A receita para mitigar os efeitos da crise

Ciente do difícil quadro econômico, o novo presidente da CNseg, Marcio Coriolano, está convencido de que o mercado terá de trabalhar redobrado para mitigar os efeitos da atual crise e precisa, desde já, ter um olhar ao norte, preparando-se para potencializar os negócios quando da retomada do crescimento.

Um conjunto de ações, desde aquelas em prol da integração dos pares do setor, ao lado da maior aproximação das autoridades do mercado e dos Três Poderes, é importante na construção da maior solidez do setor.

Some-se ainda a inovação de produtos e serviços para atender às novas necessidades dos consumidores e a educação financeira, ou, melhor dizendo, “educação para o seguro”.

O debate sobre a ampliação dos canais de distribuição de produtos, especialmente os massificados, é outro passo apontado por Coriolano para que ocorra o aumento da taxa penetração do seguro no mercado brasileiro. Mas ele assinala que o corretor continua a ser o mais importante canal de distribuição. O mercado segurador, que fechou com crescimento nominal de 11%, deverá manter a expansão na casa de dois dígitos também em 2016, apesar do cenário mais adverso.

Leia a íntegra da entrevista concedida pelo presidente Marcio Coriolano ao Portal da CNseg

1 - Qual o provável desempenho do mercado segurador em um cenário tão pouco alentador?

Para 2016, espera-se crescer nominalmente um pouco mais de 10%, o que, com uma inflação prevista pelo boletim Focus de aproximadamente 7%, significa um crescimento real da ordem de 3%, demonstrando que, mesmo em um cenário de crise, o mercado deverá ainda crescer em termos reais- ainda que pouco, comparando-se com anos anteriores- em 2012, por exemplo, este valor chegou a quase 12% em termos reais, ou seja, descontada a inflação. Mas, estamos falando de um crescimento médio, em um setor com diversos ramos de negócios com dinâmicas próprias. Por exemplo, essa estimativa média para 2016 é altamente impactada pelo que ocorreu em 2015, sendo Saúde e a Família VGBL seus principais vetores – onde a arrecadação do primeiro segue o crescimento das despesas assistenciais, assumindo-se que a população beneficiária observará alguma redução, e o segundo demonstra a tendência de preocupação de segurança/poupança da sociedade em um momento de instabilidade econômica e volatilidade do valor dos ativos financeiro. Apesar da previsão, para 2016, de um crescimento nominal menor que o de 2015, o crescimento real poderá ser maior. Isto se dá principalmente pelas estimativas de inflação inferior do que a observada em 2015, de dois dígitos. Pode-se dizer que as projeções de crescimento do mercado segurador ainda estão sendo conservadoras para 2016, pois, além da perspectiva de manutenção de crescimento para Saúde e VGBL, os ramos de maior crescimento estimado são aqueles que tiveram bom desempenho em 2015, além de alguns ramos menores, incluídos em Ramos Elementares - Habitacional, Crédito e Garantia, Responsabilidade Civil, Rural - e em Cobertura de Pessoas - Seguros Individuais e Família PGBL. Resumindo, o comportamento observado em 2015 e que se espera para 2016 explica a prioridade da sociedade em tempos de crise: preocupar-se em garantir acesso à saúde e previdência/precaução financeira, a privilegiar títulos de capitalização e a proteção do valor de bens de patrimônio e bens duráveis (ramos elementares).

2 - Faça um balanço de 2015 e explique por que o mercado teve uma desaceleração. Quais os segmentos que mais afetados pela retração econômica

Diante dos vetores que indicam e confirmam o momento de recessão pelo qual passa o nosso País, é fato que ramos de nosso mercado passaram a sentir os impactos diretos do ambiente macroeconômico (exemplo: seguro de Automóvel, seguro de Garantia Estendida, seguro Prestamista – ligados diretamente ao ritmo da produção e à disponibilidade e preço do crédito – e o seguro Garantia, como consequência da desaceleração dos investimentos do Governo em obras de infraestrutura). Esse quadro começou a ser apresentado em 2015, mas, felizmente, o mercado conseguiu chegar ao final de 2015 com um crescimento nominal de dois dígitos (11%).

3 - Em razão do quadro econômico - que pode só começar a se recuperar em 2018 - haverá algum impacto no perfil das ações a serem conduzidas por sua gestão?

A realidade que se apresenta nos indica que é tempo de trabalhar ainda mais fortemente com o objetivo de mitigar os efeitos da crise. Nesse sentido, fortaleceremos as ações em prol da integração dos agentes que atuam do setor, estaremos mais próximos das autoridades do mercado e dos Três Poderes, e, sobretudo, estaremos cada vez mais voltados para a inovação em produtos e serviços para atender às novas necessidades dos consumidores. Seguindo essa trilha, as ações voltadas para a educação financeira, ou, melhor dizendo, “educação para o seguro”, em parceria com órgãos de Governo e outras entidades do mercado, ganharão cada vez mais força no cotidiano de nossas operações.

