Afastamento do trabalho por saúde mental cresce 38%; como empresas podem evitar
Os transtornos mentais estão entre as principais causas de afastamento do trabalho no Brasil. Um levantamento do Ministério da Previdência Social mostrou que, em 2023, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) concedeu 288.865 benefícios por incapacidade devido à disfunção da atividade cerebral e comportamental. O número é 38% maior do que em 2022 (209.124).
Segundo o INSS, os dados abrangem os benefícios por incapacidade temporária — antigo auxílio-doença, que é concedido a pessoas que estão temporariamente incapacitadas para o trabalho em razão de doença mental — e os por incapacidade permanente — antiga aposentadoria por invalidez, concedido a pessoas permanentemente incapacitadas para o trabalho por causa de doença mental.
A partir deste ano, a Lei 14.556, de 2023, oficializou o Janeiro Branco, instituindo campanhas para conscientização sobre saúde mental, com foco especial na prevenção à dependência química e ao suicídio. As ações deverão abordar a promoção de hábitos e ambientes saudáveis e a prevenção de doenças psiquiátricas.
A especialista em inteligência emocional e mentora em saúde mental, Paula Roosch, diz que “as empresas precisam, mais do que nunca, entender a influência e proporção destes índices nacionais alarmantes, para ter ações mais assertivas e uma comunicação voltada para as principais dores de seus colaboradores," destaca em uma publicação no LinkedIn.
Conforme Roosch, as organizações precisam avaliar os motivos de falta, de insatisfação e de queda de produtividade dos funcionários. “Ao medir esses ganhos, os gestores podem se perguntar: o meu colaborador está ficando mentalmente mais saudável? O que posso fazer para garantir um ambiente psicologicamente mais seguro? Reflexões como essas, são investimentos na produtividade e na marca da empresa.”
Criando ambientes de trabalho mais saudáveis
Para promover ações efetivas nas organizações e combater problemas de afastamento em virtude de transtornos mentais, Ana Tomazelli, psicanalista e CEO do Instituto de Pesquisas & Estudos do Feminino e das Existências Múltiplas (Ipefem) dá cinco dicas. Confira:
1. Promova um espaço seguro para o diálogo
Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino (Ipefem), com mais de 200 participantes, mostra que apenas 37% dos profissionais se sentem totalmente seguros para discordarem da sua liderança no ambiente de trabalho.
Já 63% manifestaram alguma ressalva ou receio de se posicionar quando discordam da liderança. “Esses números refletem a insegurança psicológica dos ambientes corporativos, considerando que a segurança psicológica não deveria ser algo negociável”, diz Ana Tomazelli.
2. Estabeleça um ambiente seguro e saudável
A Organização Mundial da Saúde aponta que ambientes de trabalho seguros e saudáveis são um direito fundamental para todos. Quando acolhem seus trabalhadores, as companhias são mais propensas a melhorar o desempenho e a produtividade, além de minimizar tensões e conflitos internos que podem impactar na saúde mental.
3. Incentive ações que combatam o assédio
O assédio físico, psicológico ou moral no trabalho viola os direitos humanos e prejudica a saúde mental e física. É obrigação da empresa detectar e buscar soluções para esse tipo de questão, combatendo atitudes de lideranças que cometem assédio, colegas que praticam bullying, cultura empresarial de performance com metas duras e inflexíveis, entre outros pontos.
4. Valorize a diversidade
Os processos seletivos devem levar a diversidade em consideração, bem como na contratação e na retenção dos talentos. A partir do momento que o quadro é mais diverso, é preciso também garantir o bem-estar dos colaboradores, sensibilizando lideranças e equipes para o combate a vieses inconscientes.
5. Melhore a qualidade de vida dos funcionários
Cada vez mais, os colaboradores buscam muito mais do que apenas bons salários, e querem estar em uma empresa alinhada aos seus ideais, que disponibilizem um ambiente propício ao seu desenvolvimento, a novos aprendizados e que seja aberto ao diálogo.
Seja no trabalho presencial ou remoto, a empresa deve se preocupar com o funcionário e promover sua satisfação, oferecendo condições adequadas de trabalho e equipamentos necessários – o que acarreta aumento da produtividade também.
As lideranças precisam pensar em ações voltadas à saúde mental dos seus colaboradores durante todo o ano, e não somente em datas específicas. Cada colaborador é único e precisa ser tratado de acordo com as suas experiências de vida e individualidade.
Fonte: Nubya Oliveira | O Tempo