Previdência, compliance e inovação em debate no seminário da Folha de S.Paulo e CNseg


Da esquerda para a direita: a colunista da Folha e planejadora financeira pessoal, Marcia Dessen; o presidente da FenaPrevi, Edson Franco; o diretor presidente da Bradesco Vida e Previdência, Jorge Nasser, e a jornalista e mediadora Jana Cunha

Após a abertura realizada pelo presidente da CNseg, Marcio Coriolano, no seminário “Seguro, Previdência e Inovação”, organizado pela Folha de São Paulo, em parceria com a CNseg, em 28 de junho, na sede do jornal (leia aqui a matéria da abertura), os debates prosseguiram, com o diretor presidente da Bradesco Vida e Previdência, Jorge Nasser, afirmando que “a boa notícia é que viveremos mais”, durante mesa que debateu a reforma da previdência e as oportunidades e potencial para o mercado privado.

Entretanto, essa maior longevidade, somada à redução da mortalidade infantil e da taxa de fecundidade dos brasileiros, impõem grandes desafios para a previdência pública, visto que trata-se de um sistema de repartição, onde a população economicamente ativa ajuda a arcar com as despesas dos aposentados, como lembrou o presidente da FenaPrevi, Edson Franco, também participante da mesa mediada pela jornalista Joana Cunha.

Atualmente, no Brasil, há uma proporção de 10 trabalhadores para cada aposentado. Em 2050, afirmou o presidente da FenaPrevi, serão apenas 2,5 trabalhadores para cada aposentado. E em um quadro desses, com cada vez menos gente disponível para ajudar a financiar a aposentadoria de muitos, o sistema fica insustentável, complementou.

E para solucionar essa questão, prosseguiu Edson Franco, a reforma da previdência pública, tanto em termos paramétricos como estruturais, faz-se mais que necessária.

Infelizmente, porém, ainda não há um consenso da população em relação à necessidade dessa reforma, como apontada em pesquisa recentemente realizada pela FenaPrevi, que identificou que 51% dos brasileiros consideram o sistema público sustentável.

Essa percepção, porém, não é compartilhada pela terceira participante da mesa, a colunista da Folha e planejadora financeira pessoal, Marcia Dessen, para quem o sistema público é mesmo insustentável e obrigará que os brasileiros formem reservas financeiras para garantir, na aposentadoria, o padrão de vida atual.

Para isso, porém, disse ela, é necessário um forte trabalho de educação financeira, incutindo no brasileiro a cultura de poupar e conscientizando-os da necessidade de constituir reservas para o futuro.

E, segundo Edson Franco, uma das razões para essa falta de preocupação com investimentos de longo prazo é o fato de termos vivido por muito tempo em um regime de hiperinflação, quando isso era inviável. E outra razão, segundo Marcia, é o fato de os produtos de seguro ainda serem caros para a população de baixa renda no Brasil, onde apenas 50% da população tem conta em banco.

Mas superado esse obstáculo da conscientização do brasileiro, prosseguiram os palestrantes, ainda é necessário que os produtos de previdência privada sejam melhor entendidos. “Tem gente que abre uma previdência privada para trocar de carro no fim do ano”, afirmou Nasser, para quem a confusão entre investimentos de curto, médio e longo prazo é um grande equívoco. “O brasileiro opta pela caderneta de poupança porque é um produto de fácil entendimento, com as mesmas taxas para todos”, complementou Marcia, já ao fim da mesa.

Os limites da cobertura de seguros e compliance


Da esquerda para a direita: o sócio da SABZ Advogados, Pedro Guilherme de Souza; a advogada especializada em direito securitário, Paula Mattos, e o jornalista e mediador Everton Lopes Batista

A mesa realizada logo em seguida tratou dos limites da cobertura de seguros e compliance, contando com a participação da advogada especializada em direito securitário, Paula Mattos Luccheta, e do sócio da SABZ Advogados, Pedro Guilherme de Souza,  que lembrou que o seguro é um dos elementos do bom compliance.

Mediado pelo jornalista Everton Lopes Batista, os debates giraram principalmente em torno do seguro D&O, sigla para “Directors and Officers Liability Insurance”, modalidade que visa proteger o patrimônio de administradores de empresas, quando responsabilizados, judicial ou administrativamente, por decisões que causaram danos materiais, corporais ou morais involuntários a terceiros.

