Microsseguro é o remédio para dar continuidade à inclusão social, diz Cenfri

O movimento de migração de mais de 20 milhões de brasileiros da classe E para as classes C ou D nos últimos anos, uma proeza aos olhos do mundo, pode virar um castelo de areia na eventualidade de crises econômicas que afetem duramente o País ou de infortúnios que atinjam famílias que neste momento sobem alguns degraus da pirâmide social, como a morte do chefe da casa ou doenças incapacitantes.  E pode pegar a nova classe média brasileira no contrapé, porque esta ignora três pré-requisitos para resistir ao revés: educação de boa qualidade, baixa capacidade de poupança e ausência de seguros que, direta ou indiretamente, podem cobrir os riscos do inesperado.  As advertências partem do consultor Hennie Bester, do Centre for Financial Regulation and Inclusion (Cenfri). Afinal, hoje a nova classe média depende ainda muito da educação pública, que está entre as piores no ranking da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE), comprometendo a manutenção da ascensão social; prefere o consumo à poupança e, em virtude disso, eleva arriscadamente seu endividamento. 

E quem pagaria a conta deste cenário sem nenhum tom róseo? No atual momento, o governo, cujos gastos sociais teriam ser ampliados para atender essas pessoas, com impactos na política fiscal. Mas tais despesas poderiam ser partilhadas com as seguradoras- com a vantagem de manter o processo de inclusão social perseguido pelo governo- desde que o esperado marco regulatório do microsseguro se concretize, com os incentivos fiscais necessários para manter os custos operacionais baixos e os prêmios reduzidos.

É justamente o argumento de proteção social compartilhada que deve ser levado às mesas de negociações pelas seguradoras para vencer uma suposta indiferença em diversas esferas do governo, sobretudo no Ministério da Fazenda, para implementar o microsseguro, recomenda o consultor Hennie Bester, do Centre for Financial Regulation and Inclusion (Cenfri). O especialista, que encerra nesta sexta-feira visita de uma semana ao País, colhe subsídios para um documento que servirá de diretriz para as discussões do marco regulatório do microsseguro/seguros populares, de volta à pauta do Congresso Nacional. A aprovação do marco regulatório é tentada desde 2009, sem sucesso.

Hennie Bester e Christine Hougaard, também consultora do Cenfri, participaram de uma reunião com seguradores, na sede da CNSeg, no final desta quinta-feira (14) para fazer um balanço preliminar das perspectivas do microsseguro no País, após uma série de encontros com representantes do mercado segurador, Susep, Secretaria de Política Econômica e Ministério do Desenvolvimento. O especialista fez as contas e conclui que um universo entre 40 milhões e 70 milhões de pessoas podem demandar os seguros populares ou microsseguros no País. Ele lembra que este mercado potencial, na verdade, já está ativo, tendo em vista a existência de algo entre 23 milhões e 50 milhões de seguros de garantia estendida e prestamista, refletindo diretamente o consumo exacerbado.

Para ele, é necessário uma guinada no consumo de seguros para riscos graves, como os decorrentes de saúde, falecimento ou incapacitação, que provocam corte na receita familiar ou crescimento incontrolável das despesas. Aliás, as medidas necessárias para ampliar a demanda do microsseguro e seguros populares nas classes C/D serão detalhadas na palestra que Hennie Bester fará em sua volta ao Brasil, em junho, para participar da 5ª Conseguro (8 e 9), em Brasília, a convite da CNSeg, promotora do evento.

O Cenfri é uma think tank da África do Sul encarregada de estimular ações em prol da expansão de serviços financeiros voltados para a baixa renda em todo o mundo.

Fonte: Portal Viver Seguro