OIT sugere modelo de apólice para população carente
O sucesso da implantação do microsseguro no Brasil depende da utilização dos canais de distribuição mais adequados, de coberturas que atendam de fato às necessidades do público-alvo e da criação de empresas especializadas, ou sucursais de seguradoras voltadas especificamente para esse segmento.
A avaliação é do consultor da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Craig Churchill, que preside grupo de trabalho sobre microsseguro do Grupo Consultor para Assistência aos Mais Pobres (CGAP, em inglês) daquela entidade. Segundo ele, a venda do produto deve ser feita por canais aos quais o consumidor já esteja acostumado: “é muito difícil vender apólices individuais nesse segmento. É mais fácil oferecer a cobertura para grupos. Então, os melhores canais para distribuição são as organizações que a população já confia e tem algum tipo de relação”, acentuou, citando cooperativas, entidades religiosas e sindicatos como boas alternativas.
Ele entende que é possível atrelar o microsseguro a programas sociais do Governo brasileiro, tais como o Bolsa Família, principalmente como incentivo ao pagamento do seguro e na oferta de coberturas básicas.
Craig Churchill esteve no Brasil, recentemente, para discutir com seguradores e dirigentes de órgãos reguladores o potencial do microsseguro no Brasil. Para ele, desenvolver a cultura do microsseguro “leva tempo”. O consultor revelou que a India é o País onde esse tipo de produto está mais desenvolvido, devido á estratégia adotada pelo Governo local, que exigiu como contrapartida, no momento da privatização do setor de seguros, no início desta década, que as empresas direcionassem seu foco também para oferta de cobertura aos mais pobres, nas regiões carentes e áreas rurais.
Por essa razão, defendeu a criação de campanhas de conscientização de seus benefícios entre a população de baixa renda. Além disso, o consultor da OIT afirma que as seguradoras precisarão conquistar o público com um elevado nível de confiança, por meio de coberturas adequadas e, principalmente, rapidez na liquidação de sinistros.
Entre as coberturas que mais se encaixam no modelo ideal imaginado pelo consultor e que já vêm sendo comercializadas em outros países, estão os seguros prestamistas (que cobre o pagamento de prestações ou a quitação do saldo devedor de bens ou planos de financiamento adquiridos pelo segurado, em caso de morte, invalidez permanente, invalidez temporária e desemprego); e seguros complementares de saúde e vida. “Na Índia, faz sucesso o seguro que cobre o custo do translado de pessoas enfermas aos hospitais ou cobrem o período de sua inatividade, por meio do pagamento de diárias”, citou.
Outro ponto importante defendido pelo consultor é que os produtos sejam o mais simples possível e com o mínimo de riscos excluídos. Ele considera importante também que as seguradoras criem sucursais ou mesmo departamentos exclusivos para o microsseguro, com o pagamento de salários inferiores aos da média do mercado, para que se possa reduzir os custos administrativos.
Além disso, para fugir da inadimplência e manter a motivação do consumidor nesse tipo de seguro, o consultor da OIT sugere que sejam oferecidos “estímulos” aos segurados, tais como filtros de água e mosquiteiros, como já acontece em países tais como a própria Índia e Uganda.
Ele propõe ainda que as taxas sejam bem baixas, até porque, assegurou, os índices médios de sinistralidade são bastante reduzidos em todo o mundo nesse tipo de seguro. Voltando a citar Uganda, Craig Churchill revelou que, lá, as seguradoras começaram praticando taxas de até 2% do risco segurado, mas, hoje, esse percentual já está em 0,5% nos ramos de vida e acidentes pessoais.
Já o presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg), João Elisio Ferraz de Campos, estima que o mercado de microsseguro poderá incorporar mais de 100 milhões de brasileiros, que hoje não têm acesso a qualquer tipo de cobertura do seguro. Ele comemorou o fato de a OIT ter liberado US$ 500 mil para programa desenvolvido pela CNSeg visando à divugação do microsseguro. Além da entidade brasileira, irão receber recursos instituições da Colômbia e do Quênia. “Temos o desafio de fazer o seguro mais conhecido para 100 milhões de pessoas e, até por isso, acreditamos que aqueles recursos da OIT deveriam ser maiores”, frisou João Elisio.
Fonte: Jornal do Commercio