Economista acredita que Brasil pode sair fortalecido da crise

Com a intenção de explicar os motivos que levaram o mundo a uma grave crise financeira e as suas consequências, principalmente para a economia brasileira, o economista Claudio Contador, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Escola, ministrou a palestra "A crise internacional e seus efeitos no Brasil", no dia 12 de fevereiro, que lotou o Espaço Cultural Funenseg, no Rio de Janeiro. Segundo ele, as sementes da crise remontam a pelo menos três décadas.  "A crise atual é uma mistura de imprudência, controles falhos, regulação omissa, falta de fiscalização, governos lenientes e despreparados, instituições e executivos corruptos, e crenças infantis na infalibilidade dos mercados". O Choque do Petróleo, na década de 1970, mostrou a incapacidade técnica e financeira dos órgãos internacionais em dar soluções adequadas aos desequilíbrios das contas externas dos países mais atingidos. "O sistema financeiro privado foi chamado para ajudar e com ele veio o capital especulativo. O mercado secundário para empréstimos hipotecários surgiu nesse período, nos Estados Unidos", contou. Já a década de 1980 foi marcada pela crise das dívidas externas e a mega-inflação. "Houve uma expansão do modelo O&D, ou seja, originar e distribuir. A instituição que concedia o crédito inicial já o fazia com o objetivo de passar adiante via securitização e mercado secundário. A avaliação do risco era diluída entre diversas instituições públicas e privadas", explicou Contador. Alguns países da América Latina chegam à década de 1990 adotando programas de ajustes mais sérios e ficando menos receptivos aos investimentos financeiros. "O capital especulativo se deslocou então para outros nichos. Houve uma febre das dot.com, securitização de dívidas e subprimes". Somado a essa linha de fatos, os acordos da Basiléia I e II conferiram poder às agências privadas de rating e a pressão de clientes e a concorrência entre agências forçaram a adoção de critérios menos severos. Os modelos para avaliação, gestão de risco, sistemas de controles internos e as agências de rating ficaram relaxados. "A globalização financeira estabeleceu padrões de solvência com falhas e ainda assim não respeitados nem fiscalizados". "Para completar, o governo Clinton estimulou o crescimento do segmento subprime e os bancos Fannie Mae e Freddie Mac, que possuíam US$ 1 trilhão em hipotecas, relaxaram os critérios para concessão de novos empréstimos hipotecários e para funcionamento do mercado secundário de securitização", avaliou o diretor. "A insolvência do sistema financeiro privado fica transparente em 2007. A quebra do Lehman Brothers inicia crise sistêmica que derrubou Morgan Stanley, T. Rowe Price, IndyMac, AIG, Washington Mutual e outros". Hoje, a tendência, segundo Contador, é a desvalorização relativa das moedas dos países com déficit em conta corrente, como Estados Unidos, Europa Oriental e parte da América Latina, e a valorização das moedas da Europa Ocidental e Ásia. "Parte do ajuste pode ser através das taxas de juros, com aumento nos países deficitários e queda nos superavitários. Na média mundial, as taxas de juros devem cair em 2009", disse. Quanto ao Brasil, o economista acredita que o País está sustentado em pilares fortes, como a oferta de alimentos e de energia, a qualidade da política monetária, instituições fortes e projeto nacional de inserção social. "O Brasil pode sair fortalecido da crise, desde que não afrouxe os controles e a qualidade da política macroeconômica". Fonte: Funenseg