internet e mexer nas redes sociais. Mas, para ele, nem sempre a rotina foi tranquila. Ele nasceu com má formação congênita no braço esquerdo e afirma que o convívio com outras crianças durante a infância, sobretudo na escola, teve capítulo difíceis de aceitação da própria condição física.

- Quando cheguei aos oito anos, comecei a me questionar. Via as outras crianças com os dois braços e ficava me sentindo diferente, de um jeito estranho. Quando chegava em casa depois da aula, perguntava para minha mãe o motivo de eu ser assim, e ela tinha de me explicar. Isso aconteceu várias vezes até que entendesse – lembra.

Ele conta ainda que toda a angústia terminou quando ainda criança jogava futebol na quadra da Escola Básica Municipal Visconde de Taunay, no bairro Itoupava Central, em 2015. Um professor viu o desempenho de José enquanto corria atrás da bola e indicou o garoto para o projeto do paradesporto escolar. A partir daí, a vida do menino que se questionava sobre a condição física mudou. Alterou a rotina, que se divide entre a vida escolar e os treinos, a disciplina e o entendimento da capacidade para o esporte. E transformou um menino em um tricampeão mundial. Tudo em apenas quatro anos.

Quando perguntado sobre onde ele quer chegar, os olhos brilham e o sorriso largo de adolescente se abre para responder com orgulho e cheio de vontade de falar do sonho:

- A gente sempre tem os pés no chão. Vou trabalhar muito. Tenho sempre comigo a frase “força, foco e fé” para chegar onde quero, as Paralimpíadas de Paris, 2024, e conquistar medalhas para o Brasil.

Fonte: Jornal de Santa Catarina