Portal Viver Seguro entrevista: Paulo Robson Alves, sobre conjuntura e Transportes

A subscrição de riscos no ramo de Transportes deve ser cada vez mais cuidadosa, porque há um claro avanço da sinistralidade da carteira, puxada pela ineficiência do modal terrestre, preços irreais, infortúnios como quedas de barreiras, enchentes e interrupção de estradas. Alia-se a este quadro preocupante, motoristas despreparados ou sobrecarregados, forte aumento das commodities, economia em desaceleração e novos players nesta modalidade. Na entrevista abaixo, o presidente de Comissão de Transportes da FenSeg, Paulo Robson Alves, avalia a conjuntura do seguro de Transportes neste ano.

O ano começa com estradas fechadas por inundações em várias partes do País, quedas de barreiras, áreas isoladas e, em consequência, danos a cargas perecíveis. Há sinais de aumento da sinistralidade no ramo de Transportes?
O seguro de Transportes, pelo seu próprio dinamismo, sofre reflexos das fragilidades da matriz de transportes, uma vez que 60% da distribuição das cargas no Brasil ocorre pelo modal terrestre. Então, considerando-se a falta de motoristas capacitados no mercado, o que, segundo as grandes transportadoras, produz ociosidade nos pátios dessas empresas, estradas em péssimo estado de conservação, longo turno de viagens, o que obriga motoristas a lutarem contra o sono e os incentiva ao uso dos “rebites” para ficarem acordados e cumprirem prazos apertados de entrega das cargas, além dos danos causados pela natureza, como enchentes, alagamentos, interrupção de estradas por queda de barreiras, a conclusão a que se chega é de que há evidências de elevação da frequência de sinistros para mercadorias perecíveis.

Ao mesmo tempo, ocorre um aumento dos preços das principais commodities no mercado mundial. Qual o efeito desse encarecimento em termos de arrecadação e de sinistralidade?
A arrecadação, naturalmente, sente os reflexos da elevação dos preços das commodities, até porque faz parte da equação utilizada para o cálculo do prêmio de seguros de carga. Em relação à sinistralidade, entendo que esta acompanha os números do mercado de transportes, mas o mais preocupa é o aumento da produção e, consequentemente, aumento do volume de viagens, combinado com a própria ineficiência da matriz de transportes já comentada.

Considerando-se este quadro mais complexo da economia este ano, incluindo aí a desaceleração do PIB, como devem se comportar o faturamento das seguradoras que operam no ramo de transportes neste ano? Vai crescer ou não?
O que tenho observado é uma aposta nos projetos de infraestrutura divulgados pelo Governo para os próximos anos. E isso já se reflete na produção e impacta positivamente nos seguros de importação e no doméstico. Porém, a desaleceração da produção brasileira reflete na movimentação de cargas e, consequentemente, reflete no setor de seguros, o que poderá provocar uma mudança nos critérios de subscrição, motivado pela queda da massa de prêmios, e manutenção do coeficiente sinistro prêmio, que continua elevado. Ou seja, as taxas de prêmios podem subir para equilibrar a equação de seguros.

Em relação à sinistralidade? No ano passado estava em queda. Este comportamento pode se repetir em 2011, considerando-se aí o aumento das catástrofes, acidentes e roubos nas estradas?
O que verifiquei é que a sinistralidade continua elevada, seja no seguro de transporte nacional, seja no seguro do transportador. Ou seja, a operação mencionada, quando somamos os demais elementos que norteiam a carteira de transportes (comissão, despesas e tributos), acaba trazendo um resultado negativo para as seguradoras.

O setor de Transporte Internacional ainda tem um racional positivo, e os subscritores devem tomar muito cuidado para que a concorrência não seja predatória o suficiente para banalizar a carteira. Vivemos agora um mercado livre e os próprios contratos de resseguros são lastreados na estratégia da seguradora em subscrever riscos e resultado esperado na operação.Ou seja, se der prejuízo, as seguradoras serão punidas na renovação dos seus contratos e, naturalmente, haverá impactado nos processos de subscrição e, consequentemente, no preço do seguro.

Que armas o mercado utiliza para buscar resultado operacional?
Quando se pensa em seguro de transportes, não tem como deixar de incluir a gestão de risco. Ou seja, além de uma boa precificação, o gerenciamento de riscos tem um papel importante e a ideia é buscar a equação ideal para administrar os riscos e, ao mesmo tempo, não engessar a operação do seguro.

Gerenciamento de riscos vai muito além do que desenvolver projetos para cargas visadas para roubo. Ou seja, as novas técnicas de logísticas aplicadas para otimizar o escoamento das cargas certamente acabam impactando na exposição de riscos. Neste ponto, é que entra a gestão de riscos para evitar surpresas não consideradas na subscrição e precificação do risco.

Em janeiro, a receita do ramo de Transportes subiu 9%, muito abaixo da taxa apresentada em janeiro de 2010, que fora de 25%. Olhando tais números, pode-se dizer que há uma forte desaceleração das vendas de seguros. Ou, na verdade, este número atual é mais próximo do razoável do que os 25% do ano passado, tendo em vista que, naquela altura, a base de comparação tinha uma base enfraquecida pelos impactos ainda crise mundial agravada no último trimestre de 2008?
Acho que o maior impacto está na forte concorrência, com novos entrantes no mercado de transportes e estratégias de ganhos de mercado desenvolvidas por seguradoras ou por corretores.

A propósito, quais fatores podem favorecer o desempenho do ramo e quais podem, de certo modo, frustrar a expectativa de crescimento este ano?
Desaceleração da economia é um dos principais fatores e reflete-se naturalmente na carteira, Também a prática de taxas baixas, como forma de aumentar a penetração no mercado, é o importante vilão no setor de Transportes. Todas as entidades clamam por redução de custos e é claro o mercado de seguros busca atender tal pedido. Considerando-se o cenário atual, ou seja, ineficiência logística de modo geral, qualidade das estradas, falta de motoristas, concorrência predatória, o que acaba impactando o resultado da carteira de transportes, ainda existem gloriosos mágicos que, pela sua própria pressão de mostrar resultado para suas casas matrizes, acabam reduzindo ainda mais o preço do seguro para um risco que não reduziu a exposição. A curto prazo, parece um ótimo negócio, mas, na linha do tempo, já ficou provado que não é assim que funciona...

Fonte: Portal Viver Seguro