Crise traz enormes desafios para seguradoras dos EUA

A crise financeira trouxe sérios desafios para as seguradoras de vida nos Estados Unidos. "Eu diria oportunidades. É um momento interessante de buscar soluções para ofertar produtos inovadores nos Estados Unidos, uma indústria consolidada. Bem como para as empresas desbravarem novos mercados, como o Brasil, um país potencial para o segmento vida", disse David O`Brien. vice-presidente sênior de Desenvolvimento de Negócios Internacionais da Transamérica Reinsurance. David O`Brien é o responsável por desenhar produtos para a resseguradora em todo o mundo. Esteve ontem em São Paulo, onde proferiu palestra feita no dia anterior no Rio de Janeiro. Hoje está a caminho da Ásia para colher dados e também detalhar aos executivos orientais os impactos da crise financeira mundial nas seguradoras de vida, tendo como base as palestras realizadas Brasil com apoio da CNSeg e da Fenaprevi. O executivo espera um forte endurecimento na regulamentação por parte dos órgãos reguladores financeiros, nos quais as seguradoras se inserem. Porém, acredita que a indústria de seguros, mesmo com a seriedade do caso da AIG, está em segundo plano nas prioridades do governo dos Estados Unidos. Seria necessário um esforço conjunto e tempo para agrupar a regulamentação em uma lei federal, uma vez que o setor segue regras estaduais. Para ele, é uma tendência que todas as seguradoras do mundo sigam as regras estabelecidas no programa de regulação europeu, conhecido como Solvência II, previsto para ter uma primeira versão nas próximas semanas, já com adaptações geradas pela crise. Segundo informações da Associação Britânica das Seguradoras (ABI), membros da comissão de finanças da Europa trabalham 11 horas por dias juntos, em portas fechadas, para adiantar a regulamentação que deverá ser anunciada nos próximos dias. Brien informou que o desemprego nos Estados Unidos ainda não reduziu as vendas de seguros de vida ou elevou de forma significativa o volume de saques nos seguros de acumulação de recursos. "As vendas permanecem estáveis e muitos segurados preferem manter o produto, uma vez que há penalidades caso encerrem a apólice antes do prazo estipulado", disse. Entre as penalidades está a perda de garantia da rentabilidade prometida. Um argumento e tanto ao consumidor americano, que convive com as mais baixas taxas de juros dos últimos anos. Porém, Brien acredita que é inevitável que a indústria de seguros de vida dos EUA continue mantendo as vendas diante de um quadro econômico recessivo. "O desemprego deverá forçar mais saques no futuro", pondera. Para ele, as vendas novas são um grande desafio da indústria. Para manter as vendas de seguros conhecidos como annuities, seja variable (com rentabilidade variável) ou fixed (fixa), as seguradoras precisam se manter solventes para não perder ranting. "Os corretores não recomendam aos clientes companhias com rating abaixo de um nível razoável de segurança", diz. Para manter as classificações das agências, as seguradoras precisam ter um balanço sólido, com lucratividade, o que não se observou em 2008 e também não é previsto para 2009. Uma forma de compensar as perdas financeiras que tiveram com a desvalorização de ativos durante o período mais agudo da crise é aumentar as vendas, que também ajuda a manter a estrutura de custo fixo. Este cenário torna a competição mais acirrada ainda, pois as seguradoras que só operavam com seguros de vida com reservas aplicadas em renda variável estão migrando para os produtos de renda fixa. "Os consumidores estão avessos a riscos diante das perdas dos últimos meses. Como ainda não se tem um cenário claro da solvência dos bancos e das empresas, aplicar em ações se torna um investimento de alto risco", explica. Este cenário difícil poderá estimular as vendas de resseguro de vida, bem como fusões e aquisições. De 2000 até meados do ano passado, as seguradoras optaram por buscar recursos via mercado acionário para se capitalizarem. Até então a opção era a compra de resseguro para proteger a carteira e desafogar o capital das garantias das normas de solvência. "Como o cenário não é apropriado para emissões em razão dos elevados spreads, a demanda por resseguro tem aumentado", disse. A Transamérica Re é especializada em vida e instalou-se no Brasil como resseguradora admitida. "O Brasil é um país de grande potencial em vida. Um mercado que está apenas começando. Temos muitos produtos, tecnologias e processos para ajudar que este mercado cresça aqui." Fonte: Fenaseg