Inspeção vai exigir reciclagem de veículos no Brasil
A aprovação pela Câmara dos Deputados do Projeto de Lei 5.979/2001, que trata da Inspeção Técnica Veicular (ITV), além do impacto político que poderá causar, vai ressuscitar um debate adormecido há quase dez anos: a destinação adequada dos automóveis sem condições de circular no país. Antevendo a discussão, o Ministério das Cidades, por meio do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), solicitou à Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) um estudo sobre a possibilidade de ser criado um programa nacional de reciclagem de veículos, envolvendo desde a indústria automobilística até as siderúrgicas.
O Denatran não confirma sua atuação direta no projeto, mas admite a relevância do tema. Em nota, ressaltou considerar "que a previsão dos procedimentos de destinação dos veículos reprovados na ITV é necessária na regulamentação da matéria". Executivos ligados à indústria automotiva também concordam com o fato de que a inspeção vai retirar das ruas um grande contingente de veículos, e que os pátios existentes não suportariam o volume adicional.
O tamanho da frota suscetível ao programa de reciclagem é desconhecido, assim como o número de veículos que realmente rodam no país. Mas é possível ter uma idéia do que o plano pode representar se consideradas as estimativas do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças). Conforme os dados da entidade, a frota brasileira atual é de 33 milhões de unidades, considerando automóveis (73,3%), motos (22,1%), caminhões (3,7%) e ônibus (0,9%). A idade média da frota é de 9,1 anos, sendo que quase 12% compõe o grupo chamado "frota marginal", onde estão os veículos com pendências de documentação, multas e falta de condições de segurança. Na teoria, seriam esses os primeiros a caírem na malha fina da inspeção e, por conseqüência, os primeiros a serem retirados de circulação com chances de irem para as prensas de reciclagem.
Para José Edison Parro, presidente da AEA, o processo completo de reciclagem deve envolver não só as montadoras e fabricantes de autopeças, mas também as siderúrgicas, os produtores dos chamados "componentes poluídos" e o poder público. "Tecnicamente, (o processo) será tão complexo quanto forem os modelos de veículos a serem reciclados", declarou o engenheiro.
Dentro da AEA, foi criada uma comissão responsável pela elaboração do plano de reciclagem. (Clipp-Seg Online/Valor Econômico)