4 - Quais são os temas prioritários que, no plano regulatório, precisarão de um desfecho favorável para o crescimento contínuo do mercado? Quais os novos produtos que poderão ser lançados a partir de um novo marco regulatório? • Ajuste do capital das empresas reguladas pela Susep; • Vendas por meios remotos; • Revisão da carga tributária do setor; • Banco de Dados de Despesas Operacionais do setor (BDDO) • PrevSaúde; • Seguro “Universal Life” • Seguro Popular de Automóvel

5 - Além do aumento do desemprego, há o risco de decréscimo da renda per capita. Este fato, em si, pode ser uma pedra no caminho para alcançar aqueles milhões de brasileiros que ainda não têm nenhum seguro e formam o chamado mercado potencial do setor?

A queda na renda certamente será um desafio maior em relação a novos entrantes. Do lado do setor de seguros, teremos que atuar cada vez mais na otimização de processos, na simplificação de exigências regulatórias e no incentivo à inovação para a oferta de novos produtos e coberturas adequadas às novas demandas da sociedade brasileira.

6 - A estabilidade econômica e o aumento da renda são duas premissas importantes para a expansão do mercado de pessoas e de previdência. Os novos produtos, como o VGBL Saúde e o Universal Life, podem contribuir para novos entrantes no mercado de pessoas?

Certamente. O VBGL Saúde, por exemplo, é um produto importante, que beneficiará os brasileiros porque os gastos com saúde após a aposentadoria crescem exponencialmente. Este produto será destinado a custear despesas médicas na aposentadoria. As pessoas vivem mais e estão mais preocupadas com a saúde. Por esta razão, este produto trará novas oportunidades, ao servir como uma poupança que cobrirá os gastos com a saúde na terceira idade. Com o envelhecimento da população brasileira, há o importante papel social exercido pelas seguradoras, que se destacam nessa indispensável rede de proteção para a população, principalmente na terceira idade. A proposta do PrevSaúde traz outro grande benefício, que será estimular empresas a oferecer a versão patrocinada deste produto aos funcionários. Vai permitir às empresas montarem programas previdenciários mais efetivos, de acordo com a faixa de renda dos empregados, oferecendo o PGBL para funcionários com renda mais alta e VGBL para pessoas que ganham menos e usam a declaração simplificada. Já o produto Universal Life combina proteção com acumulação e, pela atratividade, impulsionará o mercado. Os brasileiros já estão começando a identificar melhor quais são as suas necessidades e adquirindo o seguro mais adequado às suas necessidades. No Universal Life, parte do prêmio que o cidadão paga no início do seu ciclo de vida é destinada a cobrir o risco e parte é acumulada na forma de investimento de longo prazo, de tal forma que se ele parar de pagar a parte capitalizada será devolvida. Mas se pagar ao longo da vida inteira, terá uma poupança para a velhice.

7 - A educação financeira está entre as ações mais importantes citadas pelo mercado para melhorar a azeitar a relação com o consumidor de seguros e motivá-lo a efetuar compras mais conscientes. O senhor está de acordo com este prognóstico e planeja adotar novas ações nessa área?

O mercado de seguros esteve sempre em evolução nos últimos anos e o objetivo do Conselho Diretor da CNseg é que ele continue em evidência. Por outro lado, para garantir a sustentabilidade do seguro, é preciso que os segurados e cidadãos em geral conheçam e reconheçam o papel da proteção, do mutualismo, da prevenção contra riscos. Portanto, é necessário dar um salto dessa ação, da educação financeira para a educação para o seguro. Acredito que os órgãos de representação têm importante papel a desempenhar na educação para o seguro, como forma de contribuir para mitigar os riscos a que todos estamos expostos, tanto os que envolvem os bens patrimoniais como os dois mais importantes bens: a vida e a saúde. Ampliar o entendimento em relação ao que se entende como educação financeira.

9 - A judicialização é outro problema recorrente da indústria de seguros, notadamente na Saúde Suplementar. O que fazer para que os contratos sejam respeitados e melhor entendidos pela Justiça, consumidores e órgão de defesa do consumidor?

A redução de reclamações por parte dos consumidores é prioridade da gestão da CNseg e das suas Federações. Não por acaso, as empresas afiliadas investem continuamente nos canais de comunicação com a sociedade e de atendimento aos beneficiários de seguros e planos. Essa atenção inclui a modernização dos SACs e das Ouvidorias, com o objetivo de oferecer respostas cada vez mais ágeis, sempre respeitando os prazos estabelecidos em lei. Também são realizadas ações permanentes com os órgãos de defesa do consumidor e a própria Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), além dos Procons estaduais, por meio da formação de Grupos de Trabalho, organização de seminários, colóquios e produção de conteúdo explicativo como cartilhas, folders, vídeos e outras ações que visam o combate à desinformação a respeito dos produtos do setor. Adicionalmente, menciono o trabalho realizado pela CNseg e as Federações à frente da Comissão Brasileira de Mediação e Arbitragem (CMBA). Independente desses programas e ações, é preciso alertar permanentemente a sociedade, e o Poder Judiciário, de que a judicialização leva à elitização. Quando algum segurado, ou grupo, pelo seu melhor acesso a advogados ou à Justiça, obtém coberturas não garantidas em contrato, outras pessoas deixam de tê-las, encarecendo o seguro e restringindo acesso a outros.

