Em cenário de desastres climáticos crescentes, seguro é aliado

O aumento da frequência dos desastres provocados pelo aquecimento global é uma realidade e nenhum país está ileso, inclusive, os países da Europa, de acordo com Laurence Tubiana, CEO da Fundação Europeia para o Clima, uma das arquitetas do Acordo de Paris, em 2015.

“Mesmo economias diferentes estão sendo afetadas por desastres climáticos e o seguro é um importante aliado para a prevenção dos riscos, mas é preciso saber mapear o que acontece nas regiões afetadas, a longo prazo, e ampliar o acesso aos recursos, por meio de investimentos e adaptações aos problemas provocados pelo clima”, destacou a executiva,, nesta segunda-feira (10/11), na abertura dos debates na Casa do Seguro, que ocorrem em paralelo à 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas, a COP30, em Belém.

O evento teve a participação de especialistas nacionais e internacionais sobre a sustentabilidade e a necessidade de proteção contra os riscos climáticos. “Acredito que os seguros são importantes nos debates da COP30, porque temos riscos que precisam ser cobertos depois dos desastres e as vítimas precisam de suporte. A economia global vai entrar nessa tendência, incentivando proteções aos riscos. O seguro faz parte da política de adaptação e isso precisa ser entendido nas negociações da Conferência”, defendeu.

A especialista lembrou que, após 10 anos do Acordo de Paris, essa importância do seguro como aliado contra os riscos climáticos, finalmente, está se tornando mais evidente devido aos eventos recentes em vários países, inclusive, no Brasil. “E a COP 30 de Belém é o lugar certo para esse debate”, frisou.

O presidente da CNSeg, Dyogo Oliveira, reforçou que a indústria do seguro tem interesse em abraçar essa agenda e que a Casa do Seguro, inaugurada na COP30, estará presente nas futuras conferências climática da ONU. “A origem da indústria do seguro é o risco climático, pois teve origem a partir do risco das navegações. Sequer temos desculpa de que não lidamos com risco climático. Portanto, temos que nos abraçar e adotar essa agenda com muita força nesse chamado que é fundamental”, afirmou.

Na avaliação de Oliveira, é preciso dar um passo adiante e liderar essa agenda. “Não somente porque existe um enorme mercado a ser desenvolvido, mas fundamentalmente, porque, se não cumprirmos a função social, perderemos a legitimidade do negócio do seguro”, argumentou.

O executivo e ex-ministro do Planejamento reconheceu que ainda há uma lacuna muito grande no país, que é maior do que a média global, de 50% a 60%, superando 80% na maioria dos casos. Em 2024, por exemplo, nas enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul, Oliveira contou que a lacuna de proteção das vítimas sem seguro chegou a 85%.

E, nesta semana, em Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, onde o tornado de 250km/h devastou 90% da cidade sulista, deixando um saldo de seis mortos e mais de 800 feridos, o número de pessoas com seguro entre as vítimas que podem ter algum tipo de indenização é muito pequeno. “Não é uma tarefa trivial estarmos aqui hoje, e estaremos nas próximas COPs, porque é uma construção de um relacionamento”, disse.

O presidente da CNSeg lembrou que a origem da indústria do seguro é o risco climático, pois surgiu a partir do risco das navegações. “Sequer temos desculpa de que não lidamos com risco climático”, defendeu.

O holandês Aaron Vermeulen, líder global de práticas financeiras do WWF International, reforçou o coro sobre a atualidade desse debate em nível global, em meio aos danos causados pelo Furacão Melissa na Jamaica e dos tufões no sudeste asiático.

“Dentro desse contexto, o que o WWF está buscando para a lacuna de proteção de seguros é dar apoio para o levantamento de prêmios de risco do seguro e a possibilidade de esses seguros serem acessíveis para as pessoas”, afirmou. “Queremos que esse pessoal responda com estratégias que vão além da redistribuição dos riscos, com participação dos governos, ampliando a proteção e aliviando as perdas quando acontecem esses desastres”, afirmou.

“Todos nós sabemos que essa lacuna de segurança é causada pelo aumento severo das mudanças climáticas e pela degradação da natureza. Mais de 60% das florestas globais foram destruídas no último século e perderam a função de proteção contra as crises climáticas”, alertou.

O presidente da Bradesco Seguros, Ivan Luiz Gontijo Júnior, lembrou que, desde a conferência Rio+20, em 2012, que precedeu as COPs, existe um esforço da indústria para mostrar que o mercado de seguros é relevante para contribuir para a sustentabilidade da economia. “O lastro que oferecemos como um todo para as aplicações em letras do Tesouro Nacional e para dar funding para que os governos possam implementar as ações sociais é um pouco desconhecido”, afirmou. 

Butch Bacani, chefe de Seguros da Iniciativa Financeira da ONU, relembra que, em 2012, participou do grupo que construiu os Princípios para a Sustentabilidade de Seguros (PSI), e, naquela época, o Bradesco foi um dos primeiros parceiros nessa empreitada. “Desde então percorremos um caminho engajando os órgãos reguladores sobre políticas para trazer essa agenda para a discussão e a regulamentação. E, hoje, o PSI não é uma história só do Brasil e da União Europeia, mas está se espalhando pelo mundo”, afirmou.

Fonte: Correio Braziliense