Telemetria para precificação
Quem acompanha a Revista CESVI já sabe das principais funcionalidades dos sistemas de bloqueio e rastreamento de veículos: localização e bloqueio em caso de roubo ou furto, acionamento de equipes de resgate, monitoramento de carga transportada, entre outras possibilidades. Mas, além dessas, está surgindo uma nova oportunidade, muito interessante para as companhias seguradoras, que é a aplicação desses sistemas para a formulação de um seguro baseado no uso do veículo. Esse tipo de seguro já vem sendo utilizado em alguns países, só que ainda é novidade por aqui. Baseia-se na coleta de informações por meio de um dispositivo instalado na porta OBD II do veículo, ou até mesmo por aplicativos de smartphones. Esse dispositivo, em vez de fazer o rastreamento, transmite parâmetros de condução do veículo para uma central de monitoramento. Essas informações, armazenadas no dispositivo, podem ser valiosas para a seguradora, tornando possível determinar o perfil de condução do veículo – ou, mais precisamente, do seu principal usuário. E isso é uma ferramenta e tanto para a companhia fazer uma precificação absolutamente técnica de um seguro, extremamente personalizada. E justa.
É importante destacar que a tecnologia à disposição no Brasil para o rastreamento de veículos já possibilita a identificação do perfil de condução do motorista. O que falta em nosso mercado é a avaliação de quais empresas estão capacitadas, em termos de estrutura e tecnologia, e com profissionais preparados para realizar a instalação desse tipo de sistema – uma vez que serão necessárias intervenções para a coleta de sinais, como a rotação do motor (RPM), e a instalação de sensores para a identificação da velocidade instantânea e a velocidade na chuva, por exemplo. Intervenções malfeitas no chicote original do veículo podem ter como consequência avarias do sistema eletrônico e, em alguns casos, a perda da garantia oferecida pela montadora. Condições para o monitoramento de aceleração ou desaceleração do veículo, agressividade nas curvas, permanência ou entrada e saída em regiões com maior ou menor índice de roubo, já estão presentes na maioria dos dispositivos comercializados. Mas essas funções permanecem inativas em muitos equipamentos. A tecnologia embarcada mais utilizada nos veículos nos EUA é bastante simplificada no que diz respeito à sua instalação, pois o equipamento é conectado na porta OBD II do veículo, dispensando a necessidade de intervenção no chicote original para a coleta de informações de condução – como é feito com os sistemas tradicionais de rastreamento no Brasil. Contudo, é muito importante destacar que, se por um lado a instalação desse modelo americano é simples, por outro facilita a localização física do equipamento pelo ladrão, tornando-o mais vulnerável que os pares vendidos aqui. Podemos dizer que a tecnologia de rastreamento à disposição no Brasil atende a dois requisitos importantes para o mercado segurador: a proteção do bem monitorado e a possibilidade de identificação do perfil de condução do proprietário do veículo. Essa última capacidade só precisa ser devidamente explorada por aqui – com ganhos para seguradoras e segurados. Sempre lembrando que uma eventual adoção desse uso da telemetria deve passar pela discussão das restrições legais quanto ao monitoramento de determinados dados do cliente.
Definição de telemetria
É uma tecnologia que permite a medição e comunicação de informações do veículo com uma central de monitoramento. A palavra é de origem grega: tele = remoto e metron = medida.
Todo sistema precisa ter...
Se esse recurso voltado para a precificação do seguro com base no uso vingar aqui no Brasil, vale lembrar que os sistemas precisam contar com algumas características essenciais. Veja abaixo.
• Equipamento instalado de forma adequada no veículo.
• Sensores que identifiquem o status de uma porta, por exemplo, e atuadores (no caso de veículos de transporte), como travas que bloqueiam a quinta roda.
• Profissionais treinados para instalar e atender os clientes.
• Software de monitoramento adequado ao serviço prestado. O software deve contar com um banco de mapas que seja atualizado periodicamente, devido às constantes alterações das rotas para tráfego em nosso país. Além disso, o software deve possibilitar outros recursos, tais como:
• Criação e edição de pontos de referência que facilitem a operação.
• Visualização de alertas instantâneos, relacionados ao funcionamento dos sistemas embarcados em veículos e à estabilidade do sinal das operadoras de telefonia móvel.
• Relatórios gerenciais, para traçar o perfil de condução do motorista.
Bom comportamento é recompensado
Mas não são só as seguradoras que podem se beneficiar desses recursos de telemetria. Para os condutores mais jovens, essa possibilidade pode ser um importante aliado na hora de cotar o seguro do carro. Justamente porque, na hora em que a seguradora faz a análise do perfil do condutor, os bons motoristas acabam pagando pelos maus. Mesmo pertencendo à faixa de risco dos condutores mais jovens – que se arriscam mais ao volante e, portanto, pagam mais pelo seguro –, um motorista cauteloso terá seu bom comportamento comprovado pelo monitoramento do seu veículo. E, assim, pode ter uma análise personalizada – e o direito a pleitear um custo especificamente relacionado ao seu verdadeiro risco.
Motoristas aprovam
De acordo com a Towers Watson, empresa de consultoria dos Estados Unidos, cerca de 85% dos motoristas pesquisados concordam em disponibilizar as informações necessárias para traçar seu perfil de condução – caso recebam um benefício em forma de desconto na apólice na hora de contratar o seguro para o carro. Nos Estados Unidos, esse índice é de 79% e no Brasil, chega a 92%. Outro número interessante dos EUA diz que 90% dos entrevistados concordam em disponibilizar os dados simplesmente se não houver acréscimo no custo do seguro. Na contramão dessa nova tendência aparecem os condutores mais velhos. Porque, assim como as informações monitoradas podem provar que um motorista jovem não é necessariamente ousado ao volante, elas também podem identificar os mais idosos que nada têm de cautelosos. Talvez seja por isso que apenas 27% dos entrevistados na faixa de idade entre os 50 e 64 anos tenham concordado em divulgar suas informações para as seguradoras.
Um tesouro de informação
Confira a seguir as informações monitoradas por estes sistemas que podem ser valiosíssimas na avaliação do perfil de condução do veículo segurado.
Aceleração/desaceleração
Pode indicar de o motorista tem um comportamento agressivo no volante.
Velocidade
Pode indicar riscos maiores para condutores que costumam rodar em velocidade acima dos limites permitidos.
RPM
Pode indicar se a condução é feita de forma correta, com trocas acertadas de marcha por exemplo.
Tempo de Uso
Pode indicar um risco maior para usuários que ficam mais tempo expostos.
Horário mais utilizado
O motorista usa muito o carro na madrugada? Isso pode ser indício de um comportamento de risco.
Distância percorrida
Quantos quilômetros o condutor percorre diariamente? Isso influencia no risco.
Locais mais visitados
Por sinais de GPS, o sistema pode indicar se o carro roda muito em regiões com alto índice de roubo e furto.
Identificação de colisão
Pode auxiliar o condutor na hora de um resgate, agilizando a localização de evento de batida.
Por Mario Lopes e Djone Pereira
Fonte: Cesvi Brasil
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