10 - As inovações tecnológicas podem ser um importante aliado ou uma pedra no caminho do mercado, dependendo das escolhas feitas. Como a CNseg orientará o mercado em um quadro de mudanças repentinas de tecnologias?

A CNseg tem o papel institucional de fomentar o debate com os agentes do mercado, trazendo informações de qualidade com perspectivas de curto, médio e longo prazos, a exemplo do trabalho que é realizado com a comissão de Processos e Tecnologia. Nesse sentido, debatemos como as empresas devem utilizar a tecnologia em benefício do negócio e de que forma as seguradoras devem se preparar para os novos desafios que se apresentam. Nesse sentido, é importante destacar que essas questões devem ser constantemente debatidas com o órgão regulador, já que devemos levar em consideração a importância da atualização da regulação para atender às demandas trazidas pelos novos tempos.

11 - O que o senhor espera das comissões temáticas da CNseg na assessoria de sua gestão?

As comissões temáticas da CNseg são e continuarão sendo o mais importante fórum de formação do conhecimento e de discussão sobre as questões técnicas e regulatórias do mercado segurador, nos quais os integrantes – indicados pelas Federações associadas e pela própria Confederação – trocam experiências, debatem ideias e propõem ações sempre em prol do desenvolvimento de um mercado cada vez mais eficiente, ágil e eficaz. Não poderia ser diferente, porque igualmente, na FenaSaúde, onde fui presidente durante os seis últimos anos, as comissões temáticas são o lugar por excelência dos debates e contribuições para a regulação e para o desempenho das associadas. A produção das comissões de saúde pode ser considerada frenética, em grande parte pelas maiores exigências regulatórias da ANS.

12 - Nos últimos anos, o marco regulatório, acompanhando o programa Solvência II, exige crescentes aportes dos acionistas para aumentar a solidez da atividade. Estes aportes são suportáveis e podem contribuir mesmo para reduzir o número de seguradoras, sobretudo pequenas e médias, presentes no mercado?

O Solvência II é um modelo de capital que está baseado no risco que a entidade está exposta no curso normal de suas operações. É, sem dúvida, um grande avanço e há que se aplaudir o esforço do regulador brasileiro em desenvolver um modelo de capital baseado nessa metodologia. É importante ressaltar, entretanto, dois aspectos: primeiro, o modelo não aborda apenas questões relacionadas ao nível de capital das empresas. Aspecto até talvez mais importante que esse é a relevância que se dá à gestão de risco, ao controle das operações, ao comprometimento e conhecimento que é exigido da alta gestão com relação a essas atividades. Isso não se traduz em aumento de necessidade de capital, mas exigirá grandes investimentos das entidades com contratação, treinamento e qualificação de pessoal, desenvolvimento de sistemas e revisão de processos. Futuramente, isso tudo poderá se traduzir em uma maior eficiência em todo o processo de gestão da empresa, reduzindo o risco de que o cenário apresentado pela sua pergunta ocorra. O segundo, na minha opinião, é o grande desafio que se apresenta ao setor e que, se bem-entendido e aplicado, também contribuirá para que não se observe o aumento da concentração do mercado é a adoção do “princípio da proporcionalidade”. Esse princípio, de forma simplificada, diz que o regime de solvência não deve ser demasiadamente oneroso para pequenas e médias empresas e se aplica tanto aos requisitos impostos às companhias de seguros, como ao processo de supervisão. Infelizmente, a adoção desse princípio não está evidente em nosso arcabouço regulatório e no processo de supervisão, apesar dos esforços da Susep nessa direção. Entendo, entretanto, que será uma evolução natural de um processo que está apenas começando. A observância do princípio da proporcionalidade será tão ou mais importante quando toda essa discussão sobre modelo de solvência se der no âmbito da ANS, visto a grande diversidade de operadoras que operam no setor de Saúde Suplementar.

13 - No caso da distribuição de seguros, está claro que, além do corretor, outros canais terão de ser estimulados para o crescimento do setor. A área de massificados, por exemplo, é a que pode dispor de novos mecanismos de abordagem, como vendas diretas ou por meios remotos?

Sim. É importante destacar que a ampliação dos canais de distribuição de produtos, especialmente os massificados, é fundamental para que possamos expandir a penetração do seguro no mercado brasileiro. Em relação ao corretor, nosso mais importante canal, gostaria de ressaltar que mesmo a contratação por meios remotos pode se dar também com a participação deste profissional.

Fonte: CNseg

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