De acordo com Paula Luccheta, a busca pela proteção por esse seguro, bem como as consultas para um melhor entendimento sobre o mesmo, aumentaram significativamente com a operação Lava-Jato. Outro fator que também contribuiu para esse crescimento da procura foi o aumento do valor das multas aplicadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o que tem levado muitos executivos a também contratarem, por conta própria, o seguro, que geralmente é contratado pelas empresas, para poderem aumentar o valor da cobertura.

Pedro Guilherme de Souza lembrou, porém, que o seguro não protege os executivos contra crimes dolosos, onde o autor teve a intenção de cometer o delito.

Outro seguro debatido na mesa foi o que protege contra riscos cibernéticos, que também passou a ter mais visibilidade após a aprovação da norma europeia que trata da proteção de dado, cuja sigla é GDPR (Regulamento Geral de Proteção de Dados da União Europeia).

E essa maior visibilidade é compreensível na medida em que a norma visa proteger os dados de cidadãos europeus em qualquer parte do mundo, impactando todas as empresas e, particularmente, as de varejo, como lembrou Paula.

Mas, segundo Pedro, além das empresas, as seguradoras, reguladores e o governo também precisarão se adequar a essa nova realidade. As seguradoras precisam se adequar porque a nova norma europeia possui uma série de exigências não compatíveis com os contratos desse tipo de seguro. E os reguladores e o governo porque as normas atuais estão defasadas em relação a questão.

Mercado digital e inovação


Da esquerda para a direita: a consultora jurídica da CNseg, Gloria Faria, o presidente do Sincor-SP, Boris Ber; o fundador e CEO da Direct One, Fernando Wosniak Steler, e o jornalista e mediador Everton Lopes Batista

A última mesa do evento tratou do mercado digital e de inovação, contando com a participação presidente do GNT de Novas Tecnologias da Associação Internacional de Direito de Seguros (AIDA-Brasil), Gloria Faria; do fundador e CEO da Direct One, Fernando Wosniak Steler, e do presidente do Sindicato dos Corretores de São Paulo, Boris Ber, mediado também pelo jornalista Everton Lopes Batista.

O primeiro a ter a palavra foi o fundador e CEO da Direct One que, entre outros serviços, atua fazendo transações envolvendo mensagens e documentos via blockchain. Para ele, o blockchain, também conhecido como protocolo da confiança, provocará uma revolução na vida das pessoas no mesmo nível causado pela revolução da internet e da prensa tipográfica de Gutemberg, ao permitir transações absolutamente confiáveis, mesmo quando não se conhecer a outra parte.

Concordando com Fernando, Gloria Faria afirmou que o blockchain é um dos pilares dessa 4ª revolução industrial que atravessamos, que obrigará que as seguradoras se reinventem mas que, em sua opinião, será muito positiva para o setor.

E, contrariando algumas previsões, essa revolução digital também será positiva para os corretores, beneficiando a distribuição e o segurado e dando mais credibilidade ao seguro, segundo o presidente do Sincor-SP. Entretanto, ressaltou Boris Ber, os corretores e a regulação precisam evoluir também, visto que, por exemplo, o processo de contratação de seguro de automóvel não mudou quase nada nos últimos 50 anos.

Glória Faria, porém, informou que a Susep está atenta à questão, tendo instituído recentemente a Comissão Especial de Inovação e Insurtechs justamente para tratar das novas tecnologias. Entretanto, lembrou, o mercado segurador é, por sua natureza, tradicional e até mesmo asinsustechs – que no Brasil já são 78 - não costumam ser disruptivas, atuando principalmente na evolução dos processos operacionais e de comercialização.

E falando-se de tecnologia, o problema dos crimes cibernéticos não poderia deixar de ser abordado. Crimes que, segundo Gloria Faria, aumentam continuamente no Brasil e no mundo. A contratação de seguro contra riscos cibernéticos, inclusive, aumentou em 200% no Brasil, somente no último ano, informou ela, sinalizando um aumento da consciência das empresas em relação ao risco.

Os debates realizados durante o seminário foram também tema de caderno especial publicado pelo jornal neste último sábado, 30 de junho.

Fonte: CNseg